Com liderança do arroz, pressão dos agrícolas aumenta no campo
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Setembro está sendo um período de recuperação de preços para vários produtos.
Após uma boa ajuda para a redução da taxa de inflação nos meses recentes, parte dos alimentos deve diminuir o incentivo favorável a partir de agora.
A taxa média de queda da alimentação no índice inflacionário, que era de 1,4% no início de agosto, deverá terminar este mês em 0,7%, conforme os dados provisórios da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O novo ritmo dos preços no varejo vai se adaptar à nova realidade do campo, onde parte dos produtos voltou a subir. A alta, no entanto, não terá a intensidade verificada nos anos recentes, quando pandemia e demanda intensa levaram os produtos agrícolas a valores recordes.
O arroz é um dos principais itens de pressão no campo, o que já começa a refletir também no bolso do consumidor. Neste mês, o preço médio da saca do cereal em casca é de R$ 101 no Rio Grande do Sul, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O valor atual no campo supera em 32% o de setembro do ano passado. Com isso, os preços de entressafra, que normalmente ocorrem em dezembro, começam a ser antecipados.
Não há sinais de refresco. Internamente, a produção vinha caindo ano a ano. Neste ano se espera um aumento do volume, mas o excesso de umidade no solo poderá afetar o plantio no Rio Grande do Sul.
Externamente, vários dos principais produtores mundiais foram afetados por efeitos climáticos, o que reduziu a produção. Além disso, grandes exportadores, como a Índia, colocaram barreiras em suas exportações.
O reflexo disso foi uma elevação dos preços internacionais, favorecendo as exportações brasileiras e trazendo para o território nacional o patamar externo de preços. Após um aumento de 0,38% em agosto, a Fipe já registra alta próxima de 3% em setembro no cereal para os consumidores.
No setor de proteínas, a arroba de boi gordo, que recuou para patamar inferior a R$ 200 no início deste mês, termina o período em R$ 230. Mesmo assim, os preços médios atuais são 31% inferiores aos de há um ano.
A carne de frango congelada está em R$ 7 por kg na Grande São Paulo, 13% abaixo dos valores de setembro de 2022. O valor atual, no entanto, mostra uma recuperação e já supera em 19% o de julho.
O preço da carne suína nas granjas é o mesmo de há um ano. As exportações dos últimos meses, contudo, deram novo fôlego à proteína, que mostra alta de 15% em três meses.
Dois itens básicos do café da manhã, o leite e o café, ainda estão em queda no campo, o que favorece o consumidor. A saca de café arábica termina setembro com recuo de 37%, em relação a igual período do ano passado.
A safra deste ano foi boa e uma alteração brusca nos preços só viria com sérios problemas climáticos na safra brasileira. A produção de leite segue padrões diferentes neste ano, com aumento de oferta em plena entressafra. Os preços médios atuais são 16% inferiores aos de há um ano.
Dois dos principais itens da produção brasileira de grãos, milho e soja, não têm muito espaço para altas nos próximos meses. O cereal está com valor 36% inferior ao de há um ano; a soja, com queda de 24%. A calmaria nos preços do milho se deve às safras recordes no Brasil e nos Estados Unidos, dois dos principais exportadores mundiais.
A produção de soja em 2024 vai depender do clima durante o plantio e do desenrolar da safra nos próximos meses. Por ora, as estimativas são de uma nova produção recorde no Brasil, em 2024, e de uma recomposição da produção da Argentina (Folha, 29/8/23)