Com negócios travados, setor de insumos agrícolas busca alternativas
As incertezas quanto aos custos com fretes preocupam produtores e distribuidores de insumos agrícolas no país, que manifestaram nesta segunda-feira receios em relação às tradicionais operações de trocas (barter) e já buscam soluções diversas para driblar a logística mais cara.
A gigante Syngenta, uma das líderes do setor de sementes e agroquímicos no Brasil, vê a paralisia nas vendas antecipadas de grãos, com o tabelamento dos fretes rodoviários, como um empecilho à entrega de insumos necessários ao cultivo da temporada 2018/19.
“O principal impacto é que travou a comercialização, não tem preço, não tem negociação de barter. Isso nos preocupa bastante”, afirmou à Reuters o diretor regional de América Latina da Syngenta, Valdemar Fischer, referindo-se às operações de trocas de insumos por produtos agrícolas, nas quais agricultores fixam vendas de parte de sua produção futura.
Conforme ele, para a soja, cujo plantio se inicia no próximo mês, a situação é mais confortável, já que produtores fizeram boa parte das negociações antes de maio, quando estouraram os protestos de caminhoneiros que resultaram posteriormente no tabelamento de fretes, criticado hoje por encarecer custos e dificultar o fechamento de vendas referentes à nova safra.
“(Mas) para a safrinha (de milho), não tem nada ainda. Já era para ter semente comercializada”, destacou Fischer, no intervalo de evento promovido pela Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), em São Paulo.
Sem referências de preços de frete, os agricultores não estão comercializando antecipadamente, o que impede a negociação via barter com companhias de agroquímicos, sementes e fertilizantes.
Fischer disse crer em uma solução para o impasse dos fretes ainda em agosto, tendo em vista que o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), buscará um consenso entre as partes envolvidas.
ADAPTAÇÃO
O encarecimento dos fretes levou os produtores e distribuidores de insumos a se adaptarem para garantir o funcionamento da atividade no Brasil. Assim, embora não se vislumbre falta de produtos, espera-se um custo maior.
O coordenador técnico da Multitécnica, empresa de Minas Gerais que deve faturar cerca de 350 milhões de reais neste ano com fertilizantes e matéria-primas para misturadoras, Marcos Dias, disse que a companhia precisou montar uma equipe própria para cuidar da logística.
“Ainda estamos nos adaptando às condições”, afirmou ele no intervalo do evento da Andav, sem revelar quanto foi gasto com esse time, mas frisando que o planejamento tem sido semanal, e não mais de longo prazo, dadas as incertezas quanto aos fretes.
Na mesma linha, o gerente de Marketing para região Norte da Helm do Brasil, Márcio Cassinelli, comentou que a empresa está se estruturando frente à nova realidade de fretes, inclusive com contratação de pessoal “especializado”.
“Qualquer diferençazinha (no frete) faz um impacto muito grande”, disse. A Helm é uma empresa de origem alemã que atua no desenvolvimento e comercialização de fertilizantes e agroquímicos.
Já Junior Salvalagio, diretor comercial da SuperBAC, que conta com uma fábrica de fertilizantes para diversas culturas no Paraná, disse que a empresa contratou uma plataforma online de fretes.
“Já tínhamos a intenção de contratar (a plataforma), mas se fortaleceu com o tabelamento (de fretes)”, explicou. A SuperBAC, que tem atuação no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, deve faturar algo entre 300 milhões e 500 milhões de reais neste ano, disse Salvalagio.
GLIFOSATO
Autoridades e porta-vozes de empresas ouvidos pela Reuters no evento da Andav foram unânimes em dizer que a decisão judicial contrária ao glifosato, um importante herbicida usado no país, tende a cair.
A recente determinação da Justiça ocorre às vésperas do plantio da soja. Produtores dizem que o herbicida é fundamental para ganho de produtividade.
“É um insumo primordial... Esperamos que (a decisão) seja revertida rapidamente”, afirmou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz, também no intervalo do evento da Andav.
“Não conseguimos fazer produção em larga escala sem o glifosato”, acrescentou o presidente do conselho da Andav, Antonio Henrique Lima (Reuters, 13/8/18)