Com preço recorde, 71% da venda de arroz fica abaixo do custo de produção
legenda Elaine Granconato/Folhapress
Neste ano, a saca do cereal atingiu preços recordes e chegou a ser comercializada com alta de 120% no campo
Produtor aproveita pouco valorização do grão, pois maior parte foi comercializada antes do aumento do preço.
A saca de arroz continua com preços elevados e está sendo negociada, em média, a R$ 103 neste mês no Rio Grande do Sul, de acordo com pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Neste ano, a saca do cereal atingiu preços recordes e chegou a ser comercializada com alta de 120% no campo, em relação aos valores do fim de 2019.
O produtor, no entanto, aproveitou pouco dessa alta. Conforme dados da CDO (Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura), 29% das vendas realizadas entre janeiro e agosto ocorreram no primeiro trimestre, quando o valor da saca estava inferior a R$ 50.
No segundo trimestre, a movimentação dos negócios foi maior, atingindo 42% do volume total deste ano, a um preço médio de R$ 59 por saca.
A CDO, uma taxa obrigatória paga no beneficiamento do arroz gaúcho destinado aos mercados interno e externo, é uma radiografia da comercialização da safra gaúcha de arroz.
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Só em julho e agosto os produtores tiveram uma média melhor de remuneração, com a saca atingindo R$ 72.
Nesses dois meses, foram feitas 29% das negociações do total de janeiro e agosto. O preço do arroz ganhou força mesmo a partir da segunda quinzena do mês passado.
Conforme os dados de negociação da CDO, 71% das negociações foram feitas com valores de até R$ 62 por saca. Quem fez vendas antecipadas para pagar custos não se beneficiou da recente alta.
Conforme dados do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), os custos de produção na safra 2019/20 atingiram R$ 64,70 por saca.
Acompanhamento do setor pelo Cepea e pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostrou que a atividade teve prejuízo nas cinco safras de 2014/15 a 2018/19. Os piores momentos ocorreram em 2017/18 e 2018/19.
Em 2018, o setor foi afetado pelos baixos preços internos. Em 2019, os problemas vieram dos efeitos climáticos. Já nesta safra de 2019/20, o produtor deverá obter lucratividade de R$ 1.533 por hectare, de acordo com o Cepea.
Os que anteciparam as vendas neste ano para ajustar as contas —exatamente os com maiores dificuldades financeiras— receberam valores menores pelo produto.
Pelos dados da CDO, foram comercializadas 6 milhões de toneladas de janeiro a agosto. O forte da colheita ocorre de março a abril, quando o país apanha 97% do arroz semeado.
O preço do feijão carioca teve uma retração de 5,85% em agosto, na comparação com julho, o feijão preto também recuou no mês, em 0,45%. No acumulado de 2020, porém, ambos os preços seguem em alta de 12,1% e 28,9%, respectivamente Douglas Cometti/Folhapress
Os detentores do restante da safra, ainda não comercializada e que está nas mãos dos produtores com maior poder de negociação, vão obter preços recordes do produto.
O Rio Grande do Sul produz 70% do arroz brasileiro, e neste ano a safra ficou próxima de 8 milhões de toneladas.
O movimento da balança comercial perdeu força neste mês. As exportações de arroz em casca caíram para 32 mil toneladas, 53% menos do que no mesmo mês de 2019.
Já as importações somaram 27 mil toneladas na primeira quinzena deste mês. O cereal foi adquirido no exterior por US$ 402 por tonelada, em média. Com a retirada da tarifa de importação, as compras externas devem aumentar nas próximas semanas.
O preço do arroz ganhou força devido ao aumento da demanda interna e externa. As vendas externas somaram 1,47 milhão de toneladas até agosto, com as importações atingindo apenas 571 mil toneladas (Folha de S.Paulo, 15/9/20)