22/04/2024

Como funciona a captura e armazenamento de carbono

Como funciona a captura e armazenamento de carbono

A tecnologia para remover o CO2 da atmosfera surgiu nos anos 1970. Foto Patrick Pleul dpa picture alliance

 

Por Martin Kuebler

As emissões de CO2 são as grandes vilãs do aquecimento global. Remover esse gás do meio ambiente é possível, mas, além de não ser nada rápido e nem batato, esse processo também está sofrendo com a interferência humana.

dióxido de carbono(CO2) é um composto natural e importante da atmosfera do planeta Terra. Mas o atual nível de concentração de 422 ppm (partes por milhão) revela um aumento de 50% da presença do gás desde o início da Revolução Industrial, há mais 200 anos.

Desde então, a atividade humana – e principalmente a queima de combustíveis fósseis – elevou este gás a níveis perigosos, enquanto pouco foi feito para reduzir essas emissões.

À medida que o dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa se acumulam na atmosfera, eles atuam como um cobertor, que impede que a energia solar irradie de volta para o espaço à noite, aquecendo, assim, o planeta.

O que é a captura e armazenamento de carbono?

O dióxido de carbono é naturalmente removido da atmosfera pelas florestas e outras plantas. Os oceanos e o solo também absorvem CO2, removendo-o da atmosfera. Mas esse processo não é rápido e também está sofrendo com a interferência humana, por exemplo, através do desmatamento, do uso excessivo de pesticidas e da poluição.

A captura e sequestro de carbono(CCS, na sigla em inglês) pode impedir que o excesso desse composto entre na atmosfera. A iniciativa foi introduzida pela primeira vez na década de 1970, mas ainda divide a opinião de especialistas devido a questões de saúde e segurança.

Tais preocupações incluem possíveis vazamentos de tubulação, que podem causar asfixia em seres humanos ou animais, contaminação da água potável através de metais lixiviados e outros poluentes, além do potencial de atividade sísmica desencadeada pelo CO2 comprimido. Na Alemanha, o procedimento é proibido.

Uma vez capturado, o CO2 é comprimido e transportado para um local de armazenamento adequado, geralmente no subsolo. Foto Cover-Images imago images

Mas afinal, como o carbono é capturado?

O processo envolve a separação artificial do CO2 de outros gases, liberados pela queima de combustíveis fósseis, como como carvão ou gás natural, ou por siderúrgicas, refinarias, fábricas de cimento e fertilizantes. Ele também pode ser removido antes da combustão, mas este processo utiliza tecnologia encontrada apenas em instalações mais novas.

Uma vez capturado, o composto é comprimido em um líquido e transportado para um local de armazenamento adequado, geralmente no subsolo, como antigos reservatórios de petróleo e gás, minas de carvão abandonadas e formações rochosas porosas cheias de água salgada.

O CO2 também pode ser extraído diretamente do ar usando filtros e produtos químicos em um processo conhecido como captura e armazenamento de carbono diretamente do ar (DACCS, na sigla em inglês). Estas instalações consomem muita energia e ainda são bastante caras.

Outra opção, a bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS, na sigla em inglês), envolve a queima de biomassa – madeira, culturas energéticas ou resíduos sólidos agrícolas e municipais que contenham carbono capturado – para gerar energia. As emissões resultantes são capturadas e armazenadas no subsolo.

A plantação e processamento de florestas e culturas geridas poderia sequestrar ainda mais carbono, embora estas culturas possam acabar por competir com culturas alimentares por terra e água.

O uso de todas essas tecnologias hoje ainda é limitado e, em grande parte, não testado em larga escala.

Concentração de CO2 atual é 50% maior que há 200 anos. Foto J. David Ake AP Photo picture alliance

Por que a captura e o armazenamento de carbono são importantes?

Mesmo se a humanidade reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono num futuro próximo, o mundo ainda precisará remover entre 450 bilhões e 1,1 trilhão de toneladas métricas de CO2 até 2100, de acordo com um estudo de janeiro de 2023.

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU disse em 2022 que o uso de tecnologias de remoção de CO2 será "inevitável" se o mundo quiser cumprir suas metas de emissões líquidas zero.

Mas os especialistas alertam que o setor precisará de um desenvolvimento substancial nos próximos 10 anos. Atualmente, estima-se que apenas 0,1% das emissões globais sejam capturadas por essa tecnologia.

Em novembro de 2023, a Agência Internacional de Energia alertou que os produtores de petróleo e gás precisavam "[deixar] de lado a ilusão de que quantidades extremamente grandes de captura de carbono são a solução".

E os críticos salientam que a tecnologia CCS apenas dá aos produtores de combustíveis fósseis luz verde para continuarem a explorar petróleo, gás e carvão.

Uma solução melhor, dizem eles, é reduzir a nossa dependência desses combustíveis e eliminá-los completamente –o mais rapidamente possível. (DW, 19/4/24)