Competitiva, soja dos EUA tem boa demanda
Se ainda encara reflexos do rebuliço causado por sua guerra comercial com a China, os Estados Unidos não podem se queixar da demanda pela soja produzida no país por parte de outros clientes. Na última semana, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou que os exportadores americanos fecharam contratos para entregar 1,04 milhão de toneladas do grão colhido nesta safra 2017/18, um recorde para este período do ano. "Na safra 2016/17 só houve reporte de mais de 1 milhão de toneladas em julho" lembrou Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone.
E, pela primeira vez em 20 anos, os argentinos compraram soja dos EUA. Isso porque a seca no país sul-americano reduziu sua oferta a tal ponto que começou a comprometer contratos de entrega, especialmente de farelo de soja, que não podem ficar descobertos. Até o momento, partiram dos EUA rumo à Argentina pelo menos três navios com 370 mil toneladas no total, mas analistas acreditam que o volume pode ser maior, uma vez que as vendas registradas são aquelas que somam pelo menos 100 mil toneladas.
Mas os principais compradores da soja americana após a queda de preços em Chicago provocada pela guerra comercial entre EUA e China, foram países europeus, segundo Pedro Dejneka, analista da MD Commodities. Quatro dias após a China anunciar que criaria uma taxa de 25% sobre a soja dos EUA, o USDA notificou que Holanda e Alemanha adquiriram, no total, 458 mil toneladas, maior lote comprado pela União Europeia em 15 anos.
A demanda aquecida tem oferecido suporte aos prêmios pagos pela soja dos EUA no Golfo do México. Segundo a INTL FCStone, em 4 de abril, dia seguinte ao anúncio da sobretaxa chinesa, o prêmio pago pelo bushel com entrega em maio era de US$ 0,34. Ontem, atingiu US$ 0,78. Como o patamar ainda é menor que o dos prêmios pagos pela soja brasileira, o grão americano está mais competitivo. No porto de Paranaguá (PR), de acordo com a INTL FCStone, o prêmio pago pela soja para maio era de US$ 1,40 em 4 de abril, valor que caiu para US$ 1,17 ontem.
Para a consultoria AgResource Mercosul (ARC), no atual ritmo semanal de vendas a estimativa do USDA para as exportações dos EUA em 2017/18, de 56,2 milhões de toneladas, poderá ser elevada. Mas Dejneka, da MD Commodities, não acredita que os EUA tenham condições de chegar ao volume atual previsto pelo USDA. O mais provável, afirmou, é que aconteça uma combinação entre cancelamentos de vendas e rolagem de embarques para o ciclo 2018/19. Ocorre que alguns clientes chineses que já acertaram compras deverão cancelar ao menos parte delas com medo de que, no meio da viagem, algo novo aconteça na disputa entre Washington e Pequim que obrigue a carga a ser desviada.
Até agora, os contratos acordados entre compradores e vendedores de soja americana somam 54 milhões de toneladas, mas o volume que efetivamente já deixou os portos do país é de 42,8 milhões de toneladas, segundo dados do USDA do dia 19 de abril. Conforme Dejneka, para que a diferença seja entregue até agosto, quando acaba o ano-safra, seriam necessários embarques semanais de 743 mil toneladas, quando a média é de 471 mil toneladas.
Com o investidor de olho na demanda, os preços da soja em Chicago estão se recuperando. O movimento, contudo, pode ser invertido, caso os chineses sobretaxem de fato o grão americano. "Esperamos que isso possa ocorrer em junho e, caso ocorra, prevemos queda de 10% das cotações em Chicago", afirmou Victor Ikeda, analista do Rabobank.
Outro ponto crucial é a área plantada nos EUA em 2018/19. Segundo o USDA, será de 39 milhões de hectares, 1% a menos que em 2017/18. Mas aumentos não são descartados (Assessoria de Comunicação, 26/4/18)