Compra de energia limpa corporativa cresceu 18% em 2020
ENERGIA SOLAR E EOLICA ReutersThomas Bohlen
A energia limpa comprada pelas empresas atingiu um recorde de 23,7 GW por meio de acordos de longo prazo, impulsionados pelo crescimento de novos mercados.
As empresas compraram um recorde de 23,7 GW de energia limpa em 2020, um aumento em relação aos 20,1 GW de 2019 e 13,6 GW de 2018, segundo as novas pesquisas publicadas pela BloombergNEF (BNEF). O aumento ocorreu apesar de um ano devastado pela pandemia da Covid-19, uma recessão global e incerteza sobre a política energética norte-americana antes da eleição presidencial.
A BNEF mostra em seu relatório 1H 2021 Corporate Energy Market Outlook que mais de 130 empresas, em setores que variam de petróleo e gás a gigantes de tecnologia, assinaram contratos de energia limpa. O interesse crescente de stakeholders na sustentabilidade corporativa e na expansão do acesso à energia limpa em todo o mundo tem dado sustentação a este mercado.
Kyle Harrison, associado sênior da BNEF e principal autor do relatório, comentou: “As empresas enfrentaram uma onda de adversidade em 2020 – por exemplo, a interrupção de funções corporativas internas no início da pandemia – e muitas empresas viram suas receitas despencarem à medida que as economias globais desmoronaram. Dúvidas e incertezas antes – e depois – da eleição nos EUA complicaram ainda mais a tomada de decisões de longo prazo por parte das empresas. Não apenas manter, mas também aumentar o mercado de aquisição de energia limpa sob tais condições é prova da importância da sustentabilidade nas agendas de muitas empresas”.
Os EUA foram novamente o maior mercado, porém menos dominantes em comparação aos anos anteriores. As empresas anunciaram 11,9 GW em contratos de compra de energia (PPAs) corporativos nos EUA em 2020, uma queda em relação aos 14,1 GW de 2019 – a primeira queda anual desde 2016. O primeiro semestre, coincidindo com o início da pandemia, sofreu forte queda, com as empresas anunciando apenas 4,3 GW de PPAs corporativos nos EUA no período.
A América Latina também teve um ano com retração, com os volumes de PPA caindo de 2 GW em 2019 para 1,5 GW em 2020. A região foi fortemente atingida pela pandemia da Covid-19 e pela retração econômica. Ainda assim, empresas no Brasil assinaram um recorde de 1.047 MW em PPAs corporativos em 2020, pois muitas continuaram a migrar para o mercado livre do país, onde podem assinar contratos bilaterais de energia limpa diretamente com os fornecedores. O México, que já foi o principal responsável por compras corporativas na região, viu os volumes de negócios praticamente se dissiparem, à medida que o atual governo continua a minar o setor de energia limpa do país.
Enquanto os EUA e a América Latina recuaram, outros mercados de compras corporativas avançaram. Os volumes de PPAs corporativos na Europa, Oriente Médio e África (EMEA) praticamente triplicaram, passando de 2,6 GW em 2019 para um recorde de 7,2 GW em 2020. Na Espanha, as empresas anunciaram contratos de compra de energia limpa superiores a 4,2 GW, um aumento em relação aos 300 MW do ano anterior. Os projetos de energia solar e eólica na Espanha fornecem alguns dos preços mais baratos e competitivos na Europa, graças a recursos naturais abundantes e a uma grande quantidade de fornecedores experientes. Empresas como a Total e a Anheuser Busch estão orquestrando “PPAs virtuais transfronteiriços” na Espanha, comprando energia limpa no país para compensar sua carga em outras partes da Europa.
As empresas também compraram volumes recordes de energia limpa na região Ásia-Pacífico (APAC), anunciando contratos de 2,9 GW em energia solar e eólica. Taiwan se estabeleceu como um grande mercado de energia limpa corporativa em 2020, com as empresas assinando PPAs no total de 1,25 GW. O mercado de Taiwan deve receber o suporte de uma nova política que exige que as empresas com carga anual acima de 5 MW comprem energia limpa. Além disso, a ilha tem uma alta concentração de grandes fabricantes, muitos dos quais estão sentindo a pressão de seus clientes em direção à descarbonização.
A Coreia do Sul deve ser o próximo grande mercado de compras corporativas na Ásia. Os legisladores revisaram as regulamentações do setor de energia elétrica do país no início de 2021, criando um mecanismo de PPA e um programa de tarifa verde com a Korea Electric Power Corporation. A revisão também permitirá que as empresas comprem certificados de energia limpa não vinculados (unbundled RECs) e os utilizem para atingir os compromissos de sustentabilidade. As empresas sul-coreanas enfrentam pressões na cadeia de suprimentos semelhantes às de Taiwan.
Jonas Rooze, analista líder de sustentabilidade da BNEF, afirmou: “Hoje, as empresas têm acesso a energia limpa a preços acessíveis em escala global como jamais tiveram. As empresas não têm mais desculpas para atrasar o planejamento e o trabalho em prol de uma meta de energia limpa”.
A Amazon foi a principal compradora de energia limpa em 2020, anunciando 35 distintos PPAs deste tipo de energia no ano passado, no total de 5,1 GW. A empresa já comprou mais de 7,5 GW de energia renovável até o momento, ultrapassando o Google (6,6 GW) e o Facebook (5,9 GW) como o maior comprador de energia limpa do mundo. A petrolífera francesa Total (3GW), a fabricante de semicondutores Taiwanesa TSMC (1,2 GW) e a empresa de telecomunicações americana Verizon (1GW) vieram em seguida entre os maiores compradores corporativos de energia limpa em 2020 (ver Figura 2).
O fluxo de novas empresas assumindo compromissos de energia limpa é outro indicador do potencial de crescimento do mercado. Cerca de 65 novas empresas aderiram à RE100 em 2020, se comprometendo a compensar 100% do seu consumo de eletricidade com energia limpa. A BNEF prevê que os 285 membros da RE100 precisarão comprar, em conjunto, 269TWh adicionais de eletricidade limpa em 2030 para cumprir suas metas da iniciativa RE100. Caso esse gap seja atendido exclusivamente com PPAs offsite, esse fator catalisaria uma estimativa de 93 GW provenientes de novas instalações incrementais de energia solar e eólica.
Harrison comentou: “O interesse dos investidores em sustentabilidade é muito alto; o fluxo para fundos focados em sustentabilidade cresceu 300% entre 2019 e 2020. Empresas em todos os setores, incluindo aqueles ‘duros na queda’, como petróleo e gás e mineração, estão sentindo a pressão para comprar energia limpa e seguir um programa de descarbonização. Este grupo está apenas no início em comparação com o grande potencial de volume de instalações de energia limpa que pode catalisar”.
A BNEF atualiza seus dados sobre a compra corporativa a cada mês e publica uma perspectiva do mercado sobre a estratégia de energia corporativa semestralmente (Bloomberg, 28/5/21)