Conflitos no Oriente Médio não devem impactar agro brasileiro
Marcos_Jank_-_foto Wikipedia
O acirramento dos conflitos no Oriente Médio, com ataque do Irã a Israel no último sábado (13) como resposta a um bombardeio israelense na embaixada iraniana em Damasco, na Síria, não deve ter impacto no agronegócio brasileiro, na avaliação do professor do Insper, Marcos Jank. Em entrevista à reportagem, ele disse ver um acirramento dos conflitos, mas observa que não há uma escalada capaz de prejudicar os mercados agrícolas.
Diante do posicionamento do Irã após os ataques na noite de sábado, quando o país persa afirmou que tinha cessado as hostilidades, Jank observou que ainda pode haver eventos pontuais mas que, no momento, eles são incapazes de afetar preços.
"Não há consequência maior nesse momento", disse. "Poderia haver se víssemos uma guerra de campo, com bombardeios, fechamento de fronteiras, mas não é o que está acontecendo", afirmou.
"Uma coisa é Israel reagir a ataques do Hamas e do Hezbollah, mas atacar o Irã é uma operação mais complexa que dependeria de um apoio externo que Israel não tem neste momento." Para o professor, o que poderia ocorrer de mais grave no momento é o aumento do preço do petróleo, mas a matéria-prima operava em baixa na tarde de ontem (15).
"A elevação dos preços do petróleo sempre vai ter impacto nas cadeias de suprimento e nas economias do mundo inteiro. Eu vejo um risco muito maior pelo lado do petróleo do que do comércio agrícola", destacou Jank.
O professor ressaltou a importância do Irã e da Arábia Saudita para o agronegócio brasileiro. Segundo ele, esses são os países que mais importam do Brasil, particularmente milho, no caso do Irã, e carnes de aves e bovina, no caso da Arábia Saudita. "Além disso, eles compram bastante açúcar. São esses os mercados que poderiam ter algum impacto específico", explicou. Atualmente, segundo Jank, o Irã reponde por US$ 4,3 bilhões em compras do agronegócio brasileiro, enquanto Arábia Saudita por US$ 2,7 bilhões.
Ele explicou que o Oriente Médio representa 9% de todas as exportações do agronegócio brasileiro. "O Brasil é o segundo maior fornecedor do agro para o Oriente Médio, ficando atrás apenas da União Europeia, que exporta mais produtos com valor agregado."
De acordo com Jank, as exportações para a região têm crescido cerca de 10% ao ano, com destaque para as carnes halal (produzida a partir de animais abatidos conforme preceitos islâmicos). O Brasil é o principal fornecedor para a Arábia Saudita. "Ao lado da China, a Arábia Saudita é o grande comprador de carne brasileira hoje", afirmou.
Já o milho tem uma importância muito grande no mercado iraniano. "Muito antes de a China se abrir para o milho do Brasil, o Irã já era o nosso maior comprador e ainda é muito relevante", observou (Broadcast, 16/4/24)