Congresso derruba veto e mantém Mapa no controle sobre novos agrotóxicos
APLICAÇÃO DE INSUMOS Foto Blog Rede Brasil Atual Reprodução
Outros dispositivos do texto, conhecido como 'PL do Veneno' por ambientalistas, serão analisados em sessões futuras.
O Congresso Nacional derrubou nesta quinta-feira (9) vetos do presidente Lula (PT) ao projeto de lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos no país, apelidado por críticos de "PL do Veneno", e concentrou o registro no Ministério da Agricultura, como queria a bancada ruralista.
Com a derrubada do veto de Lula, a pasta centraliza o processo de registro e controle dos defensivos e diminui as atribuições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
O governo Lula pretendia restabelecer o modelo regulatório tripartite —um tipo de estrutura seguido por agências regulatórias de outros países.
O objetivo era evitar que avaliações sobre impactos ambientais e de saúde fossem conduzidos pela Agricultura, que não possui conhecimento técnico para análise de risco dessas áreas.
A derrubada dos vetos foi patrocinada pela bancada ruralista, uma das maiores do Congresso, com cerca de 300 deputados e 50 senadores. Segundo governistas, esse cenário já era esperado pelo Executivo, que reconhece a força do grupo.
Ao sancionar a matéria, em dezembro do ano passado, Lula vetou 17 pontos do projeto de lei. Nesta quinta, o Congresso reverteu 8 deles, mas outros dispositivos vetados ainda serão analisados pelos parlamentares em futuras sessões conjuntas.
Após o resultado, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida afirmou em nota que a decisão dos parlamentares é um "verdadeiro absurdo".
"Esses dispositivos vão ampliar inconstitucionalmente os poderes do Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] e, assim, potencializar o uso e registro de agrotóxicos que, além de colocar em risco a biodiversidade e a saúde das populações, o Pacote do Veneno contribui para a intensificação da crise climática."
Os vetos de Lula no caso dos agrotóxicos dividiram o próprio governo. O Ministério da Agricultura pediu que o projeto fosse sancionado de forma integral. O argumento contra o veto é que o modelo tripartite vai causar um descompasso, com prazos distintos em cada órgão, e que os técnicos da Agricultura já iriam levar em consideração as análises da Anvisa e do Ibama.
No entanto, o veto ao superpoder foi defendido pelos ministérios da Saúde, Meio Ambiente, Trabalho e até Fazenda.
Em 2023, o governo Lula tentou barrar pautas defendidas pela FPA (Frente Parlamentar Agropecuária) no Congresso, sem sucesso.
A derrubada dos vetos desta quinta mostra que a bancada do boi, como é conhecida por seus opositores, mantém sua força contra Lula apesar dos esforços do governo para se aproximar do setor —que é mais ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O PL estava em tramitação no Congresso desde 1999, quando foi apresentado inicialmente pelo ex-ministro da Agricultura e ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi, à época senador da República (Folha, 910/5/24)