Consumidor deve pagar mais por energia de Angra 3, diz Ferreira Jr.
Wilson Ferreira Junior diz que tarifa atual, de R$ 240 por MWh, não é suficiente para pagar por investimentos. Lava Jato investiga desvio de recursos das obras de Angra 3, que estão paradas.
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, defendeu nesta terça-feira (27) o aumento da tarifa que os consumidores vão pagar pela energia da usina nuclear de Angra 3. De acordo com ele, o valor definido para a energia da usina, de R$ 240 por megawatts-hora (MWh), não será suficiente para cobrir os custos do investimento.
Angra 3 começou a ser construída em 1984. A obra está parada desde 2015 e, até agora, 63% dela foi concluída.
Em 2010, quando o governo retomou a construção pela última vez, o investimento previsto para Angra 3 era de R$ 10 bilhões.
O projeto tem histórico de corrupção e desvios de verbas. Em julho de 2015, a Operação Radioatividade, um desdobramento da Lava Jato, trouxe à tona crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas nas obras de Angra 3.
No ano passado, a Justiça Federal condenou cinco pessoas por crimes envolvendo contratos da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pelas usinas nucleares brasileiras. A condenação teve como base a investigação feita na Operação Pripyat, que apontou pagamento de propina nas obras de Angra 3.
Tarifa maior
Em entrevista nesta terça em Brasília, o presidente da Eletrobras informou que aguarda a avaliação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sobre o pedido para aumentar o valor da tarifa de Angra 3
"O valor ainda será discutido pelo CNPE, mas o que eu posso dizer é que a gente consegue fazer por menos de R$ 500 por MWh", disse Ferreira Junior. Segundo o presidente, o valor internacional das novas usinas nucleares é de cerca de US$ 150/MWh, aproximadamente R$ 500/MWh.
Questionados se a necessidade de aumento da tarifa não está ligada aos desvios que encareceram a obra, Ferreira Junior afirmou que a companhia contabilizou desvios de R$ 150 milhões e que a obra tem um custo estimado de R$ 15 bilhões.
Ainda de acordo com ele, o valor da energia previsto para Angra 3 está muito abaixo do preço de mercado porque o projeto foi contratado prevendo um financiamento em condições fora do mercado.
"Tem em construção cerca de dez usinas semelhantes. Hoje a tarifa dessas usinas está em US$ 150, cerca de R$ 500. A nossa está em R$ 240. Porque seriamos capazes de fazer em um preço, se o mundo faz no dobro? A razão era um financiamento público que não existe em lugar nenhum no mundo", disse.
O presidente da estatal apontou ainda que o governo e os bancos públicos não vão financiar a conclusão da obra e, para que a empresa busque financiamento em condições de mercado, com juros mais altos, será necessária uma revisão do valor da tarifa.
Wilson afirmou ainda que, "pessoalmente" acredita que a Eletrobras não conseguirá reverter todo o prejuízo que teve com Angra 3.
Retomada das obras
Ele defendeu a retomada das obras da usina e disse que espera que isso ocorra em breve.
"A nossa recomendação é de retomar a obra", disse Ferreira Junior. "Primeiro, a energia dessa usina é a energia térmica mais barata que vamos ter no futuro. Segundo, ela é uma usina firme, de base e que não é poluente", afirmou. Ele destacou ainda que a eletricidade gerada por Angra 3 abastece a região Sudeste, onde está a maior parte do consumo no país.
O presidente da Eletrobras disse também que o governo precisa decidir sobre a retomada da obra de Angra 3 antes da privatização da Eletrobras. O projeto sobre a operação, que está em análise no Congresso, prevê que a Eletronuclear seja separada da Eletrobras e permaneça sobre o controle da União.
De acordo com ele, porém, essa separação não poderá ser feita caso a Eletronuclear esteja no prejuízo.
Sem a previsão de conclusão da obra de Angra 3, a Eletrobras já contabiliza perdas de mais de R$ 11 bilhões com a usina nuclear, o que deixa negativo o resultado da Eletronuclear. Com uma decisão sobre a retomada da obra, parte das perdas previstas com Angra 3 serão revertidas.
Corte de funcionários
Wilson Ferreira Junior afirmou que a meta é que a estatal feche 2018 com 12 mil funcionários. Hoje, a Eletrobras tem quase 22 mil servidores.
Ele estimou que a Eletrobras deve perder 3.017 funcionários com o plano de demissão voluntária anunciado na segunda-feira (26) e outros 6.600 funcionários devem deixar o quadro da companhia após a venda de seis distribuidoras de energia que hoje estão sob o controle da estatal. O leilão está previsto para maio.
Durante a entrevista, Wilson Ferreira Junior afirmou que, se o Congresso aprovar o projeto de lei de privatização da estatal no primeiro semestre, a emissão de novas ações pela empresa deve ser feita entre 15 de novembro de 2018 e janeiro de 2019.
O presidente da estatal explicou que a janela de emissões está ligada à divulgação dos resultados do terceiro trimestre da empresa. O resultado da companhia é usado como referência para calcular o preço das ações para a emissão.
Venda das SPEs
O presidente da Eletrobras afirmou que a empresa divulgará em duas semanas os preços mínimos das 70 Sociedades de Propósito Específico (SPEs) que a estatal vai vender no dia 7 de junho.
Essas SPEs são empresas criadas pelas controladas do grupo Eletrobras para construir e administrar projetos de geração e transmissão de energia elétrica. A Eletrobras vai vender 59 SPEs de geração e 11 de transmissão (G1, 27/3/18)