Cooperativas tiveram crescimento durante a pandemia de Covid-19
Por Roberto Rodrigues
Em 2020, o País tinha 4.868 cooperativas, com 17,2 milhões de associados.
Brasileiras (OCB) publicou esta semana seu anuário mostrando a evolução do movimento cooperativista no País. E os números são expressivos.
É sabido que as cooperativas sempre crescem mais durante crises. Até mesmo o nascimento da primeira cooperativa – em Rochdale, Inglaterra, em 1844 – foi fruto da “crise” representada pela Revolução Industrial, que gerou grande exclusão social. Cerca de 28 tecelões (27 homens e 1 mulher) perderam sua fonte de renda com o advento dos grandes teares fabris e montaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, uma empresa diferente, baseada em princípios e valores doutrinários, cujo objetivo não era o lucro da empresa. Mas, sim, prestar serviços aos seus cooperados de modo que eles tivessem resultados econômicos que lhes garantissem avanços sociais, como prega a doutrina.
O resultado foi tão positivo que a experiência se repetiu em outras atividades e regiões, no país e no mundo: pequenos costureiros, doceiros, cozinheiros, sapateiros, lateiros, agricultores, enfim toda gente excluída pela industrialização se juntou em cooperativas e o movimento cresceu consideravelmente, até que, em 19 de agosto de 1895, foi criada a Aliança Cooperativa Internacional (ICA), em Londres, com o objetivo de estimular a criação de cooperativas nos diversos setores econômicos, sociais e culturais, defendê-las de todo tipo de ataques e ser a guardiã dos valores doutrinários. A ICA foi uma das poucas organizações privadas internacionais a sobreviver tanto à Primeira quanto à Segunda Guerra Mundial e, atualmente, é órgão consultivo da ONU.
Hoje, essas empresas, em número superior a 3 milhões, estão presentes em cerca de 150 países, unindo mais de 1 bilhão de cooperados e 280 milhões de funcionários. Se cada cooperado e funcionário tiver três dependentes, passa de 5 bilhões o número de pessoas ligadas diretamente às cooperativas em todo o mundo, bem mais da metade da população do planeta.
Pois a trágica pandemia do coronavírus tem sido outra crise impressionante a varrer os cinco continentes sem contemplação. E também nela o cooperativismo cresceu entre nós, e o anuário da OCB mostra isso claramente.
Tínhamos em 31 de dezembro no ano passado 4.868 cooperativas no Brasil, com 17,2 milhões de associados e empregando 455 mil pessoas. Pelo critério de três dependentes para cada um, o número de pessoas ligadas a cooperativas passa de 70 milhões no Brasil, cerca de um terço de nossa população. É proporcionalmente menor do que no mundo todo, mas vem crescendo. Em 2020, o número de cooperados cresceu 11%. E há nisso um dado interessante: 40% são mulheres, ou seja, o balanço de gênero tem evoluído.
Cresceram muito as agropecuárias e as de crédito.
Em 2020, devido à alta dos preços das commodities agrícolas, o faturamento das cooperativas do setor cresceu 30,5%, chegando a R$ 239,2 bilhões. O lucro delas (em cooperativas, o lucro se chama “sobra”) aumentou 74,5%, para R$ 9,6 bilhões. O segmento originou 54% do valor da produção nacional, e recolheu aos cofres públicos R$ 8,5 bilhões, 30% a mais que em 2019. E vai aumentar mais: hoje, as cooperativas agropecuárias têm 1 milhão de associados, dos quais 80% são pequenos e médios produtores. Mas o Brasil tem mais de 5 milhões de agropecuaristas, de modo que ainda há um grande contingente fora do sistema.
Já as cooperativas de crédito tiveram um aumento significativo de cooperados, hoje 11.966.563 pessoas. Com uma carteira de crédito de mais de R$ 207 bilhões em 2020, o setor detém a maior rede de atendimento do Brasil, com 7.223 pontos. Além disso, em 2020, o volume dos depósitos totais das cooperativas de crédito somou mais de R$ 246 bilhões.
Realmente, um movimento poderoso e relevante para o bem-estar de uma ampla parcela da população que não é atendida pelo sistema financeiro convencional (Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas; O Estado de S.Paulo, 8/8/21)