COP26 como vitrine mundial para as técnicas de agropecuária sustentável
AGROPECUARIA SUSTENTAVEL JulianaSussai Embrapa
Por Helen Jacintho
O Brasil tem o maior plano de fomento a tecnologias sustentáveis de produção do mundo, que resultam em ganhos produtivos e contribuem para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), como o sistema de ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta)
Alok Sharma, presidente da COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a mais importante reunião depois do Acordo de Paris -, veio ao Brasil para se encontrar com empresários, governo, pesquisadores e ambientalistas. Sharma visitou a Embrapa Cerrados e, impressionado com os resultados, gravou um vídeo divulgando as técnicas de produção de baixa emissão de carbono brasileiras, favorecendo desta maneira a imagem da nossa agropecuária no exterior.
Sharma defende que as técnicas utilizadas nos sistemas produtivos brasileiros são o tipo de inovação que o mundo precisa para manter vivo o objetivo crítico de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC e pediu ao Brasil que apresente este trabalho pioneiro e traga outros países para esta jornada.
Durante a visita foram discutidos os preparativos e as perspectivas para a COP26, que será realizada em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro. A visita foi uma iniciativa do governo do Reino Unido, que tem mantido diálogo com o Brasil sobre as metas do Acordo de Paris. Peter Wilson, embaixador britânico no Brasil declarou: “Não existe contradição entre economia forte e economia verde”, comentando sobre a produção agropecuária sustentável feita no Brasil.
Mas o que temos a ver com a COP26? O Brasil e o agro têm muito a ver, pois nosso país, com um plano estruturado, pode ser o maior beneficiário do mercado internacional de créditos de carbono. Seria uma chance de passarmos de vilões a mocinhos no ambientalismo mundial devido aos números de uso de energia renovável – e caso existisse um plano estruturado de prevenção ao desmatamento ilegal – para a preservação do meio ambiente. O governo brasileiro precisa chegar à COP26 com um projeto sobre como alcançar as metas que já assumiu de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e suas emissões de CO2 até 2050.
O agro responsável tem feito a sua parte. Segundo Evaristo Miranda, da Embrapa Territorial, o Brasil tem 66% de seu território preservado, sendo que 26,7% deste total se encontram dentro de propriedades rurais. Os imóveis rurais dedicam à preservação da vegetação nativa 2.266.135 quilômetros quadrados. Em média, 49,2% do imóvel rural no Brasil está dedicado à preservação ambiental. Esse valor é maior na Amazônia e menor na Região Sul, por exemplo, por força da lei. O agricultor brasileiro é o único no mundo a utilizar, em média, apenas metade de sua propriedade. A outra metade é preservada, sem nenhum subsídio ou compensação. Ainda segundo Miranda, é tempo de conhecer e reconhecer o papel decisivo dos agricultores na preservação ambiental do Brasil.
Além do papel do agro na preservação, a COP26 será o momento de mostrar ao mundo a agropecuária sustentável brasileira, baseada em ciência, tecnologia e adaptada para a nossa realidade tropical, o que nos levou a conseguir duas a três safras anuais, gerando enorme ganho ambiental, devido ao aumento de produtividade sem a necessidade do aumento de área.
De acordo com a pesquisadora Fabiana Alves da Embrapa, a produção de alimentos no Brasil cresceu 456% desde a década de 1970, enquanto o aumento na área foi de 55%. Isto nos tirou da posição de importador de alimentos e nos levou para o patamar de um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. A produção agropecuária (agricultura e pecuária) é realizada em 30% dos 851,5 milhões de hectares de área total do país.
Além do aumento de produtividade, nosso país tem o maior plano de fomento a tecnologias sustentáveis de produção do mundo, que resultam em ganhos produtivos e contribuem para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). O plano ABC, como é conhecido, proporcionou aumento da sustentabilidade da agropecuária brasileira com o incentivo à adoção da recuperação de pastagens degradadas, sistemas de ILPF, Sistema Plantio Direto, florestas plantadas, fixação biológica de nitrogênio e tratamento de dejetos animais. Entre 2010 e 2018, foram alcançados 50 milhões de hectares com essas tecnologias, o que representou uma mitigação de cerca de 170 milhões de Mg CO2-equivalente de GEE.
Além destas iniciativas, nossos pesquisadores e produtores estão sempre na vanguarda buscando práticas sustentáveis, como o protocolo Carne Carbono Neutro e agora a Soja Baixo Carbono, que buscará fomentar a redução das emissões de GEEs sem deixar em segundo plano o aumento de produtividade, necessário para atender à crescente demanda mundial pelo grão.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU apresentado na semana passada (9) mostrou um ritmo de aquecimento acelerado no planeta, com consequências também para o setor produtivo. Os efeitos diretos esperados no Brasil serão secas mais frequentes e a queda na capacidade de produção de alimentos. Mudanças climáticas podem afetar o agronegócio e temos que ser parte da solução do problema.
Não veremos em vida outro pais atingir o nível de sustentabilidade que temos no Brasil, mas enquanto não se resolver o problema do desmatamento ilegal, paira sobre o setor produtivo uma sombra. O agro responsável, assim como o restante da sociedade, quer o fim do desmatamento ilegal e o Brasil respeitado como um dos países na vanguarda do combate das mudanças climáticas (Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: helen@fazendacontinental.com.br; Forbes, 13/8/21)