Coronavírus afeta exportações do agro em março
FOTO Arquivo/Agência Brasil
Carnes são as mais prejudicadas, enquanto as vendas de soja e seus derivados explodem.
As exportações agropecuárias sentiram o efeito do coronavírus no mês passado. À exceção da soja e seus derivados, os demais itens tiveram comportamento bem inferior ao de fevereiro. Esse efeito veio principalmente da demanda externa.
Mesmo assim, as exportações de produtos básicos, onde estão incluídos agropecuária, minério e petróleo, aumentaram para 57% a participação na balança comercial de março, acima dos 54% de igual período de 2019.
Isso mostra que, mesmo com a desaceleração, os básicos tiveram desempenho ainda melhor do que os industrializados nas exportações.
O setor de carnes foi um dos que perderam força. Dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) desta quarta-feira (1) mostram que o volume médio diário das exportações de carne de frango in natura recuou 14% no mês passado, em relação a fevereiro. A carne suína caiu 11%, e a bovina, 7%.
Apesar dessa desaceleração nas exportações de março, as carnes in natura já renderam US$ 3,57 bilhões neste ano, 23% mais do que em igual período do ano passado.
O açúcar teve queda de 9% no volume exportado. As receitas do primeiro trimestre, no entanto, estão com evolução de 36% em relação a janeiro-março de 2019. As exportações renderam US$ 1,1 bilhão no trimestre.
O grande destaque da balança do mês passado foi o complexo soja. As exportações de grãos atingiram 11,6 milhões de toneladas, o maior volume para os meses de março e o segundo maior na história do país.
O volume do mês passado é inferior apenas aos 12,4 milhões de toneladas de maio de 2016, um mês tradicionalmente de volume elevado nas exportações.
Daniele Siqueira, da AgRural, diz que o grande volume de março ocorreu devido a atrasos nos embarques de fevereiro. Houve uma demora para a soja chegar aos portos, devido a atraso na colheita.
Além disso, chuva e congestionamento de navios nos portos dificultaram os embarques. Os portos da China, devido ao coronavírus, tinham dificuldades nos desembarques.
O desempenho fraco durou até a primeira quinzena. Na segunda, houve uma forte aceleração dos embarques. O movimento será intenso também neste mês, uma vez que já está programada a movimentação de 11 milhões de toneladas.
O ritmo da colheita provocou atraso também na moagem e no embarque de farelo e de óleo de soja. Os números do mês passado, em relação aos de fevereiro, são impressionantes. As exportações de soja aumentaram 86%, as de farelo, 66%, e as de óleo, 39%.
O complexo soja já rendeu US$ 7,6 bilhões no primeiro trimestre, 7% mais do que em 2019.
O Brasil deverá exportar de 70 milhões a 73 milhões de toneladas de soja neste ano. O produto, mais uma vez, vai trazer uma boa renda para os produtores. A saca ultrapassou pela primeira vez os R$ 100 nos portos brasileiros.
As compras aceleradas da China neste primeiro semestre e o real desvalorizado são os propulsores do complexo soja. No segundo semestre, a China deverá se voltar para as compras nos Estados Unidos, dependendo do resultado da safra dos americanos (Folha de S.Paulo, 2/4/20)