10/10/2022

Cosan, de Rubens Ometto, se torna uma das principais acionistas da Vale

Legenda: Cosan, de Rubens Ometto, disse que intenção no investimento é de diversificação do portfólio
Rubens Ometto - foto  FELIPE RAU  Crédito ESTADÃO CONTEÚDO

Legenda: Cosan, de Rubens Ometto, disse que intenção no investimento é de diversificação do portfólio  

 

Empresa anunciou compra de 4,9% na Vale e disse que, caso regulador aprovar, ampliará participação para 6,5%, o que corresponde a um investimento de R$ 23 bilhões

A Cosan, do empresário Rubens Ometto, anunciou a compra de 4,9% das ações da mineradora brasileira Vale, tornando-se uma de suas principais acionistas da mineradora. A Cosan, uma gigante na área de açúcar e álcool, informou que sua intenção é de atingir uma fatia da 6,5% na fabricante de minério de ferro, mas que para isso precisa do sinal verde por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Se tiver o aval, a Cosan alcançará uma posição de mais de R$ 23 bilhões na mineradora, uma das companhias de maior valor de mercado da Bolsa brasileira.

Ao mercado, a Cosan afirmou que “esse movimento é mais um passo na jornada de diversificação de portfólio da companhia, investindo em ativos irreplicáveis nos setores em que o Brasil tem clara vantagem competitiva”. “Temos grande admiração e respeito pela Vale, que é exatamente o tipo de empresa na qual buscamos investir: um ativo global único atuante em um setor fundamental para o Brasil e estratégico para a transição energética do mundo”, afirmou, em comunicado, o presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães.

Com o investimento, a Cosan se posiciona entre os principais acionistas da Vale, companhia que não tem controle definido. O fundo dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, possui 8,6% do capital; o fundo estrangeiro Capital, 6,69%; o conglomerado japonês Mitsui, 5,99%; e a BlackRock, uma das maiores gestoras de investimento do mundo, soma 6,33% do capital da gigante do minério de ferro.

A Cosan, ao fazer a compra de quase 5% da Vale, aumenta seu portfólio, ampliando presença no setor de commodities. Hoje ela também já atua no segmento de gás natural, com a Compass; em lubrificantes, com a Moove; e em transportes ferroviários, com a Rumo e em energias renováveis, com a Raízen, que também é uma empresa listada na Bolsa.

Como será feito o pagamento

A empresa montou uma equação financeira para pagar o investimento que não afetará seu endividamento, por meio de uma uma combinação de linhas de crédito que incluem a emissão privada de notas comerciais e um financiamento atrelado a instrumentos derivativos.

A Cosan informou que, para conseguir adquirir a participação adicional de 1,6%, o que garantirá a posição de 6,5% na empresa, já estruturou uma operação de derivativos – que são ativos estruturados na Bolsa visando a uma transação futura. Segundo a empresa, no entanto, essa operação será convertida em posição direta apenas após a liberação do regulador.

Os analistas da Eleven Financial afirmaram que, com o investimento da Vale, a operação da Cosan pode se tornar mais complexa, “sem muita sinergia entre os negócios da empresa”. As ações da companhia de Rubens Ometto tinham forte queda nesta sexta-feira, 7 (O Estado de S.Paulo, 8/10/22)


Entenda a lição que a Cosan ensina ao comprar ações da Vale

Legenda: Palavras do Presidente do Conselho de Administração da Cosan e da Rumo, Rubens Ometto Silveira Mello. Foto: Alan Santos/PR

 Por Michael Viriato 

Cosan aprendeu com erros da Ultrapar e compra ações em vez de montar negócio do zero.

Na última sexta-feira, a Cosan divulgou comunicado ao mercado de que tinha adquirido uma participação de 6,5% do capital acionário da mineradora Vale. O anúncio impressiona, pois esta participação equivale a R$ 23,5 bilhões e o valor de mercado da Cosan é de apenas R$ 31,2 bilhões. Há várias lições a se aprender com esta operação, mas hoje vou comentar apenas uma delas.

Segundo pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) com apoio do Sebrae, quase metade dos brasileiros deseja abrir um negócio próprio.

Normalmente, desejamos ter um negócio, pois queremos possuir participação em um empreendimento e ganhar com seu crescimento.

A não ser para negócios disruptivos, ou seja, aqueles em que não se existe nada parecido, usualmente, se tem duas alternativas para ser sócio de uma empresa.

Você pode começar do zero, ou comprar ações de uma empresa em bolsas de valores, seja no Brasil ou no mundo.

Entretanto, todos sabemos que a primeira opção, ou seja, montar um empreendimento do zero é muito arriscado. A Cosan sabe bem disso e deu aula com sua aquisição.

É possível citar quatro vantagens que a Cosan tem na aquisição em relação a montar o negócio do zero. Com a aquisição, ela:
1 – Queima etapas e já começa a se aproveitar de algo maduro e funcionando;
2 – Se aproveita das competências e experiências dos executivos da empresa;
3 – Evita o risco envolvido em licenças e concessões que um negócio de mineração e logística exigem;
4 – Tem maior liquidez e menor custo para se desfazer do investimento caso ele não ocorra como o esperado.

Todos estes riscos também são em alguma parte enfrentados por pequenos empreendedores. Entretanto, a maioria não sabe estimar quanto eles custam. Ou seja, quanto eles economizariam por não enfrentarem os riscos.

Óbvio que existe um preço a se pagar por evitar todos estes riscos.

Um negócio maduro e testado tem de ser mais caro que algo que se constrói do zero.

A Ultrapar, por exemplo, já sentiu o gosto amargo de montar algo do zero.

Entre 2014 e 2021, a Ultrapar investiu R$ 730 milhões para criar a rede de farmácias Extrafarma. Nesse período, ela só teve prejuízo com a operação. Neste ano de 2022, vendeu a operação, praticamente, pelo mesmo valor investido.

Se considerar o valor do dinheiro no tempo e os prejuízos com a operação, é possível dizer que a lição foi aprendida.

Se a Ultrapar tivesse em vez de montado suas lojas, comprado ações da Raia Drogasil (RADL3), ela teria mais que dobrado seu capital investido no mesmo período.

Portanto, antes de investir em um negócio próprio, avalie as seguintes questões:
1 – Quanto pagaria por loja ao comprar ações de uma empresa no Brasil ou no mundo?
2 – Qual o retorno a empresa em bolsa similar obtém, quanto você acredita que vai gerar de retorno a mais e por que?
3 – Em quanto tempo você acredita que seu negócio vai atingir o ponto de equilíbrio e qual o custo de oportunidade de já ter resultados a partir do momento zero ao comprar ações de uma empresa aberta em bolsa?
4 – Quais riscos poderiam prejudicar seu negócio e quanto você perderia se tivesse que encerrar as operações, ou seja, por quanto venderia o estoque e equipamentos?
5 – Quais habilidades você não tem que poderiam ser supridas pela equipe de executivos de uma empresa aberta em bolsa?

Portanto, se você pensa em abrir uma academia, varejo de roupas, loja de aluguel de carros, varejo de calçados, posto de gasolina e outros, avalie o investimento em uma empresa com ações em bolsa no Brasil ou no mundo.

Sim, você também é um empresário ao comprar ações de empresas de capital aberto com resultados já comprovados. Adicionalmente, reduz as incertezas sobre o investimento que todos os empreendimentos possuem.

Aprender com os erros dos outros, por exemplo, da Ultrapar e com as lições de grandes empresários como os da Cosan é algo de extremo valor (Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor; Folha de S.Paulo, 10/10/22)