05/07/2018

Cotações agrícolas sob pressão nos próximos 10 anos

Cotações agrícolas sob pressão nos próximos 10 anos

Os preços de produtos agrícolas deverão continuar baixos no mercado internacional, sobretudo em um cenário de estoques elevados como o atual, o que torna uma retomada improvável nos próximos anos. A avaliação consta do relatório "Perspectivas Agrícolas 2018-2027" da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Agência da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO).

O relatório divulgado ontem destaca que a produção aumentou fortemente em todas as categorias, atingindo em 2017 cifras recordes nos casos de cereais, carnes e produtos lácteos, enquanto os estoques se mantiveram em níveis jamais vistos. Paralelamente, o crescimento da demanda começou a diminuir.

Sustentada nos últimos dez anos pela alta de renda na China, que estimulou o consumo de carnes, peixes e alimentos para animais, a demanda está em desaceleração atualmente, num cenário em que não se identifica nenhuma outra fonte de crescimento para compensar a situação chinesa.

Como consequência, os preços reais da maioria dos produtos agrícolas deverão baixar nos próximos dez anos. A desaceleração da demanda deverá persistir ao longo dos próximos anos. O consumo por habitante de vários produtos deverá estagnar em escala mundial, sobretudo os de alimentos como cereais, raízes e tubérculos, cujos níveis de consumo estão próximos da saturação em vários países.

Na pecuária, a evolução da preferência alimentar em nível regional e limitações na renda disponível freiam o consumo de carnes. A demanda por lácteos, por seu lado, deve ter um crescimento mais rápido.

No contexto geral de desaceleração da demanda por habitante, o açúcar e o óleo vegetal são exceções. Serão consumidos ainda mais nos países em desenvolvimento, onde a urbanização leva a uma demanda maior de alimentos processados.

A produção agrícola total, por sua vez, deverá crescer cerca de 20% nos próximos dez anos, segundo o relatório da OCDE e da FAO, com diferenças regionais consideráveis. O aumento mais forte da produção será na África subsaariana, na Ásia, no Oriente Médio e na Africa do Norte.

Já o comércio internacional deverá crescer em um ritmo 50% menor do que nos últimos dez anos. E as exportações líquidas vão aumentar principalmente a partir das Américas.

O relatório destacou ainda que o Brasil continuará a ter papel central nas exportações agrícolas globalmente nos próximos 10 anos. A expansão da área cultivada com cana no país provocará uma alta na produção de açúcar, de 1,9% por ano e contribuindo com 1,8% do crescimento anual do setor nas Américas.

O Brasil continuará também a ser um dos maiores produtores mundiais de etanol. A expectativa é de alta de 1,5% nos próximos dez anos. Mas a fatia brasileira na produção mundial de etanol deverá diminuir de 90% para 88% em razão do avanço rápido da produção na Ásia, principalmente na China.

A OCDE e FAO apontam ainda que a produção mundial de soja continuará dominada por EUA e Brasil. Igualmente, os dois países continuarão sendo os principais produtores mundiais de carnes, com aumento de seus rebanhos entre 2018 e 2027. A previsão é de alta de 17% na produção de bovinos e suínos, de 16% para frangos e de 9% para ovelhas (Assessoria de Comunicação, 4/7/18)