Covid-19 eleva cautela em negócios da safra futura de soja, diz Abiove
foto arquivo Agencia Brasil
As tradings e processadoras de soja do Brasil estarão mais cautelosas em negócios antecipados da oleaginosa da próxima safra do Brasil, diante das incertezas trazidas pela Covid-19, avaliou nesta terça-feira o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.
Ele lembrou que um aumento de pedidos de recuperação judicial por produtores de grãos no Brasil —o que aumenta os riscos de tradings que fazem negócios antecipados com agricultores— já deixava a indústria compradora mais cautelosa, algo que pode ser acentuado dependendo dos desdobramentos da crise do coronavírus.
“Temos uma preocupação anterior à Covid, que é a recuperação judicial... Dez pedidos de recuperação só em janeiro... é capaz de ter mais. As empresas vão estar um pouco mais cautelosas no financiamento da próxima safra, vai depender muito de como a gente sair da questão do isolamento”, declarou ele, durante webinar promovida pela consultoria Datagro.
Segundo Nassar, para a próxima safra que começa a ser plantada em setembro, a intenção de realizar mais negócios antecipados pelas tradings vai ser determinada pela situação pós-coronavírus.
Só neste momento as empresas poderão decidir se aumentam ou diminuem a sua exposição em termos de compra antecipada, comentou ele, acrescentando que a demanda, que está forte no momento, vai ser determinante também.
A possibilidade de a China vir a comprar mais soja dos EUA no segundo semestre é um fator a ser acompanhado, acrescentou.
“Por outro lado, o produtor pode ter muito interesse em fazer uma operação de ‘barter’ bem montada”, ressaltou Nassar, comentando que os patamares atuais do dólar são um estímulo para negócios.
Mas, disse ele, se começar a ter “defaults” e recuperações judiciais por causa da Covid, “isso vai inibir bastante as empresas”.
“Ainda está cedo, tem que deixar passar abril, maio e junho para ficar claro qual será a exposição que as empresas vão ter, mas elas têm interesse em comprar antecipadamente.”
De qualquer forma, segundo analistas e órgãos de pesquisa, a comercialização da safra de soja do próximo ano já está bastante antecipada, com produtores vendo boas oportunidades de negócios com o dólar em máximas históricas.
Agricultores de Mato Grosso, maior produtor brasileiro, já comercializaram mais de 30% da safra de soja do próximo ano, segundo o instituto Imea, ligado ao setor produtivo do Estado. Nunca a comercialização antecipada atingiu tal nível nesta época.
No mesmo período do ano passado, o Mato Grosso havia comercializado antecipadamente 8% da safra futura (Reuters, 28/4/20)