Covid-19 provoca atraso na entrega e alta de preços de máquinas agrícolas
Legenda: Trator de alta potência para agricultura digital - Divulgação/New Holland
Motivo, como ocorre em toda economia, são os efeitos do coronavírus, que vem afetando a indústria desde o início do ano passado.
Um produtor paulista foi ao mercado para adquirir uma máquina agrícola nova, similar às de que já faz uso. O preço e a demora para a entrega do produto o fizeram desistir.
Em um momento em que o agricultor está capitalizado, devido ao aumento de produção e aos bons preços recebidos, ele encontra sérias dificuldades na compra de insumos e de máquinas.
O motivo, como ocorre em toda economia, são os efeitos do coronavírus, que vem afetando a indústria desde o início do ano passado.
“Vivemos um período de imprevisibilidade. A demanda está elevada, mas não conseguimos acompanhá-la.” A afirmação é de Rafael Miotto, vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina.
Nos quatro primeiros meses deste ano, a procura por máquinas e equipamentos agrícolas cresceu 30%, em relação a igual período de 2020.
É um ritmo bom, embora a comparação seja feita sobre uma base fraca de 2020, quando o setor teve um mês praticamente parado, afirma ele.
Para Miotto, este é um ano bastante diferente. A indústria tem capacidade de produção, mas encontra barreiras no fornecimento de componentes, que vão de pneus, semicondutores e placas-mãe a sistemas hidráulicos.
Para o vice-presidente da New Holland, o ano deverá terminar com crescimento de 10% a 15% na produção e na venda de máquinas.
A demanda é grande e, para muitos produtos, a indústria não consegue atender os pedidos antes de seis meses. Na avaliação de Miotto, vai melhorar, mas essa turbulência pode continuar até o primeiro trimestre de 2020.
“Ainda não tivemos de parar a produção, mas a falta de componentes é dramática.” Na semana passada, às vésperas de receber um carregamento aéreo, a empresa foi comunicada de que o fornecedor não conseguiria cumprir a previsão de entrega.
O agricultor interessado na compra de máquinas não apenas espera mais pelo produto mas também paga bem mais. Mas esse custo não é só do produtor, afirma Miotto. “Enquanto a indústria celebra a elevada demanda que vem dos produtores, chora a redução de suas margens por causa da alta dos custos.”
Esse aumento ocorre devido à necessidade de importações, ao dólar alto e ao maior custo dos componentes e das matérias-primas, como aço e pneus. “É uma pressão que eu nunca tinha visto antes”, diz ele.
Produtores relatam aumentos médios de 30% no custo das máquinas, com evolução bem maior para alguns tipos de equipamento. O vice-presidente reconhece essa evolução, mas diz que seguramente os repasses finais da indústria ficam abaixo dos custos que ela tem.
O cenário atual tem uma dose de anormalidade, mas a indústria continua apostando forte na agricultura brasileira. O crescimento se dará pela produtividade e por avanços em áreas de pastagens degradadas, o que exige um investimento maior dos agricultores em tecnologia, afirma o vice-presidente da New Holland.
Para se antecipar às exigências do mercado, a empresa avalia muito o avanço da genética no campo. E o que vem pela frente é bastante promissor, na avaliação de Miotto.
É importante acompanhar a evolução no campo porque ela é a base dos investimentos atuais da indústria. As colheitadeiras que circularão em cinco anos deverão estar preparadas para uma absorção maior de grãos, em vista da melhora na produtividade, afirma.
A aposta da New Holland na agricultura brasileira vem de longe, segundo Miotto. A empresa está colocando no mercado tratores de alta potência e com foco na agricultura digital, cujos investimentos foram iniciados há cinco anos.
A meta é ter um portfólio que atenda a toda cadeia de produtores, do pequeno ao grande. Um dos objetivos também é facilitar a incorporação de novas tecnologias e permitir a fácil adaptação do operador nos diversos equipamentos da indústria.
A questão da sustentabilidade está inserida no contexto desses lançamentos, segundo Miotto. As máquinas têm maior robustez e conseguem uma melhor produtividade por hora, com um consumo menor de combustível por hectare, reduzindo a emissão. Automatizadas, e sem o fator humano, elas buscam sempre o menor consumo.
O executivo da New Holland acredita que o Brasil ainda tenha um período de vantagem produtiva, em relação aos concorrentes. A agricultura do país, porém, ainda não está totalmente amadurecida.
Passa por um bom momento, devido à demanda externa e à alta de preços. É preciso, contudo, cuidar da produtividade. Em algum momento, o país poderá se defrontar com dólar mais baixo, preços externos menores e altos subsídios de países como China e Estados Unidos, além da Europa.
Para Miotto, o produtor não pode tirar o foco de sua atividade principal. São necessários investimentos tanto na formação humana como em programas de melhorias de produtividade, de armazenagem e de infraestrutura.
Não é momento de esbanjar, mas de se preparar para um eventual novo ciclo menos favorável, afirma ele (Folha de S.Paulo, 25/5/21)