Credores da Biosev pressionam por vendas de ativos
As negociações sobre a reestruturação da dívida da Biosev, produtora de açúcar e etanol controlada pela Louis Dreyfus, devem ter como foco possíveis vendas de ativos, diante da menor possibilidade de outra grande injeção de capital da controladora.
Após anos de prejuízo, a Biosev conduz discussões preliminares com credores para renegociar cerca de R$ 4,8 bilhões (US$ 1,2 bilhão) em empréstimos com vencimento nas temporadas 2021-2022 e 2022-2023. As negociações agora entram em uma fase mais formal.
Os executivos da Biosev devem pressionar por uma extensão significativa dos vencimentos sem oferecer novos recursos da acionista controladora, segundo uma pessoa com conhecimento direto do assunto. A Biosev não quer a repetição de um acordo de 2018, no qual a Louis Dreyfus injetou US$ 1,05 bilhão em troca de uma extensão de apenas três anos, disse a pessoa.
A Biosev e bancos realizam uma reunião no fim deste mês para definir uma estrutura para a reestruturação, disse outra pessoa com conhecimento direto das negociações. Os bancos não estão dispostos a adiar os vencimentos, a menos que a Biosev pague parte da dívida, e a melhor maneira de fazer isso, na visão dos bancos, seria vender ativos, segundo a mesma fonte.
A reestruturação da dívida da Biosev é apenas uma das muitas dores de cabeça enfrentadas pela Louis Dreyfus. A subsidária brasileira está no vermelho há anos por causa dos baixos preços do açúcar, e a controladora Louis Dreyfus está sob pressão devido à queda do lucro e saída de executivos.
Outro fator de pressão é a busca de Margarita Louis-Dreyfus para levantar caixa e financiar a compra de participações de outros membros da família e consolidar o controle.
Em resposta às perguntas da Bloomberg, a Biosev disse apenas que não há negociações oficiais com os bancos em andamento. A empresa já havia anunciado um programa de competitividade que inclui a revisão de opções estratégicas relacionadas ao seu portfólio de ativos, além da diversificação das fontes de financiamento.
Uma porta-voz da Louis Dreyfus Co., uma empresa-irmã da Biosev também controlada pela LDH, não respondeu a um e-mail com pedido de comentários.
As negociações da Biosev entram em uma fase fundamental quando a controladora aperta o cinto depois de anos de supersafras, o que vem reduzindo a volatilidade com a qual traders conseguem lucrar.
A empresa controlada por Margarita Louis-Dreyfus também foi atingida pela guerra comercial e pela propagação da peste suína africana. No ano passado, a empresa pagou o maior dividendo em cinco anos.
Há anos a Biosev enfrenta queda dos preços do açúcar em um mercado com excesso de oferta. Embora a empresa brasileira tenha vendido duas usinas no Nordeste nos últimos anos como parte de um plano para ganhar eficiência, a empresa não está disposta a vender ativos a preços baixos para satisfazer os bancos, disse uma pessoa.
Essa medida causaria mais perdas para acionistas, já que as ações da empresa acumulam desvalorização de cerca de 65% em relação ao pico de meados de 2016. Recentemente, a Biosev recusou ofertas para vender duas usinas no estado de São Paulo por serem muito baixas, disse a mesma pessoa (Bloomberg, 14/1/20)