17/08/2021

Crise energética: remediar 2021, prevenir 2022 – Editorial Estadão

Crise energética: remediar 2021, prevenir 2022 – Editorial Estadão

Trecho seco do reservatório da hidrelétrica de Legenda: Marimbondo, entre as cidades de Guaraci e Icém, em São Paulo Foto: Joel Silva/ Estadão

 Governo precisa se preparar para comprar uma nova geração emergencial e implementar o quanto antes seu programa de redução de consumo.

 A crise hídrica se agravou em julho, com as chuvas abaixo do esperado no Sul. Em cinco Estados das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, 53 municípios, entre eles Curitiba, já implementaram racionamento de água. Por ora, o Ministério de Minas e Energia segue descartando a hipótese de racionamento de energia, e mais ainda de apagão, como em 2001.

De lá para cá, a matriz energética se tornou menos dependente das hidrelétricas. Medidas como o aumento da geração pelas usinas termoelétricas, a flexibilização dos limites de armazenamento e vazão das hidrelétricas ou a importação de energia têm dado fôlego à geração energética.

O governo também promete, até o fim do mês, um programa para compensar grandes consumidores que se voluntariarem a reduzir o consumo ou evitar períodos longos e horários de pico. A pasta estuda compensar também consumidores residenciais.

Segundo o especialista em energia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Roberto Wagner Pereira, se essas e outras medidas adotadas pelo governo derem certo, o risco de racionamento ficará no patamar que o setor elétrico já trabalha normalmente.

A apreensão, contudo, segue alta, impactando o planejamento do setor produtivo: 62% dos empresários ouvidos pela CNI acreditam que o racionamento é provável ou certo e 52% acreditam que haverá redução da competitividade, se não pelo racionamento, ainda incerto, pela alta nos custos, já contratada.

Também incerto é o alcance do programa de redução voluntária. Para 65% dos empresários, é “difícil” ou “muito difícil” mudar o horário de operação de suas empresas, ainda mais em pleno processo de recuperação.

Mas mais incerto que o futuro próximo é o distante. A depender do período úmido no Centro-Sul, de outubro a abril, o pior ainda pode estar por vir: o risco é de que não seja possível atender à demanda de energia em 2022. Na melhor das hipóteses, os índices pluviométricos superarão os de 2020-2021, restaurando a normalidade. Se forem iguais, segundo o diretor-presidente da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso, passamos “no talo”. Se forem piores, além de faltar luz, pode faltar água.

Estratégias preventivas precisam ser tomadas já. O governo precisa se preparar para comprar nova geração emergencial e implementar o quanto antes seu programa de redução de consumo. Uma ampla campanha de conscientização também é fundamental (O Estado de S.Paulo, 17/8/21)