12/01/2018

Cultivo de soja em área desmatada da Amazônia cresceu 27%

Cultivo de soja em área desmatada da Amazônia cresceu 27%

A Amazônia teve na safra 2016/17 47,365 mil hectares semeados em desacordo com a Moratória da Soja no Bioma Amazônico, ou seja, ocupados com a oleaginosa em áreas desmatadas após 2008. Ao fazer um balanço da Moratória da Soja, hoje em Brasília, o diretor da Agrosatélite, Bernardo Rudorff, disse que o número representa um aumento de 27,5% em relação ao ciclo anterior, quando a soja foi cultivada em área deflorestada após 2008 em 37.155 hectares. Rudorrf frisou que, apesar do aumento, a área em desacordo com a moratória corresponde a 0,1% da lavoura total de soja no Brasil em 2016/17.

Ele ressaltou, porém, que, considerando os 10 anos da moratória, 98% da expansão da soja na Amazônia ocorreu em área que já havia sido desmatada antes de 2008, principalmente naquela convertida de passagens. Pelo acordo da moratória, indústrias se comprometem a não adquirir a oleaginosa proveniente de áreas abertas depois do período na região do Bioma, formada por sete Estados. Rudorrf também ressaltou que a taxa média de desflorestamento observada depois da moratória (2009-2016) é 6,5 vezes menor do que no período anterior (2002-2008), o que demonstra a eficácia não só da iniciativa, mas de outros mecanismos de redução do desflorestamento.

O relatório sobre a moratória mostra que a área de 47,3 mil hectares em 2016/17 corresponde a 1,2% do total desmatado no bioma durante a vigência do acordo. Ainda conforme o documento, desde o início da medida, a área cultivada com soja na Amazônia mais do que triplicou, passando de 1,14 milhão de hectares na safra 2006/07 para 4,48 milhões de ha na safra 2016/17.

O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho – Foto -, destacou o papel da iniciativa para conter a derrubada de floresta para cultivo da oleaginosa. "Praticamente acabou o desmatamento por plantio de soja nesses últimos anos", disse. "Acredito que talvez agora comece um novo momento da soja na Amazônia, de um diferencial da soja ambientalmente correta, que ajuda a preservar a Amazônia." Segundo ele, é possível avançar na questão de gerar vantagem de preço para essa soja, criando um novo paradigma de mercado.

Para o ministro, a diferenciação da produção de grãos e criação de animais sem novos desmatamentos "dá tranquilidade ao consumidor brasileiro e estrangeiro de que não está ajudando a intensificar as mudanças climáticas". Sarney Filho afirmou que a situação do desmatamento no Cerrado também precisará ser avaliada daqui para frente. "Inevitavelmente o Cerrado vai precisar discutir processo semelhante a esse (da moratória na Amazônia)."

Sobre o Cerrado, o coordenador da moratória da soja do lado da indústria, Carlo Lovatelli, acrescentou que um grupo de trabalho está sendo formado por representantes de produtores, indústria, sociedade civil, governo e instituições financeiras. "É um bioma bem mais complexo, com presença da produção da soja massiva, então tem variáveis que precisam ser estudadas para fazer um trabalho bem feito, correto e justo", explicou. De acordo com ele, já foram discutidas medidas como mecanismos de compensação financeira ao produtor que não poderá expandir o cultivo. Em relação à Amazônia, Lovatelli afirmou que, ao representar apenas 1,2% do desflorestamento do bioma, a soja deixa de ser um vetor importante de devastação da área protegida. "Apesar de números favoráveis, o monitoramento continuará sendo realizado", destacou.

O secretário-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Lucas Brito, reafirmou o compromisso da Anec de continuar contribuindo para a moratória e "trabalhar contra o desmatamento na Amazônia e em outros biomas". "Essa é uma demanda do mercado internacional e precisamos atendê-la e manter isso nos próximos anos." Por fim, o representante da sociedade civil no acordo da moratória da soja, Paulo Adario, do Greenpeace, reconheceu que o desmatamento para produção de soja na Amazônia desde a moratória foi pequeno comparado ao aumento da produção da oleaginosa no período. "A produção de soja triplicou, e as iniciativas para garantir o controle do desmatamento não afetaram a produção", disse. "A moratória mostra que é possível produzir sem desmatar" (Broadcast Agro, 10/1/18)