31/07/2020

Custo da soja pressiona biodiesel, mas não haverá ruptura na produção

Custo da soja pressiona biodiesel, mas não haverá ruptura na produção

 

Para o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, gordura animal e óleos vegetais ganham participação na fabricação.

preço elevado da soja, puxado pela demanda da China, refletiu no valor do óleo usado na produção de biodiesel. Com isso, houve um estímulo à utilização de outras matérias-primas na produção do combustível.

A participação da soja na composição do biodiesel, que tradicionalmente supera 70%, deverá ser de 68% neste segundo semestre, segundo Juan Diego Ferrés, presidente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene).

Haverá uma elevação no uso de gorduras animais e de óleos de palma, de algodão, de milho e dos utilizados na cozinha.

Ferrés diz que essa situação não é apenas uma questão de política dos biocombustíveis, mas outros setores que utilizam derivados de soja, como o o farelo, também sentem a pressão nos preços.

 

“É uma situação passageira e não haverá nenhuma ruptura no setor. Já tínhamos vivido isso em 2018 e em 2019, mas houve um recrudescimento neste ano”.

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O presidente da Ubrabio afirma que uma conjugação de fatores deverá trazer os estoques finais de soja para um patamar próximo a zero neste ano.

Internamente, houve seca e consequente queda na produção do Rio Grande do Sul. Essa soja está fazendo falta. Além disso, a China acelerou as compras no país no primeiro semestre, enquanto Donald Trump, preocupado com as eleições de novembro, intensificou as desavenças com os chineses.

O problema é que a partir do próximo mês, até dezembro, o setor tradicionalmente vive um período de menor oferta da oleaginosa.

Mas para Ferrés, tudo se normalizará no próximo ano, uma vez que haverá aumento de área semeada com soja e a produção de 2020/21 deverá ficar próxima de 132 milhões de toneladas.

A mistura de biodiesel ao diesel é de 12% neste ano, e chegará a 15% em 2023. Por isso, o país tem de acelerar a moagem de soja.

Esse aumento do esmagamento, no entanto, não deverá ser apenas por causa do biodiesel, mas também para trazer maior valor agregado à soja, produto líder na balança comercial, segundo o presidente da Ubrabio.

Essa mudança, porém, não cabe apenas à indústria, mas a uma política de gestão e de equalização interna do setor, diz.

Após queda em abril, o consumo de biodiesel vem se recuperando. A produção do primeiro semestre deste ano atingiu 3 bilhões de litros, 9,3% mais do que em igual período do ano passado, conforme dados da Ubrabio.

Números da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) indicam que a produção nacional de soja é de 125 milhões de toneladas nesta safra. Acrescentando-se o estoque inicial de 3,3 milhões de toneladas, a oferta do produto é de 128,3 milhões.

O esmagamento interno será de a 44,5 milhões de toneladas, e as exportações, de 79,5 milhões. Outros 3,8 milhões serão utilizados como sementes e por outros setores.

Confirmados esses números previstos pela Abiove, o estoque final ficará abaixo de 700 mil toneladas em 2020 (Folha de S.Paulo, 31/7/20)