02/02/2018

Custo do crédito agrícola supera juros básicos, mas oferta pode subir

Custo do crédito agrícola supera juros básicos, mas oferta pode subir

O crédito será o nó da questão do agronegócio neste ano. O período será de queda de receitas, de elevação de custos e de crédito caro.

"O custo de oportunidade de plantar será alto, com juros básicos menores do que os do crédito agrícola", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector.

Carlos Aguiar Neto, superintendente-executivo de agronegócios do Santander, diz que a taxa Selic, um pouco abaixo da taxa de crédito rural, não é tão ruim.

"Abre espaço para outros bancos participantes desse setor." Atualmente, 75% do volume de crédito sai de apenas dois bancos, acrescenta.

Na avaliação do executivo do Santander, esse novo cenário permite maior concorrência e sobra mais dinheiro para ser alocado.

"O subsídio é perverso e precifica todos de maneira igual." O mercado dá a linha de crédito para o melhor, acrescenta.

Aguiar Neto destaca ainda que é saudável uma taxa de juros de um dígito e a Selic próxima ou a um pouco abaixo do custo do crédito rural porque sobra mais dinheiro para ser distribuído.

"O cenário é de muita cautela, e o produtor precisará fazer muitas contas", diz Wellington Andrade, diretor-executivo da Aprosoja MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso).

O produtor vai ter à disposição um volume maior de crédito, mas nem todos terão acesso a esse dinheiro.

Os bancos estão mais exigentes, e o produtor já não tem o perfil ideal para se candidatar ao crédito, segundo Andrade.

O acesso ao crédito pelo produtor já vem tendo limitações. Na safra 2016/17, pelo menos 33% do dinheiro exigido para plantio e custeio das lavouras veio do próprio produtor. Nesta safra, o percentual caiu para 19%, segundo o executivo da Aprosoja.

Esse cenário ocorre em um momento complicado. O governo está com dificuldades para acertar suas contas, os custos de produção agrícola se elevaram e a relação entre câmbio e preços dos grãos em Chicago não é das mais favoráveis.

Andrade diz que o pré-custeio de R$ 12,5 bilhões, anunciado pelo governo nesta terça-feira (30), veio em boa hora. Permite uma antecipação das compras dos insumos, mas parte dos produtores poderá não ter perfil bancário para acessar o crédito.

Aguiar Neto continua acreditando no mercado neste ano. Em 2017, o Santander repassou R$ 13 bilhões para o setor, 44% acima do volume de 2016.

O crescimento foi acentuado em 2017 e não deverá se repetir neste ano. "A evolução de 2018, no entanto, será de dois dígitos em relação a 2017", diz ele (Folha de S.Paulo, 1/2/18)