Davos 2020 e o negócio de cana-de-açúcar – Por Julio Maria M. Borges
Tudo indica que a gestão das empresas caminha para além do lucro. A rentabilidade sobre capital próprio ou patrimônio líquido continua sendo necessária, mas está deixando de ser suficiente
23 de janeiro de 2020 às 16h27
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As mudanças globais no mundo dos negócios estão em evidência na reunião de Davos -Suíça que ocorre neste mês de Janeiro.
Tudo indica que a gestão das empresas caminha para além do lucro. A rentabilidade sobre capital próprio ou patrimônio líquido continua sendo necessária, mas está deixando de ser suficiente.
O novo capitalismo que se destaca em Davos é o capitalismo das partes interessadas (Stakeholders Capitalism). Ou seja, o negócio da empresa não deve ser bom somente para o dono ou acionista majoritário do negócio. Tem que ter boa governança para proteger os acionistas minoritários, clientes e fornecedores. Tem que ser bom para a geração de empregos e para o meio ambiente. Este é o novo conceito de sustentabilidade dos negócios.
E daí? Que consequências tem isto para a usina de cana que produz açúcar, etanol e energia elétrica?
Do lado positivo:
1 -Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, uma primeira consequência é relacionada ao meio ambiente. Esta é uma variável que atua a favor da usina, produtora de energia elétrica renovável (de bagaço de cana) e etanol, este combustível eficiente como redutor de emissão de gases de efeito estufa (GEE).
2- Além deste lado positivo para o setor canavieiro, teremos uma maior disponibilidade de financiamentos de fundos com viés de “projetos verdes”.
Do lado negativo:
O petróleo e a gasolina, combustíveis fósseis, podem afetar negativamente o setor de duas maneiras.
3 – Existe um potencial expressivo de redução de seu uso. Isto porque Davos sinaliza aversão a produtos que emitem gases de efeito estufa (GEE) e petróleo e derivados são grandes emissores de GEE . Teremos então uma transição energética, na medida em que se reduz a demanda de combustíveis líquidos pelo uso de carros híbridos, elétricos e veículos mais eficientes. Desta forma, a demanda de combustíveis líquidos diminui, em particular etanol.
4 – Além disso e como consequência desta condição de mercado, o preço do petróleo e derivados tende a ser menor, prejudicando a competitividade do etanol como combustível.
5 – Uma outra consequência está relacionada ao atendimento das necessidades do consumidor. Este quer ter suas necessidades atendidas pelo mínimo custo. Ou seja, o consumidor (em particular de paises ricos) pode apoiar a redução de emissões de GEE desde que seja pelo mínimo custo. É neste momento que surge a competição do lado da oferta de energia renovável.
Neste caso devemos destacar como competidores do etanol de cana a energia solar, eólica e etanol de milho. Vale lembrar que o milho safrinha também é um produto eficiente como redutor de emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Este e outros assuntos relacionados à nova safra 2020/21, preços e comercialização serão tratados em nosso próximo 19º Seminario JOB Economia, a ser realizado em 03 de Abril de 2020 no Hotel Intercontinental em São Paulo-Capital. E principalmente, muita discussão deverá ocorrer neste evento pois os temas são polêmicos e necessários para um posicionamento estratégico do produtor (Julio Maria M. Borges é sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento; Canal Rural, 23/1/20)