Definição de metas no biodiesel traz previsibilidade e investimentos
Mistura, atualmente em 10%, deverá passar para 11% em junho próximo e atingir 15% em 2023.
A definição do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) das datas e percentuais da mistura de biodiesel ao diesel dará uma nova sustentação ao mercado.
O CNPE definiu que, a partir de junho de 2019, a mistura será de 11%, subindo um ponto percentual por ano, a partir dos meses de março, até chegar a 15% em 2023.
Essa previsibilidade é muito boa e vai permitir uma ampliação de escala a médio e longo prazos no setor”, diz Juan Diego Ferrés, presidente da Ubrabio (União Brasileira dos Fabricantes de Biodiesel).
Seguindo o cronograma de mistura e uma recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos anos, o setor deverá sair dos atuais 5,5 bilhões de litros de biodiesel produzidos para 9,5 bilhões em 2023, acredita Ferrés.
O setor poderá ser impulsionado, ainda, pela chamada demanda autorizativa, que é o consumo acima do patamar mínima exigido pelo governo, com percentuais variados, que podem ir de 20% a 30%, ou até mais, dependendo da atividade.
A agricultura é uma delas, principalmente as áreas cultivadas que estão próximas das unidades de produção.
As grandes frotas nos centros urbanos, onde os níveis de poluição são elevados, também poderão estar na mira das distribuidoras. Estas vão se adaptar às exigências específicas do setor.
Ferrés destaca também a demanda que virá com a regulamentação do Renovabio (uma política nacional para o setor de biocombustíves para o país). A compra de certificados de descarbonização —os CBios (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis)— vai dar sustentação maior à produção de biodiesel.
Para Daniel Furlan, da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a regulamentação das metas traz um incentivo à agregação de valor no setor.
Haverá uma demanda firme para óleo, previsibilidade de consumo e incentivo às indústrias de processamento de soja.
A previsibilidade deverá trazer novos investimentos e movimentar toda a cadeia de produção, que é extensa. Ela parte dos contratos de compra da matéria-prima e termina nos leilões e distribuição do combustível.
Furlan relembra ainda que o valor agregado virá não apenas das vendas internas do óleo mas da conquista de novos mercados para derivados como ácidos cítricos, catalisadores e glicerina.
A mudança da mistura de 11% começa em junho do próximo ano. Com a estimativa de mais uma safra recorde de soja, o ideal teria sido o início dessa mistura em março, como ocorrerá nos anos seguintes, na avaliação do mercado. A colheita de soja ocorre nos primeiros meses do ano (Folha de S.Paulo, 2/11/18)