Definido o conselho que tomará as rédeas da BRF
A convergência entre os principais acionistas da BRF, anunciada na quarta-feira com a indicação de Pedro Parente à presidência do conselho de administração, ganhou contornos oficiais ontem. Última pendência para o acordo, a composição do conselho que será eleito em 26 de abril foi definida.
A lista dos nomes indica o protagonismo exercido pela Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras e maior acionista da BRF, com 11,4%. Além de ter o presidente-executivo da Petrobras à frente do colegiado, o atual presidente da BR Distribuidora, Augusto Cruz, será o vice-presidente do conselho da BRF. Ao que tudo indica, o nome será ratificado durante a assembleia.
Quando as fundações Petros e Previ iniciaram o movimento para encerrar a gestão Abilio Diniz, em fevereiro, Cruz já estava nos planos. No início de março, o nome dele foi indicado para a cabeça de chapa. Agora, na convergência com Abilio, teve a posição no colegiado modificada.
Na prática, a eleição do conselho de administração da BRF não se dará em uma chapa formal. Com o voto múltiplo solicitado na semana passada pela Aberdeen – dona de 5% da BRF -, cada conselheiro será eleito individualmente.
Com o acordo, haverá uma chapa informal, definida por Petros, Previ, Tarpon, Aberdeen, Península Participações (veículo de investimentos de Abilio Diniz) e os herdeiros da Sadia. Juntos, esses acionistas têm cerca de 45% de participação na BRF. Somados a gestoras nacionais como a Jardim Botânico, que apoiam as mudanças, chega-se a quase 50%. Na assembleia, o que vale é o capital presente. Na média, a presença é próxima de 80%.
O entusiasmo dos investidores após a indicação de Pedro Parente fortalece a chapa informal. Depois de subiram mais de 9% na quarta-feira, as ações da BRF se valorizaram 4,9% ontem e alcançaram R$ 24,17. Pelo segundo dia consecutivo, a BRF liderou o Ibovespa.
Sem a chapa formal, a solução foi o atual conselho de administração da BRF recomendar a eleição de dez conselheiros. Reunidos na manhã de ontem, os conselheiros aprovaram, além de Parente e Cruz, quatro remanescentes do atual colegiado.
A executiva Flávia Almeida, braço-direito de Abilio e sócia da Península, seguirá no conselho da BRF, assim como o advogado Francisco Petros e o vice-presidente do Banco do Brasil, Walter Malieni. Os dois últimos são nomes da confiança das fundações. No atual conselho da empresa, foram indicados por Petros e Previ, respectivamente.
No acordo, Luiz Fernando Furlan, ex-ministro da Indústria e herdeiro da Sadia, também foi prestigiado. Além de ter o nome indicado para permanecer no conselho, Furlan conseguiu emplacar o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues no colegiado da companhia. Os dois são amigos e compuseram o ministério durante o governo Lula.
Durante as tensas negociações, o nome de Furlan foi considerado por Abilio para a presidência, mas os fundos de pensão nunca concordaram com a proposta. Até a terça-feira, quando a acordo em torno de Parente ainda não estava sacramentado, Furlan buscava se firmar como "pacificador" da BRF. Conforme uma fonte próxima a Abilio, a postura diplomática do ex-ministro foi fundamental durante a fase crítica.
Por fim, também foram indicados para a eleição do conselho da BRF os executivos Roberto Mendes, diretor financeiro da Localiza, Dan Ioschpe, que integra o conselho da WEG, e o ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários e sócio-fundador da Jardim Botânico, José Luiz Osório.
Para Peter Taylor, sócio-gestor responsável pela Aberdeen no Brasil, o acordo é positivo. Segundo ele, Parente reúne todas as condições para contribuir com a volta da BRF aos trilhos – o que demanda não só a coesão do conselho de administração, mas também clareza na estratégia diante dos desafios impostos pelos embargos decorrentes da Operação Trapaça.
Na avaliação do gestor da Aberdeen, recuperar a BRF é um processo que levará anos. Embora a tarefa seja de longo prazo, Taylor afirmou que é preciso definir rapidamente o futuro da gestão executiva da BRF.
Caberá ao novo conselho de administração da companhia definir se José Aurélio Drummond seguirá como CEO, cargo que exerce desde o fim de 2017. Na área operacional, a BRF tem desafios espinhosos. Ontem, a empresa anunciou que vai rever o planejamento de produção, o que pode resultar na paralisação de mais unidades.
No entendimento da Aberdeen, a BRF também terá de avaliar as aquisições feitas no exterior durante a gestão de Pedro Faria (2015-2017). "A BRF precisa repensar sua estratégia internacional e verificar se os ativos adquiridos oferecerão mesmo os retornos esperados", afirmou Taylor (Assessoria de Comunicação, 20/4/18