Demanda mundial favorece algodão
O mercado global de algodão vive grandes mudanças e o produtor brasileiro da fibra já sente os primeiros efeitos positivos desse cenário. A demanda firme pelo produto ao redor do mundo, aliada à disputa comercial entre Estados Unidos e China, deve alçar o Brasil ao terceiro lugar no ranking dos maiores exportadores mundiais já na safra atual, a 2017/18. Ao mesmo tempo, a perspectiva de avanço no mercado internacional também estimula o aumento do plantio da pluma por produtores brasileiros.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), o país pode chegar à segunda colocação entre os maiores exportadores, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, na safra 2018/19, que começa em julho deste ano. A previsão é que os embarques da pluma alcancem 1,2 milhão de toneladas no período.
Nesse ambiente, os produtores devem seguir ampliando o plantio. A primeira estimativa de intenção de plantio da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para o ciclo 2018/19 – que começará a ser semeado em janeiro – mostra alta de 12,5%, para 1,33 milhão de hectares. Isso depois de um aumento de 25,2% na área na safra 2017/18.
Na guerra comercial entre EUA e China, o Brasil também pode ganhar, segundo analistas. O algodão entrou na lista de retaliação de Pequim, e o produto americano deve sofrer taxação adicional de 25% a partir de 6 de julho.
"O fluxo de importação e exportação de algodão é de 8,5 milhões de toneladas, e o EUA representam 40% do comércio global", lembra Henrique Snitcovski, presidente da Anec. "Desfavorecer o algodão americano pode favorecer outras origens, inclusive o Brasil", avalia. A China continuará precisando do algodão dos EUA, mas a fatia americana na importação chinesa de algodão, que é 45%, deve cair.
O país asiático vinha vendendo seus estoques de algodão – que são de safras antigas – e deve voltar a fazê-lo no ciclo 2018/19, segundo o Ministério da Agricultura chinês. Mas a oferta de fibra de alta qualidade na China continuará insuficiente e por isso a demanda do país deve aumentar.
Outro fator que estimula a procura pela commodity é a alta das fibras sintéticas. Segundo Vitor Andrioli, da consultoria INTL FCStone, o preço da fibra de poliéster da China subiu 26% nos últimos 12 meses. O aumento reflete o endurecimento das leis ambientais no país, o que encareceu a fabricação do produto, e a alta do petróleo.
Nesse cenário de maior demanda e problemas com a safra 2018/19 nos EUA, o algodão em Nova York alcançou o maior nível em cinco anos. E mesmo com guerra comercial entre China e EUA – que pressiona as cotações -, os contratos de segunda posição acumulam alta de 23,3% em 12 meses.
"O produtor brasileiro está de olho em tudo isso e está investindo para ampliar a área", afirma Arlindo Moura, presidente da Abrapa. Se o clima ajudar e a produtividade se mantiver em linha com a alcançada na safra 2016/17, o país pode colher, na próxima safra, 2,26 milhões de toneladas de pluma.
Os investimentos para ampliar a área de algodão são grandes, mas a rentabilidade compensa. O plantio de área nova exige aportes em equipamentos como algodoeiras e colhedoras, maior preparação do solo e mão de obra. "Uma área de mil hectares de soja e milho precisa de três pessoas. A mesma área de algodão precisa de pelo menos 20", diz Orcival Guimarães, produtor de Lucas do Rio Verde (MT).
O produtor vai semear 27 mil hectares com algodão na safra 2018/19, um aumento de 28,6% sobre o ciclo anterior, avançando sobre áreas de milho safrinha. "Nós aqui temos de comparar a remuneração do algodão com a do milho. E o valor agregado do algodão é muito maior", observa.
Segundo Victor Ikeda, do Rabobank, a rentabilidade do produtor de algodão em Mato Grosso, Estado que concentra 70% da produção brasileira, foi alta em 2017/18. "Considerando custos de campo sem contar o beneficiamento e a venda do caroço, a margem ficou próxima de 40%, bem acima da média de 28% dos últimos anos" (Assessoria de Comunicação, 28/6/18)