19/06/2020

Dependência do trigo pode diminuir

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Legenda: Máquina agrícola durante colheita de trigo em Toledo (PR). - Claudio Gonçalves - 28.ago.08/Folhapress

 

Embrapa desenvolve variedades para novas regiões brasileiras e obtém boa produtividade.

O Brasil se tornou líder mundial em exportações de vários produtos agropecuários nos últimos anos, inclusive de milho. Neste último caso, não deverá manter a liderança.

O país não consegue, no entanto, ser autossuficiente em trigo.

Em tempos de pandemia, o Brasil se vangloria de poder alimentar o mundo. Eventuais barreiras às exportações de commodities por grandes produtores mundiais, política já adotada por alguns, poderiam provocar uma situação de desabastecimento desse cereal no país.

No ano passado, os brasileiros importaram 6,6 milhões de toneladas de trigo, no valor de US$ 1,5 bilhão. Gastaram, ainda, mais US$ 120 milhões na compra de farinha. O país está entre os cinco maiores importadores mundiais do cereal.

Esse cenário, porém, pode ser mudado, na avaliação da Embrapa Trigo. O Brasil tem pelo menos 10 milhões de hectares aptos ao plantio do cereal, mas utiliza apenas 2 milhões.

Concentradas no Sul do país, as lavouras de trigo podem ser intensificadas no Centro-Oeste e chegar, inclusive, ao Nordeste.

A Embrapa tem proposta de levar conhecimento sobre a cultura a novas regiões e atingir pelo menos mais 1 milhão de hectares de área cultivada no cerrado, até 2025.

Testes de plantio em novas áreas têm dados resultados promissores, segundo Osvaldo Vieira, chefe-geral da Embrapa Trigo. A qualidade do produto se mostra excepcional e mantém o padrão do trigo canadense nessas novas áreas.

Isso mostra que é uma falácia dizer que o trigo nacional não tem qualidade, afirma ele.

O aumento de área de trigo em 1 milhão de hectares já garantiria pelo menos mais 3 milhões de toneladas do cereal para o país.

A Embrapa tem uma série de desafios técnicos nessa missão, principalmente no desenvolvimento de variedades específicas para as diversas regiões do país.

Além de incentivar uma lavoura agronômica, onde os custos compensem a produção, a empresa busca desenvolver sementes adaptáveis às regiões. No cerrado e no Nordeste, por exemplo, a cultura deverá ter sanidade e boa tolerância a calor e estresse hídrico.

Vieira acredita no sucesso dessa missão de elevar a produção porque a Embrapa está trabalhando em parcerias e seguindo demandas específicas de mercado.

A empresa tem três estações de programas de melhoramentos: em Passo Fundo (RS), em Londrina (PR) e em Uberaba (MG). Com isso, ela pode atender as especificidades do mercado e da cadeia de trigo.

Vieira acredita na expansão da produção até pelas novas demandas. Além da produção do cereal para pães e biscoitos, há uma demanda de produto para o mercado externo e também para a complementação da ração animal, substituindo o milho, principalmente em Santa Catarina.

A demanda externa pelo produto brasileiro vem da Ásia, tendo como líderes na importação Indonésia, Filipinas e Vietnã. No ano passado, o Brasil exportou 564 mil toneladas de trigo. Neste ano, as vendas já programadas estão próximas de 800 mil.

O aumento de área de trigo poderá vir também pela boa produtividade. Áreas experimentais com trigo sequeiro já chegam a 6.000 quilos por hectare no cerrado. O objetivo agora é levar essa alta produtividade para as lavouras comerciais.

Vieira diz, porém, que uma boa produtividade depende muito do solo e do manejo adequado. No caso do solo, o melhoramento é construído aos poucos e pode levar tempo.

Na região do Distrito Federal algumas lavouras irrigadas já chegam a 8.440 quilos por hectare (Folha de S.Paulo, 19/6/20)