Desafio climático é pior para os pobres – Editorial O Estado de S.Paulo
O custo de adaptação à nova realidade ambiental é maior para os países pobres. Eles precisam de apoio mundial.
Desastres naturais cada vez mais frequentes e custosos em termos materiais e humanos são um alerta para governos e sociedades. O mundo tem de se preparar para as consequências das mudanças climáticas, cada vez mais extensas. Todos os países, ricos ou pobres, precisam se adaptar a essas mudanças, senão todos terão de pagar pela omissão, advertem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e dois outros diretores, em texto divulgado pela instituição.
Haverá custos. E, como em outras situações, eles serão proporcionalmente maiores para os países que menos dispõem de recursos. A assimetria de respostas às mudanças climáticas decorrente das diferentes condições econômicas e sociais dos países pode comprometer o indispensável combate ao aquecimento global.
Trata-se de um problema mundial. Por isso, é necessário buscar mundialmente respostas para as mudanças climáticas, como advertem os autores do texto publicado pelo FMI. Os países pobres precisam de apoio global para se adaptar a essas mudanças, não apenas para que eles próprios estejam mais bem preparados, mas para que o mundo não venha a incorrer em custos talvez impagáveis no futuro.
Principal órgão internacional dedicado à defesa de políticas fiscais que assegurem o desenvolvimento equilibrado dos países que dele fazem parte, o FMI ficou conhecido também nas últimas décadas pelo socorro financeiro que forneceu a governos de países em dificuldades fiscais. A contrapartida era a adoção, pelos países socorridos, de programas rigorosos de ajuste financeiro. Seu foco continua sendo a política fiscal. Mas, agora, incluiu a adaptação às mudanças climáticas como elemento essencial do planejamento fiscal dos países-membros.
Em termos práticos, a adaptação para as mudanças no clima envolve, por exemplo, apoio à agricultura, por meio de poupança e investimentos voltados para melhorar a irrigação, desenvolver variedades mais adaptadas às condições climáticas, fortalecer o sistema de saúde e assegurar acesso a financiamento e à telecomunicação.
Apoio desse tipo é particularmente produtivo em regiões mais pobres, como a África Subsaariana. Mas é necessário também em outras regiões pobres do planeta, para que elas também estejam mais adaptadas às mudanças climáticas.
O FMI estima que o custo médio de adaptação às mudanças climáticas esteja em torno de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) pelas próximas décadas. Tolerável para os padrões mundiais, esse custo é notavelmente mais alto em cerca de 50 países listados entre os mais pobres do mundo. Nesses, pode corresponder a 1% do PIB.
Os países pobres são os menos responsáveis pelas mudanças climáticas, mas é justamente sobre eles que, proporcionalmente, recai o maior custo para enfrentá-las. É, por isso, do interesse de todo o mundo que se encontre um meio para financiar os investimentos necessários nesses países. O custo de evitar um desastre é menor do que o de recuperar um país devastado, com efeitos sobre todo o planeta (O Estado de S.Paulo, 3/4/22)