Desafios da Comercialização de milho no Brasil
Por André Luís Ramos Sanches
Antecipar tendências de preços de milho no Brasil não é tarefa fácil. As condições de oferta e demanda regionais prevalecem no processo de formação de preços deste cereal, o que, por sua vez, faz com que os valores não apresentem a mesma tendência entre as diferentes praças produtoras do País.
Esse contexto impõe um grande desafio aos diferentes agentes que operam neste mercado. Vale lembrar que o milho é um insumo de grande importância para outras cadeias produtivas, amplamente utilizado como ração animal, nas indústrias alimentícia, química, farmacêutica, de papéis, têxtil, matéria-prima para produção de biocombustíveis, entre outras agroindústrias.
Diante da importância do cereal para os custos e, portanto, a rentabilidade de produtores e agentes das diferentes cadeias produtivas, a necessidade de gerenciar os riscos em termos de oscilação indesejada de preço é evidente.
Em comparação à soja, as condições internacionais têm peso menor – porém crescente – no mercado de milho. Isso ocorre porque, no caso da oleaginosa, as transações internacionais do grão e dos derivados representam cerca de 2/3 da produção mundial. No milho, as transações internacionais do cereal representam menos de 15% da produção mundial. Assim, para que choques de preços internacionais sejam repassados entre países, na prática, é preciso que as transações ocorram e isto pode demorar algumas semanas ou até meses.
No mercado interno, os principais fundamentos que corroboram as diferenças regionais de preços são custos do transporte, tributação complexa, valores nos portos, ritmo de exportação, estoques, clima e o descompasso entre a oferta e a demanda em diferentes momentos do ano.
Nesse sentido, para melhor entendimento de preços regionais, é importante que os agentes considerem os períodos de safra e entressafra e também as movimentações verificadas em anos anteriores (sazonalidade). Tendo em vista as incertezas na produção e comercialização, é importante garantir, de forma antecipada, o preço de venda ou de compra para uma parte da produção ou de consumo.
Como nos últimos anos a taxa de crescimento da oferta tem sido maior do que a de consumo interno, puxada principalmente pela segunda safra, há geração de excedentes, que precisam ser exportados. Com isso, atualmente, o mercado brasileiro tem maior relação com o internacional e agentes passam a buscar uma interação entre as cotações externas e internas.
Nesse contexto, as exportações passaram a exercer maior influência sobre as cotações domésticas, principalmente no segundo semestre, quando a disponibilidade interna é maior. Neste ano, especificamente, as recentes disputas comerciais entre Estados Unidos e China e dificuldades no semeio norte-americano tendem a favorecer as exportações brasileiras e, consequentemente, a impulsionar as cotações domésticas.
Uma referência importante no mercado de milho é o Indicador ESALQ/BM&FBovespa, que tem como base a região de Campinas (SP), e é utilizado na liquidação financeira de contratos futuros negociados na B3. Na Bolsa, agentes podem fixar o preço de venda (ou compra), ao utilizar o contrato futuro. Vale ressaltar que os contratos de milho são de liquidação financeira, o que significa que as posições em aberto, após o encerramento do pregão do último dia de negociação, serão liquidadas pela B3 na data de vencimento, pela média aritmética dos últimos três dias (incluindo o dia de vencimento) do Indicador ESALQ/BM&FBovespa. Via contrato futuro, o produtor e/ou o demandante podem fixar o preço de venda e/ou de compra, como forma de proteção das oscilações (André Luís Ramos Sanches é pesquisador do CEPEA/ESALQ/USP)