Descarbonização é o novo desafio para a indústria sucroenergética
Por Evandro Gussi
País deu um passo gigantesco com a criação do Proálcool; com o Renovabio, Brasil avança rumo à mobilidade sustentável.
Por Evandro Gussi
Em um mundo globalizado, estar na vanguarda é primordial em qualquer área, mas principalmente se a questão for relativa aos pilares do ESG (governança ambiental, social e corporativa).
No campo ambiental, o país deu um passo gigantesco quando decidiu introduzir o etanol em sua matriz energética com a criação do ambicioso programa Proálcool, em plena crise do petróleo, em 14 de novembro de 1975. Com esse passo, o Brasil conseguiu desenvolver o primeiro biocombustível comercial do mundo.
As montadoras lançaram os primeiros carros movidos exclusivamente à álcool no fim da década de 1970. Era uma aposta e uma resposta visando reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados.
Em 2003, assistimos a mais uma inovação que potencializou o uso do etanol combustível no país: o lançamento dos veículos flex-fuel.
Desde então, os avanços do setor sucroenergético não cessaram. De maneira voluntária, a cadeia praticamente estabeleceu o fim das queimadas da palha na colheita da cana-de-açúcar. A mecanização ampliou o uso de tecnologia nos canaviais e, se não bastasse, estabeleceu um dos maiores processos de requalificação profissional que o Brasil já conheceu: o antigo cortador de cana ocupa outras funções, e as modernas e eficientes usinas continuam como geradoras de emprego.
São 360 unidades produtoras em atividade hoje no país, gerando mais de 700 mil empregos formais apenas no setor produtivo. Somados os empregos indiretos, temos cerca de 2 milhões de pessoas empregadas na cadeia da cana-de-açúcar. E isso utilizando apenas 1,2% do território brasileiro.
O setor é pujante e gerou US$ 6,2 bilhões (R$ 34 bilhões) em divisas externas em 2019 com as exportações de açúcar e de etanol. O valor bruto movimentado pela cadeia sucroenergética supera US$ 100 bilhões, com um PIB de aproximadamente US$ 40 bilhões (R$ 219 bilhões) (montante equivalente a cerca de 2% do PIB brasileiro).
A cana, como a primeira fonte de energia renovável do país, é responsável por 18% da matriz nacional ou 39% de toda a energia renovável ofertada no país. Esse percentual já posiciona o Brasil acima da média mundial (13,9%) e dos países desenvolvidos da OCDE (10,8%) no uso de energias limpas e renováveis.
Os benefícios do uso do etanol associados à saúde pública impressionam: trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo concluiu que o uso do biocombustível nas oito principais regiões metropolitanas do Brasil tem sido responsável pela redução de quase 1.400 mortes e mais de 9.000 internações anuais ocasionadas por problemas respiratórios e cardiovasculares associados a queima de combustíveis fósseis.
Quando avaliadas as emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE) no ciclo de vida dos combustíveis, o etanol proporciona uma redução de até 90% da emissão de GEE em relação à gasolina.
Nesse ano estamos novamente na vanguarda com o maior programa de descarbonização já lançado: o Renovabio. O programa visa reduzir as emissões no setor brasileiro de transporte, ampliando o uso de biocombustíveis.
Assim, com o comprometimento absoluto do setor nas questões socioambientais, queremos avançar ainda mais naquilo que fazemos de melhor: contribuir, mesmo quando o sol se põe, para que o Brasil seja o líder global em mobilidade sustentável (Evandro Gussi é diretor-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica); Folha de S.Paulo, 14/11/20)