Desempenho da agricultura durante o primeiro ano da Covid-19
Por Fernando Mendes Lamas
A pandemia do novo coronavírus teve início durante a colheita da safra de verão 2019/2020 e início da implantação da safra de outono inverno (safrinha) de 2020. Ambas as safras foram concluídas, porém não podemos dizer que normalmente, pois a tensão era grande.
Em outubro de 2020, iniciou-se uma nova safra de verão, com alguns percalços em decorrência da irregularidade na distribuição de chuvas, mas com resultados que podem ser considerados bons.
A exceção ocorreu nos estados de Tocantins, Mato Grosso e Paraná, onde as chuvas dificultaram a operação de colheita e atrasaram a semeadura do milho segunda safra (safrinha).
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos de 2020/2021, deverá ser de 272,3 milhões de toneladas, 6% maior que a anterior.
A grande surpresa é o preço dos principais produtos agrícolas. O preço do algodão teve um incremento da ordem de 47,%, o do milho de 39,4%, da soja foi de 40,5% e a arroba do boi gordo aumentou 33,5%. Essas altas de preços devem-se fundamentalmente ao aumento da demanda interna e externa.
O ano de 2020, foi particularmente importante para o setor agropecuário brasileiro.
Enquanto o crescimento do PIB total do Brasil foi negativo, o da agropecuária apresentou crescimento de 24,2% em relação a 2019, alcançando a participação de 26,6% do PIB total, de acordo com os dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O bom resultado da colheita para a maioria dos produtos e regiões do Brasil, associado aos preços remuneradores, têm incentivado os produtores a modernizarem os processos produtivos, com a utilização de plantas de cobertura objetivando a melhoria e ou a manutenção da qualidade do solo.
Cabe destacar, também, o avanço da incorporação da agricultura digital, proporcionando a otimização das operações agrícolas e da logística de todo o processo.
Embora a pandemia do coronavírus tenha provocado significativas mudanças nos hábitos e costumes da população mundial, a demanda por alguns produtos como algodão, celulose, carnes e aç
A exportação brasileira de carne bovina, aumentou 8% em 2020 e a de suínos 36,1%, em relação a 2019. Os produtores tiveram que ajustar suas práticas de produção, incorporando medidas de biossegurança, para minimizar as consequências de eventual ocorrência da doença entre os seus colaboradores.
Em virtude do momento favorável à produção agrícola, em diversas regiões onde havia predomínio da agricultura, observa-se o aumento da integração lavoura-pecuária. Esse modelo de produção confere maior dinamismo à atividade agrícola, com melhor aproveitamento dos recursos e, por conseguinte, aumento da produtividade.
O conjunto das transformações que estão ocorrendo na agricultura brasileira coloca o Brasil numa posição de destaque na produção de alimentos, fibras e energia. Para que possamos continuar ocupando essa posição, tanto no mercado interno, quanto no mercado externo, é preciso atenção também com a qualidade dos produtos, devido aos compradores estarem cada vez mais exigentes.
Assim, tão importante quanto a produtividade é a qualidade do produto, podendo não encontrar mercado, caso não atenda esse quesito.
Também passam a ser consideradas, no momento da comercialização, as condições de produção, como o atendimento das questões de bem-estar animal para a produção de carne. Assim, a rastreabilidade ganha contornos cada vez mais sólidos e para vários produtos.
Em síntese, observa-se que durante o ano de 2020, primeiro ano da pandemia, a agricultura brasileira avançou tanto nos aspectos quantitativos quanto nos qualitativos da produção, contribuindo para com a economia nacional, especialmente à crescente participação dos produtos agrícolas nas exportações (Fernando Mendes Lamas é pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste)