Disputa entre EUA e China faz da soja brasileira a mais cara do mundo
Guerra comercial pode dar novo fôlego aos produtores nacionais da oleaginosa.
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China avança e se volta também para o mercado agropecuário. Brasil e EUA têm uma certa similaridade na produção do campo, o que pode dar novo fôlego aos produtores nacionais nessa disputa entre os dois gigantes.
É o que o mercado entendeu nesta quarta-feira (4). Os prêmios da soja brasileira chegaram ao recorde de US$ 1,80 por bushel nos valores do contrato de maio na Bolsa de Chicago.
Ou seja, a tonelada de soja no Brasil superou em US$ 66 o valor praticado na Bolsa nos EUA. O prêmio é o quanto o mercado está disposto a pagar a mais para ter o produto brasileiro.
Essa preferência torna a soja brasileira a mais cara do mundo. O preço da tonelada nos portos brasileiros supera em US$ 30 o praticado nos dos EUA e em US$ 12 nos da Argentina.
A pesquisa diária de preços da AgRural apontou os reflexos desse cenário nos preços pagos aos produtores internos. A saca de soja, em plena safra, se mantém em R$ 75 em Cascavel (PR) e em R$ 66 em Sorriso (MT), apesar da queda de preços na Bolsa de Chicago.
A alta do produto brasileiro poderá fazer alguns importadores, como União Europeia e Japão, buscarem a oleaginosa nos EUA.
A força da China, porém, é o que interessa. Segundo o governo chinês, as importações do país somaram 95,5 milhões de toneladas em 2017: 50,9 milhões do Brasil; 32,9 milhões dos EUA; 6,6 milhões da Argentina; e 2,6 milhões do Uruguai.
Os olhos dos chineses já vinham se voltando para o Brasil. Em 2017, o país exportou 68 milhões de toneladas de soja, 54 milhões para a China, segundo dados do governo brasileiro.
Para este ano, as estimativas de exportação apontavam para 70 milhões de toneladas. A guerra comercial entre as duas potências abre espaço, porém, para pelo menos 74 milhões.
O Brasil é o único país com possibilidade de elevar a produção de soja sem sacrificar outras culturas, mas não substituirá os EUA de imediato. A produção brasileira deste ano será apenas 6 milhões de toneladas superior à anterior.
A disputa comercial entre as duas potências ocorre em um momento ruim para os chineses. A Argentina, o terceiro maior produtor mundial, está com queda de produção de pelos menos 18 milhões de toneladas.
Ainda é cedo para avaliar as consequências da imposição, pelos chineses, da taxa de 25% sobre a soja dos EUA e da alta do prêmio da soja brasileira. Os preços internacionais, contudo, vão se manter aquecidos.
A lista da retaliação dos chineses aos produtos americanos é longa e inclui soja, milho, algodão, suco, carnes e tabaco, produtos que o Brasil produz (Folha de S.Paulo, 5/4/18)