13/12/2021

Donos da JBS buscam atalho para rever multa bilionária acertada em 2017

Donos da JBS buscam atalho para rever multa bilionária acertada em 2017

IRMAOS BATISTA Crédito Joao Castellano Ag. Istoe

Imagem Isto É Dinheiro

J&F aposta em recurso à cúpula do Ministério Público Federal após derrota na Justiça.

A J&F Investimentos, controladora da gigante de carnes JBS, está em busca de um atalho para reduzir drasticamente a multa bilionária que negociou com o Ministério Público Federal na época em que os irmãos Joesley e Wesley Batista fizeram seu acordo de delação premiada, em 2017.

A empresa recorreu ao Conselho Institucional do Ministério Público para contornar resistências encontradas em outras instâncias do Judiciário e evitar o pagamento da parcela da multa que venceu no início do mês. O julgamento do pedido no órgão está marcado para esta terça-feira (14).

Principal acionista da JBS e de outros negócios da família Batista, a J&F assinou em 2017 um acordo de leniência para cooperar com várias investigações sobre corrupção que estavam em andamento e concordou em pagar R$ 10,3 bilhões para se livrar de punições mais rigorosas.

A companhia pediu a revisão da multa em setembro, argumentando que os cálculos do Ministério Público adotaram critérios em desacordo com a lei, sem considerar a proporção da participação acionária da J&F nos negócios do grupo, e alegando ausência de dano aos cofres públicos nos crimes investigados.

A empresa pede a redução da multa para R$ 1,3 bilhão e propõe uma antecipação do prazo para quitação da obrigação, como sinal de boa-fé. O prazo previsto no acordo em vigor é de 25 anos. A J&F mantém o compromisso de destinar outros R$ 2,3 bilhões a projetos na área social.

Os donos da JBS apresentaram uma nota técnica da consultoria Tendências para sustentar os novos cálculos, além de pareceres jurídicos do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco Rezek e do ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira.

 A 5ª Câmara de Coordenação do Ministério Público Federal, que homologou o acordo assinado em 2017, rejeitou os pedidos da empresa, argumentando que o assunto deve ser tratado na primeira instância com a Procuradoria da República no Distrito Federal, que assinou o acordo de leniência.

A J&F também recorreu à Justiça Federal. Como o jornal O Globo informou na semana passada, o juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 10ª Vara do Distrito Federal, rejeitou um pedido de suspensão da parcela vencida neste mês e mandou a J&F depositar R$ 344 milhões em juízo.

Em recurso apresentado ao Conselho Institucional do Ministério Público contra a decisão da 5ª Câmara, os advogados da J&F pedem que todas as obrigações previstas pelo acordo sejam suspensas, inclusive a parcela cujo pagamento o juiz mandou que fosse feito na semana passada.

Além de apontar erros no cálculo da multa, a empresa afirma que assinou o acordo sob pressão de bancos e parceiros comerciais, numa época em que a opinião pública cobrava punições à empresa e aos irmãos Batista, e que por isso concordou com os valores propostos sem discussão (Folha de S.Paulo, 13/12/21)