ECB Group alinha investimento de US$800 mi em diesel renovável no Paraguai
Legenda: Presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, recebe no Palácio de Los López o empresário Erasmo Carlos Battistella, presidente do ECB Group (Amanhã)
O ECB Group, holding de investimentos do empresário brasileiro Erasmo Carlos Battistella, assinou nesta segunda-feira um memorando de entendimento com o governo do Paraguai para investir no país vizinho mais de 800 milhões de dólares em unidade de diesel e querosene de aviação renovável.
O complexo Ômega Green, que terá capacidade de produção diária de até 16.500 barris dos dois produtos, utilizará no processo o chamado “hidrogênio azul”, obtido por eletrólise da água, mas que demanda carga relevante de energia elétrica —tal tecnologia é ainda inédita em fábricas no Hemisfério Sul, segundo o ECB.
O objetivo da unidade, que teria capacidade para atender mais de um terço do consumo paraguaio de diesel fóssil, segundo a empresa, é vender a produção do combustível renovável na exportação, obtendo com isso retornos mais altos, possíveis graças a uma demanda de países que têm compromissos para a reduzir emissões de gases poluentes.
Segundo Battistella, que também é parceiro da Petrobras em outro empreendimento, a produtora de biodiesel convencional BSBios, o acordo com o governo paraguaio foi assinado após quase oito meses de estudos de viabilidade técnica e econômica.
Uma segunda etapa do projeto vai englobar questões de engenharia, licenciamento e acordos comerciais para a comercialização da produção. Ele também buscará parceiros para financiar a construção do complexo, algo que deve começar entre o final deste ano e o início de 2020.
“Vamos ter o ‘funding’ de três origens: uma parte será financiado, uma parte virá de recursos próprios e a outra de parceiros, principalmente fundos de investimentos que estão investindo em combustíveis avançados”, disse Battistella à Reuters.
“Nossa estimativa é trabalhar nove a dez meses em engenharia, a questão comercial e a financeira. Depois teremos 24 meses de obras, esperamos que no primeiro trimestre de 2022 estejamos com a operação em marcha”, destacou.
A unidade deverá ser instalada no município de Villeta, às margens do Rio Paraguai, e contará com um terminal logístico rodoviário e portuário, com escoamento da produção por hidrovia.
Ele disse que o governo do Paraguai se comprometeu a dar apoio legal, em um país que, segundo ele, já é bastante “pró-negócios”.
Haverá a necessidade, por exemplo, da criação de um marco legal para combustíveis avançados.
“A rota mais utilizada para a produção de hidrogênio é à base de gás natural. No Paraguai, como tem grande produção de energia e disponibilidade de água, vamos produzir o hidrogênio azul, à base de água. A estimativa inicial é que teremos o projeto mais verde do mundo, não tem notícia de tal projeto no Hemisfério Sul”, disse ele.
Questionado se o projeto demandará subsídios para um consumo de 300 megawatts-hora de energia, ele afirmou apenas que está dialogando com o governo daquele país para ter garantia de suprimento.
“O Paraguai já tem um preço de energia atrativo comparado com outros países. Estamos trabalhando para a energia elétrica não ser um problema, não há um subsídio, mas há uma estruturação de projeto, para que o preço que é competitivo se mantenha, para dar segurança...”, disse.
Assim como no biodiesel convencional, o diesel e o querosene renováveis utilizarão óleos vegetais, como de soja, e gorduras animais, como matérias-primas.
“Estimamos que dentro da nossa conta devemos utilizar 2 milhões de toneladas de soja, há disponibilidade de matéria-prima e as gorduras animais vão ter participação bem significativa”, declarou.
De qualquer forma, a demanda da unidade equivaleria a cerca de 20 por cento da produção paraguaia de soja, considerando dados da safra atual.
O Brasil, que colhe mais de dez vezes a produção de soja do Paraguai, também teria potencial para desenvolver o diesel renovável, algo que começará a ser discutido com a implementação do programa RenovaBio, segundo o empresário.
“Defendo essa tese, de que países do cone sul podem se transformar nos Emirados Árabes dos biocombustíveis, pelo etanol, biodiesel e os avançados...”, afirmou.
O diesel renovável é muito mais versátil que o biodiesel, podendo ser utilizado nos veículos sem a necessidade de mistura com o diesel fóssil (Reuters, 25/2/19)
Paraguai terá complexo de combustíveis renováveis de 2ª geração
A holding do setor de agroenergia ECB Group assinou nesta segunda-feira memorando de entendimento com o governo do Paraguai para construir a primeira planta de combustíveis renováveis de segunda geração do Hemisfério Sul no país. O complexo, denominado Ômega Green, terá investimento de US$ 800 milhões. Serão produzidos na unidade green diesel ou diesel renovável (Hydrotreated Vegetable Oil, HVO) e green jet ou querosene renovável (Synthetic Paraffinic Kerosene, SPK). A construção está prevista para iniciar no começo do ano que vem. "Estamos estudando outros investimentos, mas o nosso foco agora está nesse projeto, que nos coloca em uma nova categoria de biocombustíveis avançados", disse o presidente do ECB Group, Erasmo Carlos Battistella (Foto), ao Broadcast Agro.
Segundo Battistella, nos próximos nove a dez meses será desenvolvido o projeto executivo de engenharia do complexo para depois iniciar a construção. "Nós temos três grandes fornecedores de tecnologia. Temos um fornecedor para a tecnologia de processamento da soja, outro para a tecnologia de hidrogênio azul, produzido a base de água utilizando eletrólise, e um terceiro para a tecnologia que transforma o óleo vegetal e as gorduras nos biocombustíveis avançados", disse o empresário. "A integração dessas três tecnologias precisa ser muito bem dimensionada porque isso ajuda a reduzir o custo de capex do investimento e a nos tornarmos mais competitivos na operação."
A intenção é começar a produzir no primeiro trimestre de 2022, segundo o executivo. "Vai coincidir com a colheita da safra de soja", apontou. Segundo ele, o complexo deverá consumir 2 milhões de toneladas da oleaginosa por ano, o equivalente a 20% da produção do Paraguai. "O país exporta mais de 50% da soja em grão. Então há disponibilidade no Paraguai e existe perspectiva de crescimento de produção. O governo está incentivando o aumento de produção com a expansão da fronteira agrícola da soja." A produção no complexo terá como insumos óleo de soja, gordura animal reaproveitada, óleo de cozinha reciclado e hidrogênio obtido por meio da eletrólise da água, e não a partir de gás natural, o que torna a produção mais sustentável, de acordo com o empresário. O complexo também será alimentado por energia de fontes renováveis.
Conforme Battistela, os combustíveis renováveis de segunda geração são complementares ao biodiesel. Battistella é presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) e um dos maiores produtores de biodiesel no Brasil. No portfólio do ECB Group, está a RP Bio, detentora de participação na joint venture BSBIOS, em parceria com a Petrobras. "Hoje no Brasil a gente produz biodiesel, que é um biocombustível importante. No Paraguai vamos produzir biocombustíveis avançados, que vão complementar a utilização dos biocombustíveis de primeira geração", afirmou. "Acreditamos que o biodiesel vai continuar crescendo, e o green diesel e o biojet têm outro caminho. Não são conflitantes."
O complexo terá capacidade de produção diária de até 16.500 barris de diesel e querosene renováveis, volume suficiente para atender mais de um terço do consumo paraguaio de diesel fóssil. A maior parte dessa produção será voltada à exportação para países signatários do Acordo de Paris, que precisam acelerar a redução das emissões de gases de efeito estufa por meio da substituição dos derivados de petróleo. "A tecnologia é consolidada, mas nós não temos produção abaixo da Linha do Equador, por isso o projeto é inovador", apontou.
O financiamento do projeto deve vir de três origens: uma parte de linhas de financiamento bancário de longo prazo para investimento em infraestrutura, uma segunda parte de recursos próprios e uma parte de parceiros. "Estamos conversando com fundos que demonstraram grande interesse em serem parceiros nesse projeto", disse o executivo.
Segundo Battistela, a escolha pelo Paraguai para o novo investimento atendeu a vários critérios. "É um país que tem criado ambiente favorável para receber novos investimentos", disse Battistela. Ele destacou disponibilidade de matéria-prima e energia elétrica. "Além disso, o Paraguai é um dos países que têm menor carga tributária, e a logística através da hidrovia do rio Paraguai é muito competitiva para exportarmos." (Broadcast, 25/2/19)