Economista vetada pela Petrobras será recebida pelo agro em São Paulo
Legenda: A economista americana Deirdre McCloskey, da Escola de Chicago; na semana passada, ela disse que "Bolsonaro é qualquer coisa menos liberal"
Deirdre McCloskey participará de debate com empresários.
A economista norte-americana Deirdre McCloskey, que teve uma palestra cancelada pela Petrobras depois de criticar Bolsonaro, será recebida “com tapete vermelho” pelo agronegócio em SP. Representantes do setor estão organizando um almoço-debate no restaurante Rubaiyat, na sexta (31).
TAPETE
"Ela será recebida com pompa e circunstância pelos principais empresários do agro, interessados em ouvir seu vasto conhecimento sobre economia e liberalismo”, diz o advogado Eduardo Diamantino, que organiza o encontro (Mônica Bergamo, Folha de S.Paulo, 29/1/20)
'Não é através do Estado que as pessoas ficam ricas', diz economista Deirdre McCloskey
Legenda: Para reduzir impostos, que considera ineficientes, Deirdre sugere corte de investimentos nas forças armadas
Americana, que teve sua palestra cancelada pela direção da Petrobrás, afirmou em evento do Credit Suisse que o jeito de lutar contra a pobreza é 'deixando as pessoas sozinhas, não é através de políticas'.
A economista americana Deirdre McCloskey, que teve sua palestra na Petrobrás cancelada pela direção da estatal, defendeu que o Estado “deixe as pessoas sozinhas” para que elas e o país possam enriquecer. “O jeito de lutar contra a pobreza é deixando as pessoas sozinhas. Não é através de políticas do Estado que as pessoas ficam ricas”, afirmou na tarde desta terça-feira, 28, em evento do banco Credit Suisse em São Paulo.
Formada em Harvard e com passagem como professora pela Universidade de Chicago - polo do liberalismo nos Estados Unidos e instituição onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, se doutorou -, Deirdre está no Brasil para uma série de palestras. Na segunda-feira, 27, proferiria uma na Petrobrás, empresa presidida por Roberto Castello Branco, também formado em Chicago.
Ao chegar no Brasil na manhã de segunda, porém, ela foi avisada de que a palestra havia sido cancelada. Em entrevista publicada pelo Estado na última sexta-feira, a economista havia afirmado que o governo brasileiro é “tudo menos liberal” e descrito os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump como pessoas “desagradáveis e loucas”. Segundo a assessoria de imprensa da Petrobrás, o evento não ocorreu por um problema na agenda dos diretores da empresa.
Nesta terça-feira, 28, no entanto, a plateia de Deirdre foi grande. Entre os presentes, estava o banqueiro Pedro Moreira Salles, presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Gustavo Franco. Os últimos dois também deram palestra no evento, mas Salles afirmou que estava ali para assistir a americana. Ilan Goldfajn, também ex-presidente do BC e atual presidente do conselho do Credit Suisse, foi quem conduziu a conversa com Deirdre.
Na palestra, a americana destacou que não são os investimentos que conduzem a economia, mas a liberdade de escolha das pessoas. “O ambiente de boas ideias é que é importante. (...) A riqueza não vem de onde achamos que vem, vem da ética e deste acordo de que todo mundo é livre na sociedade. O que precisamos para ter mais ideias é uma sociedade cada vez mais livre.”
Conhecida também por ser feminista e transexual - Deirdre publicou um livro sobre seu processo para se tornar mulher -, a economista afirmou que seu conselho para a plateia era que buscasse implementar uma sociedade igualmente livre para todos, “homossexuais, mulheres, estrangeiros”.
Deirdre voltou a criticar o conservadorismo de Bolsonaro:”Uma das coisas idiotas dele é querer que as pessoas sejam cristãs”.
Ela também disse ser a favor apenas de pequenas regulações para preservação do meio ambiente. “Não acho que seja preciso construir um Estado cada vez maior para controlar como as pessoas lidam com o ambiente.”
Crítica antiga de Trump, a economista afirmou, em tom de brincadeira, que torcia para que uma pequena recessão atingisse os Estados Unidos, o que reduziria as chances de o presidente americano ser reeleito. “Se houver uma recessão, é certo que ele perde. Estou esperando uma recessão pequena, mas pequena. Quero esse homem fora”, disse, provocando risos (O Estado de S.Paulo, 29/1/20)