10/06/2022

Eletrobras fixa ação em R$ 42 e movimenta R$ 33,7 bi, diz agência

Eletrobras fixa ação em R$ 42 e movimenta R$ 33,7 bi, diz agência

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Trabalhadores puderam utilizar saldo do FGTS para comprar ações da empresa de energia.

A Eletrobras fixou em R$ 42 o preço em uma oferta que resultou na privatização da companhia, movimentando R$ 33,68 bilhões, disseram duas fontes com conhecimento da transação à Reuters nesta quinta-feira (9). Caso os números se confirmem, a operação será a segunda maior do mundo neste ano.

O cronograma divulgado pela empresa indicava a fixação do preço por ação da oferta nesta quinta, mas os dados oficiais não foram divulgados até por volta das 22h50.

A demanda foi forte, de quase R$ 70 bilhões, com a participação de investidores que incluíram fundos de pensão, investidores estatais, fundos de hedge e investidores de varejo, de acordo com uma terceira pessoa ouvida pela Reuters.

O interesse pela oferta permitiu a venda de um lote adicional. A Eletrobras vai captar R$ 30,75 bilhões e o BNDES, que vendeu sua participação, levantou R$ 2,93 bilhões, de acordo com fontes.

Essa será a maior oferta de ações em 12 anos no Brasil, desde a capitalização da Petrobras em 2010, caso os números se confirmem.

A participação do governo na elétrica deve cair de 72% a cerca de 45%.

O investidor estatal de Cingapura GIC, o canadense CPPIB e a gestora brasileira 3G Radar devem se tornar os maiores acionistas da Eletrobras, segundo fontes.

A privatização da maior elétrica da América Latina é vista como crucial para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que até agora entregou poucas vendas de ativos estatais, em relação ao que prometeu antes de tomar posse.

A transação ocorre poucos meses antes de Bolsonaro enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Nesta quinta, teve início a negociação dos ADRS (American Depositary Receipts) da Eletrobras na Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, emitidos no âmbito do processo de privatização, segundo o calendário da empresa de energia.

O cronograma divulgado pela Eletrobras aponta também que o prazo para o exercício da opção de ações do lote suplementar está previsto para começar na sexta-feira (10), com término no dia 11 de julho.

Já na próxima segunda (13) começam as negociações das ações da Eletrobras na B3, a Bolsa de Valores.

Com o processo de privatização da Eletrobras e os ganhos de eficiência que podem vir a reboque com a empresa de energia elétrica deixando de estar sob o controle do Estado, analistas de mercado estimam que os papéis na Bolsa podem se valorizar até 85% nos próximos meses.

Mesmo com a forte alta em torno de 30% das ações da Eletrobras no acumulado do ano, boa parte justamente pela expectativa da privatização, analistas entendem que ainda há espaço para que a valorização prossiga com força.

No início dos anos 2000, trabalhadores também puderam utilizar o FGTS para investir em ações da Petrobras e da Vale.

A oferta da Petrobras, em agosto de 2000, movimentou cerca de R$ 7,3 bilhões. Desse total, cerca de 312 mil cotistas do FGTS compraram aproximadamente 25,6%, no valor de R$ 1,6 bilhão (a previsão inicial do governo era de R$ 3,1 bilhões na ocasião).

No caso da Vale, a oferta da mineradora em março de 2002 alcançou um volume de R$ 4,5 bilhões. Nesse caso, as propostas de uso do FGTS chegaram a R$ 3,4 bilhões, ultrapassando em mais de três vez o limite de R$ 1 bilhão estabelecido pelo governo. A intensa procura obrigou a realização de um rateio entre os interessados, que ficaram com 29% das reservas feitas. Ao todo, 728 mil trabalhadores usaram recursos do fundo na compra das ações da Vale.

Na oferta da Eletrobras, foi permitido reservar até 50% do saldo do FGTS para investir no FMP (Fundo Mútuo de Privatização), com valor mínimo a partir de R$ 200.

O valor que havia sido reservado na oferta para os recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) foi de R$ 6 bilhões. O limite de R$ 6 bilhões também inclui os trabalhadores que migraram seu FGTS de ações da Petrobras e Vale.

Caso a demanda tenha superado esse montante, haverá rateio proporcional das ações entre os investidores, considerando o pedido de reserva de cada um deles. Com o rateio, os valores depositados em excesso serão devolvidos ao FGTS sem qualquer remuneração.

Na reta final para a reserva das ações da Eletrobras com uso do FGTS, que terminou às 12h desta quarta-feira (8), bancos e corretoras apresentaram instabilidade pela manhã, dificultando a operação por parte dos clientes que deixaram para fazer a reserva perto do prazo final. Também houve relatos de dificuldades para concluir a reserva na terça (7), véspera do encerramento do prazo.

Para quem investiu o FGTS, as ações só poderão ser vendidas após 12 meses. Mas, se o trabalhador se encaixar em uma das situações em que a legislação permite o saque do Fundo de Garantia, poderá vender os papéis antes. É o caso, por exemplo, de quem precisar do dinheiro para compra da casa própria, o trabalhador que for demitido sem justa causa ou se aposentar e de quem ficar três anos sem depósitos no FGTS (veja aqui as 16 situações).

Se for demitido sem justa causa, terá ainda a multa de 40% calculada sobre todo o saldo da conta da empresa no fundo, somando também o que investiu na Eletrobras.

Investidores que fizeram a reserva sem o dinheiro do FGTS não têm prazo mínimo de permanência, ou seja, poderão vender as ações a qualquer momento (Folha de S.Paulo, 10/6/22)