Em acordo, Atvos foi avaliada em R$ 1,6 bilhão
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A sucroalcooleira Atvos foi avaliada em R$ 1,6 bilhão no acordo fechado entre o fundo árabe Mubadala e os bancos credores da companhia para sua venda, conforme apurou o Valor. A transação, acertada à revelia do atual controlador, o fundo americano Lone Star, equivale a um múltiplo próximo ao de vendas de usinas em estresse financeiro - de pouco mais de R$ 40 por tonelada de cana de capacidade instalada, ou R$ 68 por tonelada de cana processada.
A transação entre os bancos e o Mubadala não envolve pagamento em dinheiro, mas uma reestruturação de dívida e um compromisso do fundo de aporte de R$ 500 milhões. Na prática, o capital do Mubadala equivale a 31,5% da Atvos, enquanto os bancos terão 60%. Pelo acordo, os bancos, que têm bônus de subscrição equivalentes a 90% da Atvos, cederão os bônus ao Mubadala, e, em contrapartida, novos bônus serão emitidos com o fundo.
Haveria ainda a entrada do fundo Agroenergia FIP Multiestratégia, dos sócios Ricardo Knoepfelmacher e Giovanni Forace, da RK Partners - ex-assessora da Odebrecht no caso. Com isso, Lone Star e Novonor (ex-Odebrecht) dividiriam a participação restante.
Em usinas com finanças equilibradas, as transações mais recentes saíram por múltiplos bem maiores, de R$ 300 a tonelada de cana, enquanto em situações de extremo estresse já foram registrados múltiplos de R$ 20 a R$ 50, segundo assessores financeiros consultados pelo Valor. Os casos, entretanto, variam muito, e já houve leilões de usinas de massas falidas arrematadas por múltiplo acima de R$ 70 a tonelada.
Valores díspares
A Atvos já foi avaliada por valores bem díspares. Quando era uma subsidiária que a Odebrecht queria vender, antes de buscar proteção dos credores, o grupo baiano sustentava que o negócio valia de R$ 6 bilhões e R$ 13 bilhões.
Quando a Atvos já estava em recuperação judicial, o Lone Star, um dos credores mais agressivos nas negociações, comprou por US$ 5 milhões o controle da companhia do banco Natixis, que detinha o direito de exercer o controle como garantia em nome de credores da Odebrecht.
A nova transação tende a enfrentar oposição do Lone Star. O fundo deve argumentar que está investindo na Atvos e que não haveria necessidade de aportes. Nesta safra, a moagem alcançou 22,3 milhões de toneladas, ante 27 milhões há três anos, mas o capex aumentou de R$ 400 milhões, em 2020/21, para R$ 1,1 bilhão nesta safra. Boa parte foi para dobrar a área de plantio de cana para 90 mil hectares até o fim desta safra. O caixa gerado saltou de R$ 200 milhões, em 2020/21, para R$ 1,2 bilhão na safra atual.
No fundo americano, esperava-se que a empresa valesse quatro vezes mais que o negociado com o Mubadala, com múltiplo perto de US$ 40 a tonelada moída, ou quase R$ 5 bilhões no total.
Já o fundo árabe entende que ainda há uma dívida elevada, de R$ 7 bilhões, e necessidade, pelos próximos três anos, de R$ 1,5 bilhão a mais de capex que o empregado atualmente para reduzir a idade dos canaviais e expandir a area de plantio, o que elevaria o valor da empresa (que inclui dívidas) a quase R$ 10 bilhões.
Em nota, o Lone Star disse que a transação do Mubadala “ignora a significativa virada operacional e financeira”, e que foi fechada “sem processo competitivo e sem consulta à administração”, nem houve “devido processo ou diligência”. Procurado, o Mubadala não comentou.