Em alta no campo, leite pressiona taxa de inflação
ORDENHA MECÂNICA DE LEITE Foto Dairy Cattle Milking.jpg
Custos de produção elevados reduzem investimentos no setor.
O leite é um dos produtos de peso no Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Nos últimos 30 dias encerrados em 22 deste mês, subiu 13%.
A pressão vai continuar. Os preços estão elevados no campo, uma alta gerada pelo aumento dos custos dos insumos. No ano passado, foram os grãos, que pararam de subir, mas ainda estão em patamar elevado. Agora, a pressão vem dos fertilizantes e de outros insumos.
"O produtor vê as margens ficarem estreitas há vários meses e se vira como pode para fechar as contas", diz Natália Grigol, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Os custos no campo aumentaram muito, com reajustes principalmente na alimentação dos animais. Além disso, energia e transporte têm peso grande no setor, bem como a suplementação alimentar, que depende do dólar.
O efeito La Niña nas pastagens faz a alimentação dos animais ficar ainda mais dependente dos grãos, o que deverá ocorrer principalmente nesta entressafra de abril a setembro.
Tudo isso levou o produtor a reduzir os investimentos de curto e de longo prazos. Redução nos custos da alimentação e descarte de vacas provocaram uma redução na oferta de leite. De fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022, a captação de leite foi 8% menor no país.
Essa redução na oferta de matéria-prima no mercado provocou uma disputa maior entre as indústrias. Na primeira semana deste mês, o litro de leite estava a R$ 2,54 no chamado mercado spot —negociações entre as indústrias. Na segunda quinzena, subiu para R$ 3,02, uma alta de 19%.
Além do custo da matéria-prima, as indústrias estão absorvendo também as elevações de preços da energia e das embalagens. Houve repasses para os consumidores em março, mas, neste mês, eles estão mais complicados, afirma Grigol.
Não bastassem os problemas de custos internos, a atividade leiteira depende do mercado global. Os preços estão em patamares elevados, a guerra interfere no mercado e os insumos não devem ter redução de preço a curto prazo. É uma situação nova, diz a pesquisadora do Cepea.
A taxa de câmbio também interfere nesse mercado. Favoreceu as exportações no primeiro trimestre, mas, a partir deste mês, elas começam a cair. A valorização do real faz o produto brasileiro perder competitividade. De outro lado, se o dólar cai, facilita as importações (Folha de S.Paulo, 28/4/22)