19/06/2018

Em parceria com cana, área de soja poderia dobrar em São Paulo

Em parceria com cana, área de soja poderia dobrar em São Paulo

Sai a cana-de-açúcar e entra a soja no Estado de São Paulo. Essa já é a realidade em 333 mil hectares de canaviais, com potencial de atingir 1 milhão de hectares nos próximo anos. A projeção, do pesquisador Denizart Bolonhesi, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), foi apresentada no 8º Congresso Brasileiro da Soja, encerrado nesta quinta-feira (14/6) em Goiânia. O evento foi organizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Com o avanço da soja sobre a cana, a área total do grão no Estado quase dobraria, passando de 856 mil hectares (dados de 2017 do Instituto de Economia Agrícola) para cerca de 1,5 milhão. Mas, não se trata de uma troca de cultura e sim de uma parceria.

"O sojicultor de São Paulo tem como fronteira agrícola a renovação dos canaviais e nessa parceria ganham os produtores dos dois lados e também a economia local", diz o pesquisador.

A renovação dos canaviais ocorre idealmente após cinco cortes, quando a produtividade fica abaixo de 60 toneladas por hectare, mas, com investimento em novas variedades e técnicas, alguns produtores e usinas já conseguem prolongar a vida útil do canavial por até sete cortes. Devido à crise que atingiu o setor sucroalcooleiro nos últimos anos, a taxa de renovação anual dos 5,9 milhões de hectares de cana plantados em São Paulo é de apenas 8%, quando o ideal seria 20%.

"Muitas áreas de renovação acabam ficando em pousio porque o custo de reforma do canavial atinge R$ 7 mil por hectare."

Além da soja, produtores de cana têm como opção para a renovação das áreas o plantio de adubos verdes ou amendoim, mais indicado para terras menos férteis e rústicas.

No passado, algumas usinas se tornaram também produtoras de soja, mas o modelo mais usado atualmente pelos grandes grupos e produtores é entregar a área de renovação de cana para a entrada dos sojicultores com seu maquinário e conhecimentos específicos da cultura. Em média, o dono da terra recebe 10% da produção de soja. Nas contas do pesquisador, se a soja não produzir mais de 50 sacas por hectare, o produtor de cana leva prejuízo.

Além da renda extra vinda da commodity soja, o produtor de cana tem vários outros benefícios na associação com os grãos, segundo Denizart. "A soja constrói a fertilidade do solo, elevando o nível de nitrogênio e ajudando no controle dos nematóides. Pesquisas já identificaram que o canavial produz mais quando a área é ocupada antes pela soja."

O pesquisador elenca as barreiras que precisam ser vencidas para se chegar ao 1 milhão de hectares de soja em canaviais. "Para ser bem-sucedida, a parceria exige investimento, planejamento profissional, regras claras em contrato e conhecimento dos dois lados para que uma cultura não atrapalhe a outra ou eleve os custos de produção." 


Novas parcerias

A Embrapa firmou uma parceria com a Ceptis, empresa de origem suíça, para desenvolver projetos de rastreabilidade da soja. Cleber Oliveira Soares, diretor de inovações e tecnologia da Embrapa, diz que a união da experiência em pesquisas da Embrapa com a expertise em rastreabilidade segura dos suíços visa agregar valor à soja exportada pelo país.

Outra parceria com a multinacional Corteva Agriscience (antiga divisão agrícola da DowDuPont) tem como objetivo desenvolver novas sementes de soja por meio da edição gênica Crisp/Cas9. Conhecida também como "tesoura genética", a técnica produz variedades mais resistentes ou produtivas, sem configurar a semente como transgênica, o que, segundo o pesquisador da Embrapa Soja em engenharia genética Alexandre Nepomuceno, agiliza e reduz mais de 60% os custos para o produto chegar ao mercado.

Cleber afirma que a Embrapa já mantém dezenas de parcerias com empresas brasileiras, multinacionais e startups do agronegócio e pretende elevar as alianças para desenvolver novas tecnologias e lançar produtos no mercado. Nesse modelo, a Embrapa recebe royalties dos lançamentos.

O 8º Congresso Brasileiro da Soja reuniu cerca de 2.500 pesquisadores nacionais e internacionais, agrônomos, técnicos rurais e empresários do agronegócio durante quatro dias em Goiânia (Globo Rural, 15/6/18)