21/05/2019

Em recuo, Ministério do Meio Ambiente confirma reunião da ONU em Salvador

Em recuo, Ministério do Meio Ambiente confirma reunião da ONU em Salvador

Pasta diz que tomou decisão após conversas com o Itamaraty e com o prefeito da cidade.

Seis dias após anunciar seu cancelamento, o Ministério do Meio Ambiente voltou atrás e confirmou a realização, em Salvador, da Climate Week (Semana Climática) América Latina e Caribe, evento da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Em nota à imprensa, o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles, diz que a decisão foi tomada após conversas com o Itamaraty e com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que havia se oposto ao cancelamento do evento, marcado para os dias 19 a 23 de agosto deste ano.

De acordo com o comunicado, o ministério “decidiu formular proposta com ênfase na Agenda de Qualidade Ambiental Urbana e no Pagamento por Serviços Ambientais, através de instrumentos financeiros que visem dar efetividade econômica às atuais e futuras ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil”. 

Ao justificar a decisão na terça-feira (14), Salles chegou a dizer ao blog da Andréia Sadi que o encontro seria apenas uma oportunidade para que os participantes fizessem turismo em Salvador e comessem acarajé.

Na mesma nota, o ministério afirmou também que o Brasil participará da COP-25, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que seria realizado no fim de ano no Brasil mas que foi transferida para o Chile após o presidente Jair Bolsonaro desistir de sediar o evento.

A gestão ambiental do governo Bolsonaro vem sendo marcada por uma uma série de medidas controversas com relação ao ambiente. Ainda na campanha eleitoral o discurso de Bolsonaro destoava de todos os outros os candidatos. Era o único a prometer a saída do Brasil do Acordo de Paris, assinado por 195 países contra as mudanças climáticas, e a fusão do MMA com a Agricultura. 

Após pressão interna e externa, essa proposta não se concretizou, mas o discurso alinhado com os ruralistas do que com os ambientalistas se confirmou com outras ações. 

Exemplo disso foi a transferência de áreas do MMA para outros ministérios: o Serviço Florestal Brasileiro foi para o Ministério da Agricultura e Agência Nacional de Águas foi para o Desenvolvimento Regional.

O ministro também extinguiu a estrutura da Secretaria de Mudança do Clima e Florestas, que era responsável pelas ações de mudanças climáticas e combate ao desmatamento. A nova secretaria, Florestas e Desenvolvimento Sustentável, não tem estrutura para as questões de clima e desmatamento.

Outra medida que marcou a gestão foi a exoneração em massa de servidores do Ibama, do ICMBio e do próprio ministério e a participação de diversos militares nos cargos de chefia ligados ao MMA.

Salles declara ter como prioridade de gestão a área urbana. Segundo a nota sobre a Climate Week, esse também deve ser o foco da participação do ministério no evento.

A Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana tem como frentes os seguintes temas: lixo no mar, resíduos sólidos, áreas verdes urbanas, qualidade do ar e saneamento e qualidade das águas e áreas contaminadas.

A ideia, diz Salles, é lançar programas de sua agenda periodicamente. O primeiro, sobre lixo no mar, foi elogiado por ambientalistas, apesar das diversas críticas aos outros aspectos de sua gestão.

Leia a íntegra do comunicado:

"O Ministério do Meio Ambiente, através de entendimentos mantidos nesses últimos dias com o Prefeito de Salvador, o Ministro das Relações Exteriores e o novo Secretário-Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, decidiu formular proposta com ênfase na Agenda de Qualidade Ambiental Urbana e no Pagamento por Serviços Ambientais, através de instrumentos financeiros que visem dar efetividade econômica às atuais e futuras ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil, a serem discutidas e apoiadas na Climate Week, em Salvador, bem como nos eventos subsequentes até a COP25, no Chile, os quais deverão contar com a participação deste Ministério do Meio Ambiente e do Ministério das Relações Exteriores." (Folha de S.Paulo,20/5/19)