Embaixador procura senadores para evitar audiência sobre caso Carrefour
Emmanuel Lenain, embaixador da França no Brasil. Foto Wilton Junior
Emmanuel Lenain já conversou com a ex-ministra Tereza Cristina, autora do pedido para ele ser ouvido na Comissão de Relações Exteriores; procurado, ele disse que não recebeu convite para audiência
O embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, procurou a ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina (PP-MS) na manhã desta quinta-feira, 05, para dar satisfações sobre a recente polêmica envolvendo o Carrefour e a carne produzida no Mercosul. A intenção do embaixador, apurou a Coluna do Estadão/Broadcast, foi dar uma explicação à senadora e, assim, evitar uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Lenain não pediu desculpas pela crise, segundo fontes. A justificativa apresentada por ele a Tereza Cristina foi de que o assunto é um problema interno da França em virtude dos protestos crescentes dos agricultores franceses e que tomou uma dimensão desproporcional no Brasil. A Coluna do Estadão/Broadcast apurou que o embaixador tratou do tema como um mal entendido.
Lenain não comentou sobre os atributos da carne brasileira, questionados pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, que, após o episódio, fez uma retratação pública pedindo desculpas ao governo e ao agronegócio brasileiros.
O encontro foi proposto pelo próprio embaixador, que foi acompanhado de intérprete. A reunião durou cerca de 30 minutos. De acordo com as fontes, após a reunião com Tereza Cristina, que foi a autora do pedido de audiência, o embaixador não vai atender ao convite do colegiado e não comparecerá à sabatina. Procurada, a embaixada francesa ainda não se manifestou, o espaço continua aberto.
O não domínio do idioma português e o fato de ser pouco habitual embaixadores irem ao Parlamento na França também foram citados entre os argumentos de Lenain à senadora. Ele se comprometeu também em procurar demais congressistas e o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), para dar explicações.
Há também a intenção do embaixador francês de promover um almoço com os senadores para colocar um fim ao mal-estar. Após as justificativas de Lenain, a senadora convidou o embaixador a comer “a melhor carne do mundo”, produzida no seu Estado, Mato Grosso do Sul. De acordo com os relatos ouvidos pela reportagem, o convite para o churrasco, ainda sem data, foi aceito.
O embaixador disse à Coluna do Estadão que não recebeu convite para participar da audiência. Caso seja feito, deve privilegiar contatos individuais, “que é o mais habitual e mais produtivo”.
“A senadora Tereza Cristina é um ator importante nas questões agrícolas brasileiras e foi por essa razão que o embaixador quis encontrá-la. A reunião aconteceu à pedido do embaixador, para apresentar as posições francesas como ele faz recorrentemente com vários parlamentares brasileiros”, diz nota da Embaixada da França.
Lenain atuou pessoalmente na interlocução entre o Carrefour e o governo brasileiro para apaziguar a crise entre o grupo francês e o agronegócio brasileiro. Ele ajudou a costurar o pedido de desculpas e a retratação de Bompard apresentados ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
O convite do Senado a Lenain e ao executivo do Carrefour no Brasil, Stéphane Maquaire, para esclarecer as declarações do CEO mundial do Carrefour foi uma reação ao comunicado de Bompard de que a varejista se comprometeria a não comercializar carnes provenientes do Mercosul na França, independentemente dos “preços e quantidades de carne que esses países possam oferecer”, sugerindo ainda que os produtos não atendiam as qualificações do mercado francês.
O governo brasileiro repudiou as falas, com várias declarações contrárias do Ministério da Agricultura e do Itamaraty, e pediu uma retratação pública de Bompard, o que ocorreu com o envio de uma carta do executivo francês ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Ele pediu desculpas pela situação gerada e reconheceu a alta qualidade das carnes brasileiras. Alguns parlamentares, sobretudo da bancada do agronegócio, classificaram a carta de Bompard como fraca e ainda cobram explicações do grupo francês (Estadão, 6/12/24)