Embrapa desenvolve milho e trigo transgênicos e mira o Egito
milho verde foto gov estado s.paulo- Data da postagem 01 Fevereiro 2021
Empresa vê potencial para plantação no cerrado e busca variedades com maior tolerância a estresse hídrico.
Em vista do potencial de produção de trigo no cerrado, a Embrapa Trigo está selecionando plantas que tenham aptidão para uma adaptação às condições de produção da região. Em parceira com a Bioceres, busca por uma variedade transgênica com maior tolerância a estresse hídrico. A Embrapa já tem variedades, sem transgenia, bastante adaptadas e produtivas na região.
O objetivo agora é avaliar o comportamento das plantas e realizar a seleção no ambiente do cerrado, afirma Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo.
Com a liberação da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), a empresa iniciou, em campo experimental, essa seleção com a Embrapa Cerrado e com a Embrapa Agroenergia.
A produção brasileira de trigo está concentrada no Sul, onde as condições climáticas são bastante diferentes das do Brasil central. Neste ano, o país deverá produzir 8,1 milhões de toneladas de trigo, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Desse volume, 91% sairão do Sul.
Lemaisnki acredita, porém, que o volume a ser produzido possa ser ainda maior, ficando em 8,5 milhões e 9 milhões de toneladas. Além da necessidade do abastecimento interno, o Brasil está colocando boa parte do trigo nacional em outros 12 países.
Neste ano, as exportações já superam 3 milhões de toneladas. O consumo nacional é de 12,8 milhões de toneladas.
A Embrapa aposta na autossuficiência do trigo devido à regularidade das chuvas no cerrado brasileiro e à área disponível para o avanço da cultura. São pelo menos 2,7 milhões de hectares à disposição. Para isso, são necessárias variedades específicas.
Com a autorização da CTNBio, em março, a Embrapa iniciou a fase de experimentos do trigo transgênico no campo. "Se vai funcionar, é o que veremos", diz o chefe-geral da Embrapa Trigo.
Se sim, ainda haverá todo o processo de produção de sementes, antes de o produto chegar comercialmente ao mercado. No momento, estamos em fase de pesquisa, afirma ele.
A aceitação do trigo transgênico pelos consumidores sempre foi um dos motivos de preocupação das empresas do setor. Pesquisa da Indexsa, encomendada pela Abimapi (associação das indústrias de produtos derivados de trigo), porém, mostrou que 72% dos consumidores não teriam restrições ao uso da farinha transgênica na produção de pães e outros derivados.
O desenvolvimento do trigo no cerrado chamou a atenção dos egípcios, os principais importadores mundiais do cereal. Eles consomem 21 milhões de toneladas do produto por ano e importam metade desse volume, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
A produção de trigo no Egito ocorre durante a primavera, mas eles querem desenvolver mais uma safra no verão, com base nos experimentos brasileiros em áreas mais secas.
Se as variedades brasileiras se adaptassem, os produtores do Egito importariam sementes do Brasil e elevariam a área de produção irrigada em até sete vezes, diz Lemainski.
Além de elevar a produção, os egípcios diminuiriam a dependência externa, até então concentrada na Ucrânia e na Rússia, dois países com dificuldades de fornecimento do cereal atualmente.
A CTNBio aprovou também na quinta-feira (2) o uso comercial do milho geneticamente modificado para resistência a insetos da Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com a Helix, empresa ligada ao grupo Agroceres.
A nova tecnologia combate uma das principais pragas do milho, a lagarta-do-cartucho, e a broca-da-cana.
A nova tecnologia é resultado de uma parceria público-privada 100% nacional. Para Frederico Ozanan Machado Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, essa parceria é um processo estratégico e vai gerar um potencial muito grande para a agricultura nacional e para o produtor.
Celso Moretti, presidente da Embrapa, diz que esses eventos mostram que a empresa não deixou de lado a busca do desenvolvimento pela ciência.
Essas parceiras público-privadas são uma combinação perfeita, segundo ele.
"A Embrapa entra com o cérebro e a infraestrutura, enquanto o setor privado vem com a agilidade em levar soluções para o setor produtivo."
Em 2019, só 6% das pesquisas eram com parcerias privadas. Neste ano, o percentual é de 25%, e deve atingir 40% no próximo, diz o presidente da entidade (Folha de S.Paulo, 7/6/22)