18/12/2017

Embrapa lança aplicativo para gerenciamento de fazendas leiteiras

Embrapa lança aplicativo para gerenciamento de fazendas leiteiras

A gestão da fazenda de leite está nas mãos do produtor. A Embrapa Gado de Leite acaba de lançar o aplicativo para dispositivos móveis do programa Gestão Informatizada de Sistemas de Produção de Leite (Gisleite). Segundo o analista de tecnologia da informação da Embrapa Victor Lima, o produtor insere as informações por meio de celular ou tablet e esses dados são compartilhados com a plataforma disponível na internet. Isso significa que o usuário tem que estar cadastrado no sistema Gisleite web para utilizar o aplicativo que opera no sistema operacional Android.

“O app é um coletor de dados que pode ser operado até mesmo quando não há sinal de internet no smartphone, uma situação muito comum no meio rural. Quando o sinal da internet é restabelecido, o Gisleite Web recebe os dados coletados e os armazena no sistema”, esclarece Lima. Dessa forma, o produtor pode se deslocar por diversos pontos da propriedade com um celular, por exemplo, e fazer as anotações necessárias, o que seria impossível com um computador de mesa. “Nosso objetivo foi dar mobilidade ao sistema presente na web”, afirma o especialista.

 

Software livre para a gestão leiteira

O pesquisador da Embrapa Cláudio Napolis Costa explica que o Gisleite é baseado em software livre, desenvolvido para o ambiente web e com acesso remoto pela internet. “O aplicativo torna a ferramenta mais eficiente, auxiliando o produtor no processo de tomada de decisões”, diz Costa. Com o Gisleite, é possível gerenciar os aspectos econômicos e zootécnicos de uma propriedade leiteira, como reprodução dos animais, produção de leite, movimentação no rebanho e qualidade do leite.

O sistema está estruturado de acordo com as atividades do processo produtivo: cadastro, manejo do rebanho, clientes e fornecedores e custos e receitas. É possível inserir os dados de todas as ações relativas às benfeitorias, máquinas e equipamentos, mão de obra, aquisição e venda de animais, alimentação do rebanho, comercialização da produção etc. “Praticamente todas as atividades econômicas e zootécnicas de uma propriedade leiteira podem ser gerenciadas por meio do sistema”, afirma Costa.

As informações são disponibilizadas pelo Gisleite por meio de quatro grupos dos seguintes documentos:

- Listas de intervenção: vacas que devem ser inseminadas, secadas, em lactação, para criar etc.

- Relatórios gerenciais: indicadores de produção, produtividade, qualidade do leite e de eficiência técnico-econômica dos rebanhos agregados por área, raça, etc.

- Relatórios econômicos: ativo imobilizado, fluxo de caixa, custos de produção etc.

- Relatórios de rastreabilidade: animais cadastrados, aquisições, transferências, descartes e aplicação de vacinas e medicamentos.

O manejo do rebanho é um processo administrativo dinâmico, caracterizado por decisões que têm resultados a curto, médio e longo prazo. O sucesso na atividade depende do acompanhamento cotidiano dos fatores de produção. Costa diz que a disponibilidade de relatórios como os que o Gisleite oferece permite conhecer o desempenho do sistema produtivo como um todo, seja do rebanho em geral, seja de cada animal em particular. “Tais informações são essenciais na orientação de decisões gerenciais a respeito do empreendimento”, completa o pesquisador.

 

Backup diário e segurança da informação

Segundo os técnicos que desenvolveram o software, o sistema é bastante prático e amigável, com relatórios podendo ser disponibilizados em planilhas Excel. O pesquisador reforça: “os indicadores de desempenho orientam o produtor no manejo do rebanho, no acompanhamento da produção e reprodução dos animais e nas decisões relacionadas a todo o sistema de produção”. As informações inseridas no Gisleite estão em total segurança: somente o produtor e aqueles que ele autorizar podem ter acesso a elas, o backup é feito diariamente pela própria Embrapa e as atualizações do software são automáticas.

O Gisleite web está disponível na internet desde 2007. Desde então, não parou de ser aperfeiçoado. “As evoluções são feitas de acordo com as demandas dos clientes, atendendo às necessidades do produtor”, diz Costa. Cerca de três mil pessoas já acessaram o programa, um número que deve crescer ainda mais com o lançamento do aplicativo para dispositivos móveis, de acordo com seus desenvolvedores. “Sem que tivéssemos feito qualquer divulgação, a loja de aplicativos do Google já contabiliza mais de 200 downloads do App”, informa Lima.

 Usuários em todo o Brasil

Produtores, com frequência, enviam e-mails para a Embrapa atestando a qualidade do software. Reinaldo Alves, do Município de Serra do Ramalho, na Bahia, diz que o programa é uma maravilha e que melhorou muito a gestão zootécnica do seu rebanho desde que começou a usá-lo. De Dom Feliciano, no Rio Grande do Sul, o pecuarista Renan Iribarrem parabeniza a Embrapa pela ferramenta e diz: “esse sistema informatizado é de grande valia para os produtores e tem contribuído muito para o meu trabalho”. Sidnei Franco, de Princesa, em Santa Catarina, comemora o lançamento do aplicativo: “o aplicativo me permite fazer a coleta de informações no campo e posteriormente sincronizar com a plataforma on line; as duas ferramentas se complementam e se aplicam muito bem à minha realidade e objetivos”. A própria Embrapa é cliente do Gisleite. Os campos experimentais da Embrapa Gado de Leite em Coronel Pacheco (MG) e Valença (RJ) utilizam a ferramenta para administrar seus sistemas de produção.

O aplicativo passa a ter funcionalidade quando o cliente está cadastrado no Gisleite web. Ambos são totalmente gratuitos. O Gisleite web está disponível no site da Embrapa Gado de Leite. Lá o interessado também encontra o guia do usuário, com todas as informações a respeito do sistema. O programa é multiusuário e está disponível para produtores, técnicos da extensão rural, cooperativas e consultores.

O mundo digital chega ao topo

O Gisleite faz parte da nova onda tecnológica que vem dominando o meio rural, que está sendo chamada de “agtech”. As tecnologias de informação (TI) estão cada vez mais presentes no campo e isso tem movimentado o mercado de startups com soluções digitais para os problemas da agricultura. No ano passado, um censo realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) em parceria com a AgTech Garage constatou que existem cerca de 100 startups no setor. Mas esse dado pode estar subdimensionado. Segundo Maikel Schiessl, diretor do comitê de agtech da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), é possível que o número seja superior a 500.

Pelo segundo ano consecutivo, a Embrapa Gado de Leite promoveu o Ideas for Milk, evento que busca estimular o desenvolvimento de ideias inovadoras baseadas em softwares web, aplicativos mobile e soluções em hardware para a cadeia produtiva do leite. Este ano, o Ideas for Milk, encerrado no dia dez de dezembro, foi composto por dois eventos distintos: O desafio de startups (semelhante ao que ocorreu em 2016) e um inédito hackaton rural (uma maratona de jovens estudantes, especialistas em tecnologia da informação (TI), em busca de soluções para os problemas do setor). O hackaton recebeu o nome de Vacathon, em um trocadilho com a palavra “vaca”.

Para o desafio de startups, inscreveram-se 85 concorrentes de todo o Brasil e dez foram selecionadas para a final. As propostas foram julgadas por uma banca formada por pesquisadores e representantes de empresas do setor. O primeiro colocado foi uma startup de Piracicaba (SP), que desenvolveu o Systech Feeder, sistema inovador de nutrição para bezerras leiteiras em tempo real. O propósito do produto é definir o momento exato do desaleitamento, otimizando tempo, mão-de-obra e reduzindo custos com alimentação das bezerras.

O Vacathon envolveu equipes de 16 instituições de ensino superior de todo o País. Acompanhados de mentores, os estudantes exploraram dados abertos de pesquisas da Embrapa Gado de Leite para o desenvolvimento de projetos de software e hardware que respondam aos desafios enfrentados pelos produtores. Fez parte da maratona uma etapa de treinamento (bootcamp), na qual pesquisadores e analistas da Embrapa orientaram os participantes sobre diversos aspectos da atividade de produção de leite (veja outras informações sobre o evento no site).

O chefe geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, afirma que o evento é uma forma de dar visibilidade às startups, abrindo possibilidades de negócios para jovens empresas capazes de levar soluções tecnológicas para o campo. Em 2016, o Ideas for Milk chamou a atenção de investidores do Sillicon Valley, nos Estados Unidos. “O governo da Índia, maior produtor mundial de leite, também demonstrou interesse em acompanhar o processo brasileiro de inclusão do agronegócio do leite na indústria 4.0”, informa Martins. O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, afirmou, durante o evento, que o Ideas for Milk deve ser expandido para outras unidades da Empresa. “Precisamos ter Ideas for Coffee, Ideas for Beef, Ideas for Lamb... Toda a Embrapa deve se mobilizar para essas novas ideias”, conclui Lopes (Assessoria de Comunicação, 15/12/17)