15/12/2017

Empresa de colágeno da JBS busca avançar em países islâmicos

Empresa de colágeno da JBS busca avançar em países islâmicos

A engenheira de alimentos Melina Valim está prestes a quebrar um paradigma. Pela primeira vez, uma mulher vai sentar à mesa com empresários da Arábia Saudita, reino conhecido por práticas discriminatórias às mulheres, para negociar a venda de colágeno bovino ao país.

A viagem da executiva ao Oriente Médio faz parte de uma ofensiva da NovaProm, a companhia de colágeno da JBS, pelo mundo muçulmano. E, ao contrário do que se poderia supor, a empresa não faz – em larga escala – colágeno para suplementos nutricionais e cosméticos.
O principal filão da NovaProm é o segmento de alimentos industrializados a partir de carnes, negócio que movimenta cerca de US$ 350 milhões por ano no mundo. Em diversos países, o colágeno é usado na produção de itens como presunto, salame, linguiça, mortadela e hambúrguer.

Com pouco mais de 7% do mercado global de colágeno voltado a produtos cárneos – o equivalente a US$ 25 milhões, a NovaProm figura na sexta posição entre as maiores do segmento, que é dominado por empresas da Dinamarca.

Na NovaProm, o colágeno é produzido a partir da derme bovina. Na JBS, uma parcela inferior a 10% da pele dos animais abatidos se transforma em colágeno. O restante é curtido em óxido de cromo para a produção de couro. Para fazer o colágeno usado nos alimentos, a derme bovina é tratada com água e ingredientes no curtume de São Luiz dos Montes Belos (GO). Após o tratamento, a derme chega à NovaProm, com aspecto de uma fronha branca, que enfim será processada como colágeno em pó ou em fibra.

Considerando apenas o colágeno produzido a partir da pele bovina, a NovaProm é a líder mundial, o que é um trunfo para a pretensão de abocanhar o Oriente Médio, disse o diretor da empresa, Walter Lene, durante visita à sede da companhia em Guaiçara, a 470 quilômetros da capital paulista.

Diferentemente dos principais concorrentes, que produzem colágeno a partir da pele de suínos, a NovaProm pode acessar o mercado muçulmano porque utiliza pele de bovinos e tem certificado halal, que garante o cumprimento dos preceitos do islamismo na produção de alimentos. Um desses preceitos proíbe o consumo de carne suína e de seus derivados.

A aposta de Lene é que o certificado halal abra as portas de países como Arábia Saudita, Líbano e Irã, que hoje praticamente não utilizam o colágeno na produção dos embutidos.

Além do Egito, a NovaProm exporta o produto para Coreia do Sul, Peru, Filipinas, Chile e Rússia. Em processo final de habilitação para vender aos Estados Unidos, a empresa espera embarcar 30 toneladas ao país no primeiro trimestre, de acordo com Lene.

As exportações de colágeno são relevantes para a NovaProm. Hoje, representam cerca de 30% do faturamento da empresa, que deve fechar o ano com embarques de 1,5 mil toneladas. Para 2018, a projeção é exportar 2 mil toneladas.

A concentração dos esforços da NovaProm no mercado internacional se explica porque no Brasil a maior parte das vendas é feita à própria JBS. Segundo Lene, a Seara absorve em torno 40% do que é feito pela NovaProm, o que inclui a divisão de ingredientes – condimentos usados em itens processados – e o colágeno. Os 30% restantes são provenientes das vendas a empresas como Aurora, Marba e Alegra.

Apesar ser líder em colágeno para produtos cárneos no Brasil, a empresa se ressente da ausência de uma regulamentação para o uso do insumo, o que limita as opções em relação a outros países.

Os planos da NovaProm incluem ir além do colágeno para produtos cárneos. O objetivo – postergado com a decisão da JBS de segurar os investimentos após a delação dos controladores – é ter uma fatia relevante do mercado de colágeno hidrolisado (usado como suplemento nutricional), que movimenta US$ 3,7 bilhões ao ano. Para tanto, um projeto de investimento de R$ 25 milhões já foi desenhado. “Talvez para 2019”, projetou Lene (Assessoria de Comunicação, 14/12/17)