15/08/2024

“Empresas devem ser punidas por crime ambiental caso descumpram RenovaBio”

“Empresas devem ser punidas por crime ambiental caso descumpram RenovaBio”

 RICARDO MUSSA, CEO DA RAÍZEN - divulgação

Raízen (RAIZ4)  gigante na produção de açúcar e etanol e uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, avalia que há oportunidades para ganhar participação de mercado na distribuição, à medida que o combate às ilegalidades no segmento vive seu melhor momento, com a cassação de empresas irregulares.

Em declarações nesta quarta-feira (14), o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, disse que o setor e a sociedade, juntamente com governos, têm feito um combate “muito forte” contra a práticas ilegais na distribuição de combustíveis, e algumas distribuidoras com suspeitas de ilegalidades, que operavam com “preços muito descontados”, estão saindo do mercado.

Isso melhora as perspectivas de mercado e margens daquelas que respeitam as leis e pagam tributos, segundo ele.

“Reduziu bastante (a ilegalidade)… com algumas distribuidoras também saindo do mercado, que tinham muita ilegalidade… vemos um cenário muito positivo. Já foi muito positivo em julho… ainda melhor em agosto”, declarou ele, durante teleconferência para comentar os resultados da empresa.

Combate à ilegalidade

Segundo Mussa, tem “muita gente combatendo o crime organizado” no setor, no qual criminosos participam com o objetivo de lavar dinheiro.

“Vejo uma mobilização muito grande, como há tempos não via, é um cenário positivo”, disse ele, lembrando que recentes mudanças tributárias também estão auxiliando no combate à sonegação.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) suspendeu cautelarmente a licença de empresas suspeitas de atuar na ilegalidade, revelou o presidente do Instituto Combustível Legal, Emerson Kapaz, ao ser procurado pela Reuters. A ANP não comentou imediatamente quantas empresas foram suspensas.

“Tem uma discussão até de antecipar a monofasia do etanol hidratado, que é a única que está faltando para completar a questão tributária, mas estou otimista”, disse Mussa, citando ações para combater sonegadores.

Segundo ele, o aumento do “market share bom, o market share bandeirado, saudável, com boas margens, está muito conectado com a redução da ilegalidade. Tem espaço sim para melhorar margem e market share bom”.

Questionado, Mussa disse que a empresa “não perdeu market share” na rede bandeirada. No entanto, ele admitiu uma redução de fatia em bandeira branca, que, se a empresa quisesse recuperar rápido, poderia baixar o preço, algo que não faz parte da estratégia.

Menor importação de diesel russo e melhora para CBios

Outro ponto citado por Mussa como favorável para maior obtenção de margens no segmento de distribuição de combustíveis é a redução da importação de diesel importado pelo Brasil –o mercado vinha sendo inundado pelo diesel russo, de menor preço, enquanto a Rússia tenta achar mercados para seu produto em função da guerra na Ucrânia.

“Estamos em uma situação de volume total de importação de diesel que é um dos menores, se não me engano, em quase dois anos. Temos um produto no porto hoje, que era um produto vendido a PPI (paridade de importação), ele está sendo vendido a PPI+”, afirmou.

“Então você começa a ter o produto importado com oferta menor, isso implica em mercado mais apertado e melhores margens, é um cenário positivo em relação ao primeiro trimestre”, concluiu.

Mussa também defendeu melhorias no programa que regula o mercado de CBios, créditos de descarbonização que as distribuidoras são obrigadas a comprar pela legislação do RenovaBio. Muitas empresas estão entrando com ações que, na prática, permitem que elas não cumpram suas metas.

O CEO da Raízen, que também é emissora de CBios, por ser produtora de etanol, defendeu a cassação das licenças daqueles que não recolhem os valores referentes ao créditos. Ele opinou que aqueles que desrespeitam o programa RenovaBio deveriam ser enquadrados pela prática de crime ambiental, e defendeu uma mudança na legislação no Congresso nessa direção.

Queda na moagem da Raízen

O CEO da Raízen manteve nesta quarta-feira a projeção de moagem de cana da empresa entre 82 milhões e 85 milhões de toneladas no ano-safra iniciado em abril. Mas indicou que a companhia está no caminho de ter uma leve queda anual, que deve ser menor do que a redução vista no restante do mercado, em meio ao tempo quente e seco.

“A gente continua no ‘range’, mas mais perto da parte de baixo do guidance, mas continua dentro deste limite. Mas ainda não estamos no 82 baixo, estamos ainda lá nos 83, em um número mais perto de 82,7, 83”, afirmou o CEO, em entrevista a jornalistas.

A Raízen fechou a safra anterior 2023/24 com moagem recorde de 84,2 milhões de toneladas, alta de 15% na comparação com o temporada anterior.

Na avaliação do executivo, os números sobre a quebra de safra do centro-sul deverão ficar mais claros à medida que a colheita avance. E ele opinou que o mercado global de açúcar ainda não precificou as dificuldades que o setor no Brasil, maior produtor mundial, tem tido de produzir mais adoçante na atual safra 2024/25.

“Acho que essa produtividade do início da safra tende a ter uma queda maior no final, o mercado ainda não precificou isso”, afirmou ele, após a companhia ter registrado uma moagem recorde para um primeiro trimestre, com antecipação das atividades, conforme reportou na véspera.

A Raízen é a maior produtora global de açúcar e etanol de cana.

Além da expectativa de uma queda na produtividade ao final, sinalizou Mussa, “está sendo um ano mais difícil de ‘mix’ de açúcar”.

“Olhando todas as empresas, elas estão com mais dificuldades de fazer o mesmo mix de açúcar do ano anterior”, afirmou ele, citando questões relacionadas a “impurezas” para destinar mais cana para a produção do adoçante.

Com esses dois aspectos, ele chamou atenção para um final de safra que indica um cenário de preços firmes.

“Do nosso lado, estamos bem fixados, com preços muito bons, melhores do que o ano passado”, afirmou, acrescentando que a companhia já olha oportunidades para melhorar a fixação do produto do próximo ciclo (Reuters, 14/8/24)