Empresas enviam carta a Mourão pedindo combate ao desmatamento
Companhias alertam para prejuízos com imagem negativa do país no exterior e sugerem ações.
Um grupo formado por 36 companhias e quatro organizações empresariais protocolou nesta segunda-feira (6), junto à Vice-Presidência da República e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, uma carta pedindo o combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros.
No documento, as empresas demonstram preocupação com a atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior, devido às questões socioambientais.
“Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, escrevem os signatários.
As companhias também sugerem ações para aplacar a reação negativa de investidores e consumidores estrangeiros.
Entre elas, além do combate ao desmatamento, estão propostas como a inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas; a minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais; a adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono; e pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da Covid-19, condicionada a uma economia circular e descarbonizada.
"Precisamos fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar", afirmam os empresários. "Caso contrário, corremos o risco de ficarmos à margem da nossa própria história."
Segundo o grupo, o documento também será protocolado no STF (Supremo Tribunal Federal), Senado Federal, Câmara dos Deputados e na PGR (Procuradoria Geral da República).
"Já recebi a carta dos empresários. Este grupo tem mantido contato comigo há algum tempo e todos os pontos que estão colocados ali, naquele documento, vão de encontro aos objetivos do Conselho da Amazônia", disse Mourão. "Então, estamos fechados, juntos."
O vice-presidente também comentou a decisão do MPF (Ministério Público Federal) que, na segunda-feira (6) pediu que a Justiça Federal afaste Ricardo Salles do comando do Ministério do Meio Ambiente.
O pedido faz parte de uma ação civil pública movida por 12 procuradores da República, que acusam Salles de "desestruturação dolosa das estruturas de proteção ao meio ambiente".
Para Mourão, este tipo de processo "não tem condição de prosperar porque coloca que o ministro incorre numa improbidade administrativa", então, para o vice-presidente trata-se de "algo que é mais político que qualquer outra coisa".
"Essa ação contra o ministro Salles, acho que vai só incomodar", afirmou.
No Senado, congressistas aprovaram nesta terça-feira um requerimento de convite para que o vice-presidente da República falar sobre o desmatamento da Amazônia.
O requerimento é de autoria da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
A participação de Mourão, por meio de audiência virtual, será na próxima terça-feira (14). A data foi fechada com intermédio do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Confira a carta na íntegra:
Neste momento, em que enfrentamos uma situação extrema, extraordinária e excepcional, é muito importante manter a serenidade e o equilíbrio para que possamos superar e sair fortalecidos dos desafios que se apresentam. Em nenhum momento da história o futuro da humanidade e do planeta dependeu tanto da nossa capacidade de entendimento de que vivemos em um único planeta e de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à preservação e valorização dos seus recursos naturais.
Os impactos sociais e econômicos causados em escala global e de forma inédita pela pandemia da COVID-19 nos advertem que a consumação de riscos associados à quebra do equilíbrio ecossistêmico traz consequências devastadoras quando negligenciados, tal como vem ocorrendo com o risco climático apontado pelo Fórum Econômico Mundial ano após ano, desde 2012.
Cientes disso, o setor empresarial brasileiro, por meio de instituições e empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, vêm hoje reafirmar seu compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável.
Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.
Nesse contexto, esse grupo coloca-se à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções que tenham foco nos seguintes eixos:
- Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;
- Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;
- Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência eprodutividade nas atividades econômicas daí derivadas;
- Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;
- Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;
- Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e
- Pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da COVID-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.
Algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos, inclusive, na Amazônia. De um lado, entendemos que é possível dar escala às boas práticas a partir de políticas consistentes de fomento à agenda ambiental, social e de governança. De outro, é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros.
Temos a oportunidade única, os recursos e o conhecimento para dar escala às boas práticas e, mais do que isso, planejar estrategicamente o futuro sustentável do Brasil. Precisamos fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar. Em nosso entendimento, esse é o melhor caminho para fincarmos os alicerces do país para as próximas gerações. Caso contrário, corremos o risco de ficarmos à margem da nossa própria história.
Empresas signatárias
- Agropalma
- Alcoa
- Amaggi
- Bayer
- BrasilAgro
- Cargill
- Cosan
- DSM
- Ecolab
- Eletrobras
- ERM
- Grupo Vamos
- Iguá
- Itaú
- Jacto
- JSL
- Klabin
- Marfrig
- Mauá Capital
- Michelin
- Microsoft
- Movida
- Natura
- Rabobank
- Santander
- Schneider Eletric
- Shell
- Siemens
- Sitawi
- Stefanini
- Suzano
- Ticket Log
- TozziniFreire
- Vale
- Vedacit
- WeWork
Organizações signatárias
- Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)
- Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)
- Indústria Brasileira da Árvore (Ibá)
- Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove) (Folha de S.Paulo, 8/7/20