Empresas têm apenas 30% dos herbicidas para safrinha de 2022
APLICACAO DE FERTILIZANTE - Foto Thinkstock - REVISTA GLOBO RURAL
Fabricantes de agroquímicos, distribuidoras de insumos e cooperativas agrícolas têm estocado somente 30% do volume de herbicidas necessário para atender à demanda de produtores brasileiros para a segunda safra de milho do ano que vem, estima a CropLife Brasil, entidade que reúne empresas de defensivos e sementes e instituições de pesquisa. Ao Broadcast Agro, o presidente executivo da CropLife, Christian Lohbauer, alertou sobre a possibilidade de escassez de diversos herbicidas utilizados nas lavouras do cereal.
"Os estoques das revendas de insumos, cooperativas e de empresas mais organizadas, que anteciparam compras, é que garantiram a safra de verão no Brasil. Porém, quando chegar a época da safrinha, as reservas de glifosato, glufosinato, acefato, mancozeb e outros herbicidas vão estar esgotadas", disse Lohbauer. "As reclamações de falta de produto até agora foram pontuais; para a safra de verão não há muito problema. Daqui para frente é que complica."
A oferta limitada de herbicidas, explica o executivo, está relacionada à crise energética na China, resultante da escassez de carvão no país e também de metas do governo chinês de redução de emissões de gases estufa. Tal contexto levou a administração local a delimitar diferentes limites de consumo de eletricidade para cada "zona" do país, o que afetou províncias produtoras de fósforo amarelo, principal matéria-prima de herbicidas amplamente usados nas lavouras brasileiras, como o glifosato. Fábricas das províncias de YunNan e Jiangsu, citou ele, localizadas na chamada "zona vermelha", sofreram redução de até 90% na disponibilidade de energia para consumo no restante deste ano.
A oferta chinesa de matérias-primas para herbicidas não é trivial: do país saem aproximadamente 32% dos insumos importados pelo Brasil. Outros países têm peso menor no abastecimento da indústria nacional: a Índia fornece ao redor de 11% de princípios ativos e insumos, bem como os Estados Unidos, de acordo com a CropLife.
Dado que o ciclo de importação de insumos da China pelo Brasil demora de 60 a 90 dias, o setor espera que a logística de transporte de insumos e a produção chinesa retomem o ritmo rapidamente. "Se até meados de dezembro não houver melhoria na logística e retomada da produção, teremos um problema aqui, em março", afirmou Lohbauer. Segundo ele, os preços do glifosato já subiram cerca de 300% somente desde setembro.
Resolver a crise de abastecimento de matérias-primas para a indústria de defensivos, contudo, tende a ser mais complexo do que a negociação do governo brasileiro para garantir a entrega de fertilizantes ao Brasil no ano que vem. Isso porque o mercado chinês de insumos é mais pulverizado do que o mercado global de fertilizantes, concentrado em poucos e gigantes fabricantes.
"A conversa com a China (sobre princípios ativos para defensivos) é mais difícil porque tem muito mais empresas no meio, mas a argumentação com o governo chinês é a mesma: mostrar que há uma interdependência, e que o resultado do desequilíbrio no mercado brasileiro vai voltar para os chineses", pondera Lohbauer, lembrando que quase metade da soja brasileira se destina à China e que o país é um grande consumidor de carne de frango, cuja produção é altamente dependente de milho, usado na ração do plantel.
Garantir o abastecimento de insumos para herbicidas no próximo ano, como ocorreu no caso dos fertilizantes, seria uma opção menos provável, segundo o executivo. Já negociar com o governo chinês que províncias relevantes para a produção do fósforo amarelo sejam reclassificadas para zonas geográficas com maior disponibilidade de energia seria plausível. "Sendo otimista, poderíamos obter garantia de que estas províncias iriam para uma outra lista, por exemplo", disse.
Segundo o executivo, o Ministério da Economia já realizou três reuniões sobre o tema, uma com produtores, outra com a indústria de agroquímicos e mais uma com representantes dos dois grupos, para avaliar o quadro de abastecimento interno. Tanto empresas como produtores responderam a questionamentos da pasta, sobre falta de produtos e o quadro geral, e o Ministério continua monitorando informações sobre o mercado internacional de defensivos, disse Lohbauer. "O Ministério da Agricultura também vem acompanhando e esse trabalho (das duas pastas) continua, é uma conversa permanente", contou (Broadcast, 6/12/21)