Energia renovável e gás devem disputar protagonismo em leilão A-6
Um leilão do governo brasileiro na sexta-feira para contratar novos projetos de geração de energia com entrada em operação em 2025 deverá ter disputa por protagonismo principalmente entre usinas eólicas e solares e projetos de termelétricas a gás, disseram especialistas à Reuters.
A concorrência pelos contratos de longo prazo oferecidos aos vencedores da licitação deverá ser acirrada, uma vez que o ritmo lento de recuperação da economia do país sinaliza baixa demanda de contratação pelas distribuidoras, ao mesmo tempo em que diversas grandes empresas buscam expandir seus negócios locais no setor de energia.
Além de elétricas multinacionais, como a italiana Enel, a espanhola Neoenergia e a chinesa State Grid, entre outras, já tradicionais nos leilões, há expectativa de que grandes petroleiras como BP e Total também tentem viabilizar projetos de geração, seja a gás ou mesmo com fontes renováveis.
A consultoria Thymos Energia estimou que o chamado leilão A-6 deve movimentar entre 500 e 600 megawatts médios em energia, um pouco abaixo até do certame dessa modalidade de 2018, que envolveu 835 megawatts médios, por incertezas econômicas.
“Vamos ter uma competição intensa, e isso já é praticamente de praxe nos últimos anos. É um leilão relativamente módico”, disse o consultor sênior de negócios da Safira Energia, Josué Ferreira.
Em 2014 e 2015, por exemplo, as licitações A-6 movimentaram 2,7 gigawatts e 1,15 gigawatts médios, respectivamente.
Ferreira projetou que a demanda neste ano poderia chegar a até 800 megawatts médios, dos quais entre 300 megawatts e 400 megawatts poderiam ser preenchidos por térmicas a gás.
“O gás natural é uma realidade. Tanto do ponto de vista da competitividade quanto por ser um elemento para o qual o próprio planejamento do governo tem dado uma atenção especial”, afirmou, em referência a Novo Mercado de Gás, iniciativa do governo Bolsonaro para reduzir custos do insumo.
A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) habilitou 71,4 gigawatts em projetos para a concorrência, dos quais 21,6 gigawatts em térmicas a gás. Já as eólicas somaram 22,5 gigawatts, enquanto usinas solares dominaram o cadastramento, com 24,75 gigawatts.
O consultor André Felber, da EPowerBay, também vê uma contratação dividida principalmente entre as chamadas novas renováveis e o gás natural, com projetos esparsos de outras tecnologias presentes na disputa, como hidrelétricas e biomassa.
Entre as solares e eólicas, ele vê favoritismo de investidores que já possuem grandes projetos em implementação, fruto de leilões anteriores ou de negociações no mercado livre de eletricidade, em que grandes consumidores podem negociar contratos diretamente com geradores e comercializadoras.
Como a disputa por preços deve ser acirrada, essas empresas ganham vantagem porque o estágio avançado dos projetos reduz custos de construção e permite antecipações agressivas da conclusão das usinas, o que gera faturamento extra com a venda da produção adicional no mercado livre.
“Tem projetos (eólicos e solares) que podem antecipar em quatro anos, é viável”, afirmou.
ESTRATÉGIAS
A forte concorrência tem derrubado os preços finais da energia nos leilões promovidos pelo governo no Brasil, o que leva cada vez mais empresas a buscar negociar ao menos parte da produção de seus projetos no mercado livre de energia, uma tendência que irá continuar nessa licitação, segundo os especialistas.
Mas uma mudança nas regras para eólicas e solares no A-6 em relação às licitações anteriores deverá segurar os deságios e pode impedir novos recordes, como os registrados pelas solares no leilão A-4 em junho, quando a fonte alcançou seus menores preços já registrados no país.
Agora, essas usinas deverão entregar energia às distribuidoras, compradoras na licitação, seguindo o padrão de consumo sazonal dos clientes das elétricas, e não de acordo com o perfil de geração das fontes.
“A nova realocação de risco deve influenciar no deságio, que não será tão grande”, disse em nota a Thymos Energia, destacando que ainda assim os preços deverão ser bastante competitivos.
“Acredito que os preços vão ser maiores que no A-4, mas também não vai ser nada absurdo”, disse Felber, da EPowerBay, que vê um impacto maior da nova regra sobre empreendimentos eólicos (Reuters, 17/10/19)