Energia renovável é necessidade, não opção – Por Cláudio Bernardes
ENERGIA SOLAR E EOLICA ReutersThomas Bohlen
Cidades devem enfrentar o desafio de financiar a instalação desses sistemas energéticos e garantir acesso a todos.
A maior parte da energia consumida nas cidades destina-se à eletricidade, ao aquecimento e resfriamento de edifícios, a atividades industriais ou ao transporte de pessoas e de mercadorias. Independentemente da fonte, a energia é um fator importante para o desenvolvimento.
A maioria dessas atividades ocorre dentro ou ao redor das cidades, que são responsáveis por grande parte do PIB (Produto Interno Bruto) de um país e, portanto, os principais motores do crescimento econômico global.
Para executar suas atividades, as cidades precisam do fornecimento ininterrupto de energia, e consomem aproximadamente 75% da energia primária global.
Segundo o World Resources Institute, 66,4% de toda energia consumida nas cidades do mundo está distribuída entre atividades industriais (31,9%), residências (27,5%) e transporte (19,7%).
Portanto, alcançar metas arrojadas no consumo de energia renovável nas cidades passa a ser imperativo, e os governos municipais reconhecem cada vez mais o potencial da energia renovável e limpa para ajudar a criar cidades ambientalmente saudáveis.
Segundo relatório da REN21 (Rede de Política de Energia Renovável para o Século 21), as possibilidades e estratégias para os governos municipais ampliarem o consumo de energia renovável —e com isso atingir suas metas climáticas e energéticas— dependem de uma variedade de fatores.
Uma variável decisiva para a capacidade de uma cidade avançar na implantação e no uso de energia renovável é o grau de poder regulatório e financeiro que governos federais concedem aos governos municipais. Além disso, a capacidade das cidades expandirem seu consumo de energia renovável é muito afetada pelas regras do mercado, regulamentações sobre produção energética, e políticas definidas por níveis superiores de governo, além do grau de dependência econômica de combustíveis fósseis.
Ainda de acordo com o relatório da REN21, globalmente, pelo menos 834 cidades em 72 países, cobrindo 558 milhões de pessoas, adotaram uma meta de energia renovável em pelo menos um setor até o final de 2020. Ao todo, essas cidades tinham um total combinado de 1.088 metas, sendo 653 dessas orientadas para o uso de 100% de energia renovável em operações municipais.
Embora a definição de metas para energia renovável tenha se concentrado fortemente na produção energética, várias cidades planejam fazer a transição para energia renovável em várias áreas, como sistemas de aquecimento e transportes, com ampliação do uso de baterias ou veículos movidos a hidrogênio.
A adoção imediata de políticas e metas para adoção de energia renovável é urgente. Se as atuais tendências globais de expansão urbana continuarem, o uso de energia nas cidades mais do que triplicará, de 240 exajoules, em 2005, para 730 exajoules, em 2050. Só para se ter uma ideia desses valores, o consumo total de energia elétrica em todo o Brasil no ano de 2020 foi de aproximadamente 1,7 exajoule.
Atualmente, existem tecnologias desenvolvidas para que as cidades possam optar por diversos tipos de energia renovável, entre elas, bioenergia, energia geotérmica, hidrelétrica, energia gerada pelas marés, painéis solares fotovoltaicos e energia eólica.
Depois que os municípios identificam as opções de energia renovável disponíveis, eles devem considerar as prioridades específicas da cidade e da comunidade, e seu alinhamento com o desenvolvimento econômico e as iniciativas de resiliência.
Finalmente, as cidades devem enfrentar os desafios políticos e financeiros, que envolvem o modelo de financiamento do custo inicial de instalação dos sistemas de energia renovável, e estabelecer formas de garantir que o acesso a essa energia e aos seus benefícios sejam distribuídos de forma equitativa pela comunidade (Cláudio Bernardes é engenheiro civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015; Folha de S.Paulo, 13/2/22)