Esperança no abastecimento global,País investe pouco em tecnologia agrícola
A participação brasileira nos investimentos mundiais na agricultura fica em apenas 5%, acredita especialista no setor.
Esperança no fornecimento de alimentos para o mundo nos próximos anos, devido ao aumento da população mundial, o Brasil ainda investe pouco em novas tecnologias.
De todos os investimentos feitos no mundo, principalmente nos concorrentes do país nesse setor, apenas de 2% a 3% são efetivados no Brasil, conforme dados de 2018.
Há uma evolução anual, e essa participação já poderá estar próxima de 5%, mas ainda é muito pouco, segundo avaliação de Otávio Celidonio, coordenador do AgriHub, um centro de inteligência para estimular negócios na cadeia produtiva e conectar empresas, produtores rurais, startups e o ecossistema agrícola.
As startups que atuam dentro da porteira já são pelo menos 400, mas elas têm dificuldades e desafios para vencer questões de recursos, afirma ele.
Em um evento de discussões sobre necessidades e desafios das inovações na agricultura, promovido pela Mosaic Fertilizantes, o coordenador do AgriHub afirmou que essas tecnologias não chegam como mágicas, mas é um processo passo a passo.
Ele acredita que as próximas inovações irão contemplar o processo comercial, melhorando compra de insumos, vendas, acesso a clientes e rastreabilidades.
Quanto ao processo produtivo, o potencial de possibilidades ainda está longe do que se conquistou até hoje. Já há um reconhecimento das pragas, por exemplo, mas, mais à frente, serão necessários novos avanços.
Entre eles, nesse campo, Celidonio lista a necessidade não só da identificação das pragas, mas também tipos de controle, melhora na operação e a até a influência do clima nessas operações.
Odílio Balbinotti Filho, do grupo Atto, concorda com Celidonio sobre o patamar de aproveitamento atual de toda a tecnologia. Se aplicada, ela poderia gerar uma produtividade de soja de 90 a 100 sacas por hectare. A média atual é de 55.
O que o produtor espera da agricultura digital, no entanto, é um modelo acessível e prático, embora os gargalos ainda sejam gigantes, afirma Balbinotti.
Para Felipe Klemperer, da Mosaic, o produtor busca soluções que tragam doses corretas e o tempo certo no uso de insumos, o que pode resultar em maior produtividade.
Uma das necessidades básicas nessa área é a colaboração, alertam os especialistas. Balbinotti diz que a mão de obra especializada é escassa e o produtor encontrará dificuldades, mas é fundamental que ele participe desse processo. Quem ficar fora não aprende e será excluído.
A função das empresas é construir canais que possibilitem o produtor a ter acesso a esses conhecimentos. Ele precisa conhecer a arte do possível, diz Klemperer.
Além da cooperação entre todo o ecossistema envolvido, que vai de universidades, Sebrae a empresas ligadas a esse setor, o coordenador do AgriHub destaca a necessidade da personalização.
As empresas têm de entrar com necessidades específicas do produtor. Este, contudo, deverá conhecer bem suas necessidades, de talhão a talhão. “Acabou a receita do bolo pronto. Não há mais uma fórmula igual para todos”, afirma.
Celidonio vê a necessidade da formação de consultores digitais. Eles devem avaliar, entender e tomar decisões, além de construir uma jornada de transformação.
As dificuldades são grandes, mas a chegada do 5G poderá abrir novos horizontes. Ele permitirá a transmissão de um volume maior e com qualidade de dados. Vai permitir uma melhor comunicação online, diz Balbinotti.
Para Celidonio, a agricultura de precisão coleta dados, os analisa e recomenda ações. O modelo digital vai permitir que isso seja feito em tempo real.
As novas tecnologias trazem mudanças no comportamento entre produtores e empresas. Acabou o tempo de apenas relacionamento.
As vendas deverão ser construídas com base em soluções de problemas e de tecnologias apropriadas. Não basta apenas relacionamento, segundo o coordenador do AgriHub.
Para os especialistas, os passos mais urgentes da agricultura digital são uma orientação para gestões mais bem feitas, conectividade, previsão climática, manejo de pragas, qualificação dos colaboradores e classificação de grãos (Folha de S.Paulo, 20/11/20)