Esquenta a disputa entre Lactalis e Lala
O presidente executivo da Lactalis para a América Latina, Patrick Sauvageot, fez duras críticas ontem à mexicana Lala, que é dona da Vigor e recorreu à Justiça de São Paulo e à Câmara de Arbitragem Brasil-Canadá para anular a aquisição da Itambé Alimentos pelo grupo francês. Para ele, que falou pela primeira vez sobre o assunto, a concorrente baseia as ações contra a operação em um pretexto "fútil" e criou um clima de "incerteza" para "queimar" a Itambé.
Quando foi adquirida do grupo J&F pela Lala, em agosto de 2017, a Vigor detinha 50% da Itambé e os mexicanos queriam o controle das duas empresas. No entanto, a outra sócia da Itambé, a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), exerceu o direito de preferência, comprou a participação de 50% da Vigor em 4 de dezembro e no dia seguinte anunciou a venda de 100% da empresa mineira à Lactalis.
A Lala, por meio da Vigor, contestou a operação, e agora o caso está na Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), depois que o desembargador César Ciampolini validou a compra da participação pela cooperativa mineira e a venda da Itambé para a Lactalis, mas impediu a francesa de exercer os direitos de acionista até a decisão da câmara arbitral. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a operação.
Para Sauvageot, que participou ontem da inauguração de duas novas linhas de produtos da fábrica da Lactalis em Teutônia (RS), como a Lala não conseguiu assumir o controle da Itambé, decidiu "fazer um barulho negativo" para desencorajar os bancos a emprestarem dinheiro para a empresa e estender a ação judicial "o maior tempo possível".
Para ele, a situação criada pela Lala, por meio da Vigor, "não é razoável". De acordo com o executivo, a mexicana espalhou "mentiras" ao longo do processo, como a que teria preferência sobre o direito de preferência da CCPR e que a Lactalis e a Itambé, juntas, provocariam um ato de concentração ao assumir 28% do mercado de captação de leite no Brasil. "Depois mostramos que nós e a Itambé captamos 8%", afirmou ele.
Segundo Sauvageot, o mercado brasileiro é o menos concentrado entre todos onde a Lactalis opera. "Os 15 primeiros chegam a menos de 30% e na maior parte dos mercados no mundo os quatro primeiros alcançam 70%", disse. Hoje a Lactalis recebe 1,6 bilhão de litros por ano e a Itambé, 1,1 bilhão de litros, ante um mercado total de 32 bilhões de litros. Com a aquisição, o total chegaria a 2,7 bilhões ou 2,8 bilhões de litros/ano e a francesa se tornaria a maior empresa do setor no país, à frente da Nestlé, que captou 1,7 bilhão de litros em 2017.
Sauvageot classificou como "mentira" os rumores de que a francesa teria ajudado a CCPR a comprar a parte da Vigor na Itambé. Questionado pelos jornalistas, disse que "a pergunta de onde vem o dinheiro é irrelevante, mas se você achar que é muito importante, tem que fazer à CCPR, pois nós não temos a resposta". Ele negou ainda que a Lactalis teria ferido o acordo de confidencialidade (NDA) assinado quando disputou o controle da Vigor, antes de comprar a Itambé. Segundo o executivo, a cláusula valia somente até a conclusão do negócio, vencido pela Lala.
O presidente da Lactalis para a América Latina não confirmou o valor da negociação com a Itambé, estimado em R$ 1,9 bilhão, nem que qualquer pagamento tenha sido feito até agora para a CCPR, porque a operação foi conduzida pelo departamento de fusões e aquisições diretamente da França. Ele disse também que a empresa tem o objetivo de ser a "número um" do setor no país e não vê possibilidade de que o negócio seja desfeito porque tem "muita confiança que a Justiça irá aclarar as coisas".
Segundo Sauvageot, o interesse pela aquisição "é evidente" devido a complementaridades geográficas e de portfólio entre as duas empresas. A Lactalis, explicou, é forte no Sul enquanto a Itambé tem força em Minas Gerais e no Nordeste e peso importante no segmento de leite em pó, que a Lactalis "quase não produz". Com a aquisição, a Lactalis também atinge um faturamento próximo de R$ 6 bilhões no Brasil, quatro anos depois de chegar ao país com a compra da Balkis.
As novas linhas inauguradas ontem pela companhia francesa no Rio Grande do Sul demandaram investimentos de R$ 70 milhões. Uma delas terá capacidade para produzir 90 milhões de litros por ano de leite UHT das marcas Parmalat e Elegê em garrafas PET e outra para pouco mais de 500 toneladas mensais de manteiga Président Gastronomique, até então importada da França.
A Lactalis tem 15 unidades e 4 mil funcionários em todo o Brasil. Só no Rio Grande do Sul são 1,7 mil empregados e cinco fábricas, nos municípios de Teutônia, Três de Maio, Ijuí, Santa Rosa e Fazenda Vilanova (Assessoria de Comunicação, 1/3/18)
Na Justiça, briga chega ao ‘empate’
O julgamento dos recursos apresentados por Itambé Alimentos e Vigor à Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, na disputa envolvendo a venda da Itambé à francesa Lactalis, foi suspenso novamente ontem. Dessa vez, quem pediu vista foi o desembargador Marcelo Fortes Barbosa.
Ontem, o desembargador Alexandre Alves Lazzarini, que havia pedido vista na sessão da semana passada, posicionou-se de forma parcialmente favorável à Vigor, controlada pela Lala, e entendeu que as ações da Itambé não podem ser transferidas para a Lactalis, conforme fontes a par do processo.
Em janeiro, o desembargador César Ciampolini validou a recompra de 50% da Itambé pela Cooperativa Central dos Produtores de Minas Gerais (CCPR) da Vigor e a posterior venda de 100% das ações da Itambé à Lactalis, definindo, no entanto, que a empresa francesa não poderá exercer os direitos de acionista até decisão da Câmara de Arbitragem Brasil-Canadá sobre a validade do negócio.
Então, a Vigor entrou com agravo contra a decisão de Ciampolini de validar as operações, por considerar que o negócio fere o acordo de acionistas que ela e CCPR tinham na Itambé.
Já a Itambé tenta reverter a decisão de Ciampolini que impede a Lactalis de exercer os direitos de acionista. No dia 5 de fevereiro, interpôs agravo interno na Câmara de Direito Empresarial solicitando que a decisão seja reconsiderada. Na semana passada, Ciampolini confirmou, na câmara, a decisão que havia apresentado em janeiro, na segunda instância da Justiça.
Agora, a palavra final sobre os recursos está com o desembargador Marcelo Fortes Barbosa. O julgamento deve ser retomado na próxima quarta-feira (Assessoria de Comunicação, 1/3/18)